Deputados da oposição no Brasil enviaram nesta noite carta ao embaixador americano em Brasília, Todd Chapman, para questionar a entrada do ex-ministro Abraham Weintraub nos Estados Unidos no último sábado, dia 20. "Ficamos preocupados que Abraham Weintraub tenha sido admitido nos EUA sob falsas pretensões para se esquivar do inquérito sobre suas ações e que agora ele resida nos EUA fora do status regular", diz o documento. Os parlamentares pedem que a embaixada americana e o Departamento de Estado dos EUA "clarifiquem as condições em que foi cedida a entrada de Weintraub" e "em qual status ele permanece no país, tendo em vista que não mais representa o governo brasileiro, nem qualquer órgão internacional".
"Devido às restrições de viagem que, por causa da covid-19, banem a entrada de cidadãos não americanos vindos do Brasil, e considerando o momento da exoneração de Weintraub e a pressa do governo Bolsonaro em mudar a data registrada 'post facto', somos levados a crer que Weintraub entrou nos Estados Unidos da América com um passaporte e visto diplomático. Isso também nos leva a questionar a possibilidade de Weintraub ter viajado aos Estados Unidos a fim de evitar a investigação criminal na qual foi incluído conforme decisão do Supremo Tribunal Federal no dia 19 de junho", afirmam os deputados.
A carta é assinada pelos líderes na Câmara do PT, Enio Verri (PR), do PCdoB, Perpétua Almeida (AC), do PSOL, Ivan Valente (SP), do PSB, Alessandro Molon (RJ), do PDT, Wolney Queiroz (PE) da Rede, Joenia Wapichana (RR), e os líderes da Minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e no Congresso, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), e o líder da Oposição na Casa, André Figueiredo (PDT-CE), além de outros parlamentares.
Fontes próximas ao ex-ministro afirmam que Weintraub teria entrado nos EUA com o visto G-1 - específico para representantes estrangeiros que trabalham em organismos internacionais, como o Banco Mundial. Os governos brasileiro e americano não confirmam qual permissão de entrada foi usada por Weintraub para chegar aos EUA. Não está claro como o ex-ministro entrou no país usando prerrogativas de ministro de Estado ou não. Os americanos impuseram restrições à chegada de viajantes que estão no Brasil em razão do coronavírus, mas o visto G-1 é um dos que está na lista de exceções e cuja entrada é permitida.
Antes de começar a trabalhar na instituição, no entanto, o nome de Weintraub precisa passar por uma eleição dentro do grupo que irá representar com a diretoria executiva para a qual foi indicado. O Estadão questionou o Banco Mundial se Weintraub já estaria habilitado a solicitar o visto específico para trabalhar na instituição mesmo antes da eleição. A instituição informou que questões sobre vistos devem ser direcionadas ao Departamento de Estado.
O Departamento de Estado americano, por sua vez, informou que os registros sobre visto são confidenciais e que o governo não discute situações individuais. Sobre a entrada no país a despeito das restrições impostas a viajantes vindos do Brasil, a diplomacia americana respondeu que essa questão é tratada pelo Departamento de Segurança Interna - que também disse não comentar situações individuais.
Weintraub não tem, até o momento, qualquer vínculo com o Banco Mundial, mas a indicação feita pelo Ministério da Economia para o cargo poderia ser usada pelo ex-ministro para solicitar o visto junto à embaixada americana em Brasília. Integrantes do governo têm se incomodado com a "confusão" causada por Weintraub - que não esclarece como chegou nos EUA.
A embaixada do Brasil em Washington foi questionada pelo Estadão sobre onde o ex-ministro está e se houve algum contato com o governo americano para esclarecer a situação de entrada e permanência nos EUA. A assessoria de comunicação da chancelaria brasileira na capital dos EUA afirmou que "o trabalho do representante do Brasil junto ao Banco Mundial não se confunde com a esfera de atuação da Embaixada do Brasil em Washington". "Não dispomos de informações sobre sua entrada ou permanência nos EUA", informou a assessoria da embaixada. Weintraub não fez contato com a embaixada para pedir apoio logístico na chegada no país, um procedimento que muitos ministros costumam solicitar.
Para ser confirmado no cargo de diretor executivo, o nome de Weintraub precisa passar por uma eleição entre os membros do grupo do qual o Brasil faz parte dentro do banco, o que pode levar cerca de um mês. A eleição é considerada meramente protocolar, pois há um acordo informal de que o País sempre indicará o diretor, já que é o maior acionista dentro do grupo. Como o Brasil tem mais de 50% do poder de voto da chamada "constituency", grupo com outras oito nações, o País consegue eleger o diretor executivo ainda que os demais se oponham. O grupo é composto ainda por Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas, Suriname e Trinidad e Tobago. Se eleito, ele vai servir até 31 de outubro de 2020, quando será necessário nova nomeação e eleição.