Fraude da vacina de Bolsonaro: Prints revelados pela PF mostram receio de Mauro Cid em ser descoberto

Representação da corporação, que embasou a Operação Venire, também apontou que envolvidos tinham "consciência" dos atos ilícitos praticados

5 mai 2023 - 07h25
O tentente-coronel Mauro Cid foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, um homem de confiança do ex-presidente
O tentente-coronel Mauro Cid foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, um homem de confiança do ex-presidente
Foto: Reprodução

A representação feita pela Polícia Federal (PF), que embasou a Operação Venire, deflagrada nesta quarta-feira, 3, apresenta prints de mensagens que indicam que o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, e os demais investigados tinham "consciência" dos atos ilícitos praticados, bem como estavam com receio de que o esquema de emissão fraudulenta de certificados de vacinação contra a Covid 19 no Ministério da Saúde fosse descoberto pelas autoridades policiais.

De acordo com a PF, foi em 22 de janeiro de 2021 que ocorreu a primeira tentativa de fraude. Na ocasião, Cid pediu ajuda a um sargento para obter o certificado de vacinação falso para a sua esposa, Gabriela Cid. O militar em questão é Luis Marcos dos Reis, ex-integrante da Ajudância de Ordens da Presidência.

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Foto: Reprodução: PF

A apuração indica que, em seguida, o sargento recorreu ao auxílio do sobrinho e médico, Farley Vinícius Alcântara, para realizar a empreitada. Conforme as mensagens obtidas, foi ele que conseguiu o documento forjado da Secretaria de Saúde do município de Cabeceiras, em Goiás. Para isso, Vinícius copiou os dados de vacinação de uma enfermeira registrada em uma unidade de saúde de Cabeceiras.

No entanto, as conversas interceptadas pela PF mostraram que Vinícius estava preocupado com o risco de uma possível "divergência" na inserção das informações. Isso porque, os lotes da vacina utilizados para a esposa de Cid tinham origem na cidade de Cabeceiras e não foram distribuídos para o Rio de Janeiro, onde foram feitas as primeiras tentativas de inserção dos dados no sistema do Ministério da Saúde.

Veja o print

Foto:

O certificado foi emitido, de forma fraudada, e enviado pelo sargento para o celular de Cid em 22 de novembro de 2021, segundo a investigação. O documento apontava que Gabriela foi vacinada com 2 doses da Pfizer.

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Divergência de informações

Agora com o cartão de vacinação em mãos, Cid procurou o sargento Eduardo Crespo para conseguir completar o objetivo de inserir os dados falsos da sua esposa no sistema ConecteSUS do Ministério da Saúde. Dessa maneira, Cid conseguiria obter o certificado de vacinação contra a COVID-19. 

De acordo com o portal da Transparência, na época em questão, o sargento Eduardo Crespo estava lotado no Rio de Janeiro.

Em uma nova conversa, dessa vez entre Crespo e Cid, foi mostrado que a preocupação de Vinícius sobre uma possível "divergência" se concretizou. No dia 24/11/2021, Crespo afirmou que estava tendo dificuldades para inserir os dados no sistema do Ministério da Saúde.

Segundo o militar, uma terceira pessoa, por ele designada, não conseguiu concluir a operação de inserção das informações, justamente porque o lote mencionado na carteira de vacinação da esposa de Cid não havia sido enviado para o Rio de Janeiro, o que gerou um erro no processo. 

Veja o print

Foto: Reprodução: PF

Preocupação em ser descoberto

Foi neste momento que, diante das dificuldades na inserção dos dados, Cid passou a se questionar sobre a fraude ser descoberta, já que ele e sua família nunca estiveram em Cabeceiras, segundo a investigação da PF. 

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Com receio de ser descoberto, o tenente acionou o advogado e militar da reserva Ailton Barros para realizar uma nova tentativa de fraude. Dessa vez, com o local de emissão do certificado de vacinação no Rio de Janeiro. 

Os investigadores indicam que foi o advogado que procurou o ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano para resolver o impasse.

Ao final do esquema, o cartão de vacinação falso da esposa de Cid foi emitido por uma unidade de saúde em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. De acordo com a Polícia Federal, a mudança do local de emissão do certificado de vacinação de Goiás para o Rio de Janeiro foi o que levantou suspeitas e desencadeou as investigações.

Plena consciência

Ao final da representação, a PF concluiu que Jair Bolsonaro e seu ajudante de ordens, Mauro Cid, tinham "plena ciência" da fraude no cartão de vacinação do ex-presidente. 

"Os elementos informativos colhidos demonstraram coerência lógica e temporal desde a inserção dos dados falsos no sistema SI-PNI até a geração dos certificados de vacinação contra a Covid-19, indicando que Jair Bolsonaro, Mauro César Cid e, possivelmente, Marcelo Costa Câmara tinham plena ciência de inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente."

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Por que Cid queria o comprovante de vacinação ? 

Cid tinha como objetivo obter um comprovante de vacinação para sua esposa, com o intuito de que ela pudesse viajar para os Estados Unidos em 21 de dezembro de 2022. Para realizar a viagem, era necessário apresentar o certificado de vacinação com as duas doses da vacina contra a COVID-19.

Operação Venire

A PF fez buscas na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro na manhã da última quarta-feira, 3, no âmbito da Operação Venire, que prendeu o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-chefe do Executivo. O foco da operação da PF é sobre a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.

Batizada Venire, a ofensiva cumpre mais cinco mandados de prisão preventiva e vasculha 16 endereços em Brasília e no Rio de Janeiro. As ordens foram expedidas no bojo do inquérito das milícias digitais, que tramita sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a PF, as inserções falsas sob suspeita se deram, entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, e "tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários".

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A corporação indica que, com a alteração, foi possível a emissão de certificados de vacinação com seu respectivo uso para burla de restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia.

"A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19", indica a PF.

Fonte: Redação Terra
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