O presidente Jair Bolsonaro desembarca nesta quarta-feira, 15, nos Estados Unidos, pela segunda vez em menos de dois meses. Ao contrário da primeira visita, a viagem desta semana foi articulada às pressas. Bolsonaro visita a cidade de Dallas, no Texas, depois de ter cancelado a participação em Nova York onde receberia nesta terça-feira, 14, o prêmio de personalidade do ano concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. A controvérsia em torno do prêmio e boicotes estimulados pelo prefeito da cidade, Bill de Blasio, fizeram o Itamaraty e Planalto mudarem de rumo e organizarem uma ida ao estado americano conservador.
O governo anunciou que Bolsonaro será homenageado em Dallas. A cerimônia em Nova York, contudo, continuou acontecendo na noite de terça-feira sem a premiação principal, uma vez que a Câmara de Comércio organizou um jantar de gala para cerca de 1 mil empresários, investidores e autoridades, que esperavam ver um discurso de Bolsonaro. Com a perspectiva da ida de Bolsonaro, o evento em Nova York conseguiu vender três quartos das mesas em menos de 24 horas. Mas aqueles que desembolsaram mais de US$ 10 mil dólares com a intenção de encontrar o presidente brasileiro ficaram frustrados.
Em Dallas, Bolsonaro será recebido na quinta-feira para um almoço com lideranças empresariais no World Affairs Council. O instituto foi consultado por interlocutores do presidente e aceitou receber o brasileiro, dividindo a recepção do evento com o Brazil-US Business Council - fórum no qual Bolsonaro esteve em Washington em março. Um representante da Câmara de Comércio irá viajar de Nova York a Dallas para discursar e entregar oficialmente o prêmio a Bolsonaro. O evento deve ter cerca de 100 pessoas, sem os ares de festa como o prêmio que aconteceu em Nova York.
O almoço não aparece na lista de eventos no site de nenhuma das suas instituições, que têm tratado do tema com discrição. Ativistas organizam manifestações contra a presença de Bolsonaro no Texas e prometem se reunir no local do evento na hora do almoço. Até agora, o evento convocando os protestos no Facebook tem 107 confirmados e diz que a manifestação é um sinal de apoio aos "oprimidos e marginalizados" no Brasil.
Bolsonaro vai se encontrar com George W. Bush
O prefeito de Dallas, Mike Rawlings, estará presente no evento. Na semana passada, o político afirmou ao Estado que não iria se opor à visita do brasileiro à cidade apesar de "discordar fortemente de algumas das posições declaradas do presidente Bolsonaro".
O presidente ficará menos de 48 horas nos Estados Unidos, que até agora têm dois compromissos oficiais anunciados: o almoço e um encontro com o ex-presidente George W. Bush. A reunião foi costurada com ajuda do ex-embaixador dos EUA no Brasil Clifford Sobel, que já esteve com Bolsonaro depois da eleição.
Em Nova York, coube ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, representarem o Brasil no jantar de personalidade do ano, diante da ausência da personalidade do ano. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estava na cidade mas preferiu não ir ao evento depois de o governo decidir boicotar a viagem de Nova York.
O Planalto não enviou ministros de Estado para representarem Bolsonaro. Antes de o presidente da República ser chamado de preconceituoso e perigoso por De Blasio e decidir cancelar a viagem à Nova York, os eventos sobre Brasil na cidade esperavam a presença de Paulo Guedes (Economia) e outros ministros do primeiro escalão.
De última hora, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sérgio Amaral, tentava escalar lideranças para dar peso ao evento. Um dos nomes cogitados foi o ex-prefeito de NY, Rudolph Giuliani, mas ele estava em viagem fora da cidade.
Além de Bolsonaro, a Câmara de Comércio homenageou também o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, número um da diplomacia americana. Todo ano, o prêmio escolhe um brasileiro e um americano para homenagear como "pessoa do ano". Pompeo também não participou do evento. Empresários esperavam ao menos Guedes, para um aceno sobre Brasil, mas o ministro da Economia vai acompanhar Bolsonaro em Dallas. A comitiva presidencial ao Texas inclui ainda Augusto Heleno (GSI), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Santos Cruz (Secretaria de Governo), deputados Hélio Lopes (PSL-RJ) e Marco Feliciano (Pode-SP), e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.