Um engenheiro de 33 anos foi libertado de um cativeiro pela Polícia Civil nesta quarta-feira, 5, ao ser vítima do chamado "golpe do amor", modalidade em que criminosos marcam falsos encontros por aplicativo de relacionamento para sequestrar os alvos após emboscadas.
Ele foi mantido 24 horas como refém em um cativeiro em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Um suspeito foi preso no local.
O caso se soma a outros com o mesmo perfil ocorridos nas últimas semanas. Para o delegado Tarcio Severo, titular da 3ª delegacia da divisão antissequestro do Departamento de Operações Especiais (Dope), a percepção é que crimes desse tipo estão em alta.
Golpe recorrente
No mês passado, o assessor de investimentos Vinícius Cussolin, de 38 anos, conheceu uma mulher por meio de um aplicativo de relacionamento e, por precaução, chegou até a fazer chamadas de vídeo para conversarem melhor.
"Vi que realmente era a pessoa da foto, ela passou o endereço e a gente resolveu se encontrar", conta. Ao chegar para buscá-la no Jaraguá, na zona norte da cidade, ela estava com uma amiga e pediu que ele dirigisse por algumas ruas para buscar outra pessoa para irem juntos a um bar.
Próximo ao novo destino, Vinícius saiu do carro com as duas e se deparou com uma emboscada. Um grupo de sequestradores o ameaçou com armas de fogo e o colocou em um outro carro. "Amarraram meus pés e me encapuzaram", disse.
Ele conta ter sido levado para um cativeiro que, acredita, não ficava longe da região. "Ficaram com meu celular e pegaram todas as senhas, fizeram até reconhecimento facial (para destravar o aparelho) enquanto eu estava amarrado."
Vinícius permaneceu no cativeiro por 48 horas. O prejuízo total, entre as movimentações bancárias e o roubo do carro, foi de cerca de R$ 180 mil. Quando já não havia mais dinheiro para desviar, os sequestradores colocaram a vítima, novamente encapuzada, em um carro. Ao chegar em um matagal, o soltaram e o orientaram a andar sem que olhasse para trás.
"Depois de passar por um córrego, dei de cara com um muro. Consegui pular e caí no acostamento da Rodovia dos Bandeirantes", relembra.
Naquele momento, 1h da madrugada, Vinícius conta ter caído no choro quando viu que a situação finalmente estava próxima do fim. Fez sinal para os carros pararem, mas não foi atendido. Ele conseguiu acionar o resgate ao localizar um telefone da concessionária da rodovia.
A vítima, então, foi levada para uma delegacia e entrou em contato com a família. Depois, de lá mesmo, começou a ligar para os bancos. Vinícius disse ter conseguido recuperar parte do montante desviado, mas não tudo. Recentemente, fez postagens nas redes sociais cobrando o reembolso de R$ 47 mil do banco Santander, dívida feita em um cartão de crédito que mal usava. O valor ainda não foi recuperado.
"Não quero ganhar nada, só quero não ter que pagar uma dívida que o bandido fez com uma arma na minha cabeça. Durante o sequestro, eles colocavam a arma no meu joelho e falavam que, a cada senha errada, iam dar um tiro", diz. O caso foi registrado como roubo, extorsão, sequestro e cárcere privado pelo 33º Distrito Policial (Pirituba).
Procurado, o Santander informou, em nota, que o "caso em questão se trata de um golpe praticado por terceiros seguido de sequestro, portanto um tema de segurança pública". "As transações foram realizadas mediante cartão de crédito (chip e senha). A instituição está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações", acrescentou.