Após mudar seu discurso sobre o uso de máscaras, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (21) que a epidemia de covid-19 deve piorar no país e pediu aos americanos que usem a proteção facial e respeitem o distanciamento social. As declarações foram feitas na primeira coletiva de imprensa para informar sobre a situação do coronavírus nos EUA realizada depois de três meses de suspensão do evento.
A crise do coronavírus no país "vai, provavelmente, infelizmente, piorar antes de melhorar". "É algo que não gosto de dizer, mas é assim que as coisas são, é o que temos", afirmou Trump na Casa Branca, em Washington. Essa foi uma das primeiras vezes nos últimos meses que o presidente reconheceu a gravidade da situação no país.
Inicialmente, Trump subestimou o coronavírus e minimizou a doença. Apesar do aumento dos casos, nos últimos meses, ele vinha defendendo a reabertura da economia e se recusava a usar máscara em público. Essa medida de proteção contra a covid-19 se tornou uma questão partidária, com muitos apoiadores de Trump alegando que a obrigatoriedade do uso de máscaras violaria a liberdade individual.
Com a explosão dos casos em todo o país, incluindo em estados politicamente importantes, como Flórida, Texas e Arizona, o presidente tem mudado seu tom sobre a epidemia para tentar controlar o avanço do surto enquanto luta pela reeleição contra o democrata Joe Biden, que lidera as pesquisas de intenção de voto.
"Estamos pedindo a todos que usem máscara se não for possível manter o distanciamento social. Se você gosta ou não da máscara, elas terão um impacto, terão um efeito e precisamos de tudo o que pudermos conseguir", ressaltou Trump.
O presidente também afirmou que estava se acostumando com a máscara e disse que a usaria "com prazer" quando estivesse com outras pessoas ou no elevador. "Qualquer coisa que possa potencialmente ajudar é boa."
Trump pediu ainda que os jovens evitem bares lotados, onde o vírus pode se espalhar. "Colocaremos um fim muito rápido à doença com tratamentos terapêuticos e com uma vacina. O vírus vai desaparecer, desaparecerá", acrescentou, destacando que a responsabilidade da situação sanitária é partilhada entre ele e os governadores.
Sem a presença de especialistas e de integrantes da força-tarefa da Casa Branca contra o coronavírus, a coletiva, que contou apenas com Trump, representa uma mudança na estratégia do presidente, que vinha elogiando governadores republicanos que focaram na reabertura da economia e criticando democratas que adotaram duras medidas restritivas para conter o avanço da covid-19 em seus estados.
Essa mudança de tom ocorre ainda em meio à tensão entre o presidente e integrantes da força-tarefa sobre a melhor maneira para combater a pandemia. Especialistas do governo criticam a maneira como as suas recomendações vêm sendo ignoradas.
A reabertura em alguns estados americanos foi rápida demais, levando à explosão de casos e ao aumento no número de mortes. Seguindo Trump, alguns governadores republicanos também se opuseram ao uso de máscaras.
Fontes próximas ao presidente disseram que ele temia que a proteção o fizesse parecer fraco e que desviasse o foco para a crise de saúde pública e não para a recuperação econômica, segundo a agência de notícias AP.
O número de casos nos Estados Unidos chegou a 3,9 milhões nesta quarta-feira, e o de mortes, a 142 mil, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.
Embora Flórida, Texas e Califórnia sejam agora os estados que contabilizam mais contágios por dia, Nova York ainda é o que tem os piores números da pandemia, com 408.181 casos e 32.520 mortes, das quais 23.424 ocorreram na cidade de Nova York.
O segundo estado com mais mortes pela doença é Nova Jersey, com 15.737, seguido por Massachusetts (8.450), Califórnia (7.890), Illinois (7.517), Pensilvânia (7.051), Michigan (6.382), Flórida (5.206) e Connecticut (4.406).
Em relação a contágios, a Califórnia está atrás apenas de Nova York, com 404.848 casos, e a Flórida aparece em terceiro, com 369.834.
O total de mortes já ultrapassou de longe a mais baixa das estimativas iniciais da Casa Branca, que projetava de 100 mil a 240 mil óbitos por covid-19. Trump chegou a dizer que o número total de óbitos ficaria entre 50 mil e 60 mil, e depois elevou a estimativa para 110 mil.
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