Atos de vandalismo em Brasília desqualificaram Bolsonaro como fonte de esperança. Empresários e investidores estão se acertando com Lula - mesmo que ainda não estejam entusiasmados com seus planos para a economia.No dia seguinte aos ataques golpistas em Brasília, imperava uma normalidade surpreendente no mercado financeiro brasileiro: tudo permanecia calmo. A Bolsa chegou a ter alta, não houve fuga de capital nem sinal de pânico - apesar de a democracia da maior economia da América Latina ter sido colocada em jogo no fim de semana.
Há duas explicações para a reação em grande parte neutra dos investidores: por um lado, eles avaliam como baixo o potencial de ameaça dos extremistas de direita. Após hesitação inicial, a polícia conseguiu expulsar os invasores rapidamente e sem grandes incidentes. O Judiciário reagiu de forma clara. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não hesitou em chamar à responsabilidade os militares e ministros envolvidos.
Por outro lado, as principais entidades brasileiras da indústria, bancos e corporações condenaram unanimemente os atos violentos em Brasília - embora alguns desses grupos tenham demonstrado grande simpatia por Bolsonaro no passado e não considerassem Lula o candidato dos sonhos.
Mesmo a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, que normalmente se abstém de fazer qualquer declaração política, deixou isso claro no dia seguinte: "Como representantes oficiais da economia alemã no Brasil, entendemos que o diálogo e o desenvolvimento de negócios entre as duas nações só são possíveis enquanto prevalece a democracia, o respeito mútuo e a cooperação."
Se você conversar com empresários que votaram em Bolsonaro, notará que alguns deles mudaram de opinião: os violentos ataques em Brasília desqualificaram completamente Bolsonaro como fonte de esperança também para o empresariado. Depois do comportamento deplorável do ex-presidente após a derrota eleitoral, a questão sobre a entrega do cargo, e agora os atos golpistas, quase nenhum empresário ainda vê Bolsonaro com potencial para ser uma alternativa política futura.
Efeito paradoxal
Empresários e investidores estão se acertando com Lula - mesmo que ainda não estejam entusiasmados com seus planos para a economia. Eles continuam preocupados com os primeiros sinais do presidente no setor econômico. O ex-sindicalista quer usar os velhos e desgastados instrumentos da política econômica: o Estado estará no centro da economia. Os déficits fiscais crescentes devem ser financiados por meio de dívidas públicas. Em termos de política industrial, o governo quer reavivar indústrias como a do petróleo e do gás - o que já falhou antes e resultou em um escândalo de corrupção gigantesco.
Porém, pouco antes de tomar posse, Lula começou a acenar ao empresariado: após as primeiras reações negativas do mercado à nomeação do petista Fernando Haddad como ministro da Fazenda, ele colocou dois conservadores à frente das pastas do Planejamento e Orçamento e da Indústria e Comércio (Simone Tebet e o vice-presidente Geraldo Alckmin, respectivamente). Até o agronegócio, grande apoiador de Bolsonaro, também está satisfeito com Carlos Fávaro como ministro da Agricultura.
Os ataques ou atos de sabotagem a estações de transmissão da rede elétrica ou refinarias da Petrobras, supostamente perpetrados por partidários de Bolsonaro revoltados, só farão a economia se solidarizar ainda mais com o novo governo.
Resumindo: os atos golpistas em Brasília tiveram o efeito paradoxal de fazer com que os empresários comecem a se aproximar de Lula.
____________
Há 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do jornal econômico Handelsblatt e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.