A leitura da sentença contra Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes marcou o encerramento de um julgamento intenso, carregado de fortes emoções, nesta quinta-feira, 31. A família de Marielle estava na primeira fila do plenário, com o pai, a mãe, a irmã Anielle, e sua filha, Luiara, acompanhados de figuras próximas como Marcelo Freixo e Mônica Benício, além da esposa de Anderson, Ágatha Arnaus. O momento da sentença foi marcado por lágrimas, abraços e consolo, especialmente entre Ágatha e Mônica, que não conseguiu conter a emoção ao ouvir a decisão que condenou os réus confessos.
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Ronnie Lessa, ex-policial militar e autor dos disparos que tiraram a vida da vereadora e do motorista, foi condenado a 78 anos e 9 meses de prisão. Já Élcio Queiroz, que conduziu o veículo usado no crime, recebeu a sentença de 59 anos e 8 meses. Ambos foram condenados por duplo homicídio triplamente qualificado e tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado.
A condenação foi recebida com aplausos no plenário.
No primeiro dia de julgamento, testemunhas como a própria Fernanda Chaves e familiares das vítimas prestaram depoimentos emocionantes. A sobrevivente do atentado relembrou o momento dos disparos, descrevendo o instante em que sentiu o peso do corpo de Marielle sobre si.
Os réus, por outro lado, demonstraram frieza em suas falas; Lessa admitiu ter cometido os crimes, justificando que Marielle era um obstáculo para seus mandantes. Em um momento de aparente arrependimento, ele pediu desculpas aos familiares das vítimas, mas a acusação rapidamente colocou em dúvida a sinceridade desse gesto, acusando-o de utilizar o pedido como estratégia para redução de pena.
A segunda etapa do julgamento seguiu com argumentações e réplicas. O Ministério Público do Rio de Janeiro sustentou que a condenação dos réus não se baseava apenas na confissão, apresentando provas documentais e digitais, como o histórico de buscas de Ronnie Lessa e o uso de um equipamento bloqueador de sinais, que dificultou o rastreamento da localização no dia do crime.
A acusação também destacou a falta de empatia dos réus, que, segundo o promotor, agiram sem arrependimento verdadeiro. "Que arrependimento é esse que se pede algo em troca?", questionou.
No período da tarde, a defesa de Lessa e Élcio apresentou seus argumentos, optando por uma defesa mais curta e focada em pedir uma pena que considerassem "justa", ressaltando que o crime não foi motivado politicamente, mas por interesses financeiros.
A sessão teve uma pausa para o almoço, retornando à tarde para a réplica do Ministério Público e a tréplica dos advogados de defesa. Ao fim das argumentações, às 16h50, a juíza Lúcia Glioche convocou os jurados para deliberar em sessão secreta.
O júri foi composto por sete homens brancos, resultado de um processo de seleção que inicialmente contava com 21 pessoas comuns, sendo 12 mulheres. A defesa de Lessa, exercendo o direito de veto, dispensou as únicas duas mulheres sorteadas, resultando em uma composição exclusivamente masculina e branca.
"Este é apenas um primeiro passo, mas muito significativo diante de tudo que passamos até aqui. Foram 6 anos, 7 meses e 17 dias até que esse momento chegasse. Transformamos o luto em luta e não ficamos um dia sequer sem honrar o compromisso de buscar incansavelmente justiça por Marielle e Anderson. Por você, Mari. Por você, Anderson. Nos mantivemos de pé e jamais recuaremos", afirmou o Instituto Mareielle Franco, criado em memória à vereadora.