Ao comentar os problemas enfrentados para obter apoio no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro disse que já deu muitas "caneladas" na vida, mas não considera necessário viver se desculpando por isso. Um dia depois de se reunir com presidentes de partidos e pedir ajuda para votar a reforma da Previdência, Bolsonaro afirmou que iniciará uma nova etapa no relacionamento com deputados e senadores. Fez questão de negar, porém, a distribuição de cargos em troca de votos.
"Faz 28 anos que dou caneladas", disse ele, em referência ao período em que permaneceu na Câmara como deputado. "Eu fazia xixi na cama até os cinco anos. Vou ter de me arrepender disso também?", perguntou, em tom de brincadeira, durante café da manhã com diretores de jornais e repórteres de TV, no Palácio do Planalto. O Estado estava entre os convidados.
Na noite de quinta-feira, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia afirmado que Bolsonaro se desculpara com dirigentes dos partidos por "caneladas" dadas nos últimos dias. Houve, por exemplo, um embate público entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O que mais tem irritado os congressistas é o fato de Bolsonaro falar em "velha política", associando negociações a irregularidades e corrupção.
Ao lado de Onyx e dos ministros Sérgio Moro (Justiça) e Augusto Heleno Ribeiro (Gabinete de Segurança Institucional), Bolsonaro afirmou que não se falou a palavra "cargo" durante os encontros mantidos nesta quinta-feira com presidentes de partidos, no Planalto.
"O vice falou algo nesse sentido. Matei no peito. Tudo bem", disse Bolsonaro. Na quarta-feira, um dia antes de o presidente se reunir com dirigentes de partidos, o vice-presidente Hamilton Mourão havia afirmado que, a partir do momento em que as legendas concordam com propostas do governo, "é óbvio" que terão algum tipo de participação na equipe, seja em cargos no Estados ou algum ministério.
No café com jornalistas, Bolsonaro disse que o governo vai costurar apoio por projetos na Câmara e no Senado, sem toma lá, dá cá.
"Não temos, com exceção da Previdência, a intenção de forçar a barra no Congresso", argumentou. O presidente contou que alguns dirigentes de partidos reclamaram do fato de não terem retorno de ministros e dos bancos públicos, mas disse que se trata de uma situação fácil de ser resolvida.
Questionado sobre o fogo amigo no governo, Bolsonaro admitiu "caneladas internas" e disse ter pedido a ministros que não deem respostas apressadas, para não provocar mal-entendidos. / Colaboraram Vera Rosa e Adriana Fernandes