Presidente ucraniano se prepara para viajar a Hiroshima, enquanto líderes das maiores economias em democracias liberais anunciam sanções ainda mais duras contra Moscou, visando sufocar a máquina de guerra russa.O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, vai participar pessoalmente da cúpula do G7 em Hiroshima, no Japão, disseram autoridades ucranianas e ocidentais nesta sexta-feira (19/05). No mesmo dia, o grupo das maiores economias do mundo em democracias liberais anunciou novas sanções contra a Rússia, elevando a pressão sobre Moscou no cenário de uma cidade que é símbolo dos horrores da guerra nuclear.
A viagem surpresa de Zelenski será a primeira dele à Ásia desde o início da guerra promovida pelas russos, bem como a mais distante de seu país. Ela dará ao ucraniano a oportunidade de encontrar aliados importantes, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e líderes de potências que não integram o G7 mas foram convidados, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Após uma viagem recente pela Europa, espera-se que Zelenski pressione mais uma vez a demanda de Kiev por caças modernos fabricados nos EUA, entre outras questões.
"Tínhamos certeza que nosso presidente estaria onde a Ucrânia precisasse dele, em qualquer parte do mundo, para resolver a questão da estabilidade de nosso país", afirmou Oleksiy Danilov, secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, ao confirmar a presença de Zelenski na cúpula em rede nacional.
"Assuntos muito importantes serão decididos lá, então a presença física é uma coisa crucial para defender nossos interesses", completou. Até então, esperava-se que Zelenski participasse da reunião por meio de uma videochamada no domingo.
Ele deve chegar ao Japão no sábado à noite, segundo uma fonte envolvida com o assunto que não quis se identificar. A Casa Branca se recusou a comentar.
Sanções mais duras
A presença do líder ucraniano na cúpula do G7 e seus insistentes apelos por mais apoio na guerra com a Rússia devem adicionar urgência às decisões, enquanto os líderes do grupo - composto por EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Canadá e Itália - buscam reprimir uma suposta evasão das sanções por Moscou.
A Alemanha, por exemplo, viu suas exportações para países que fazem fronteira com a Rússia aumentarem no primeiro trimestre, alimentando preocupações de que reexportações dessas nações vizinhas estejam ajudando a Rússia a contornar as sanções.
A invasão da Ucrânia ordenada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em fevereiro do ano passado, desencadeou ondas de sanções internacionais que ajudaram a mergulhar a Rússia numa recessão.
Durante o encontro em Hiroshima, os países do G7 devem apertar ainda mais a pressão sobre Moscou, fortalecendo sanções existentes, fechando brechas e sujeitando mais empresas russas e seus parceiros internacionais a restrições punitivas.
Nesta sexta-feira, logo no início da cúpula, os líderes anunciaram que concordaram com novas sanções que, segundo eles, "deixarão a Rússia sem tecnologia, equipamentos industriais e serviços do G7 que apoiam a sua máquina de guerra".
As medidas incluem restrições às exportações de itens "críticos para a Rússia no campo de batalha", bem como às entidades acusadas de transportar material para o front a pedido de Moscou.
Em uma declaração conjunta, o grupo disse ainda que garantiu que a Ucrânia terá o apoio orçamentário necessário para este ano e o início de 2024, enquanto renovou seu compromisso de fornecer ajuda militar e financeira em sua luta contra a Rússia.
"Hoje estamos tomando novas medidas para garantir que a agressão ilegal da Rússia contra o Estado soberano da Ucrânia fracasse e para apoiar o povo ucraniano em sua busca por uma paz justa enraizada no respeito pelas leis internacionais", afirmaram os líderes no comunicado.
Os membros do G7 disseram ainda que estão em contato com outras nações para evitar o fluxo de seus produtos e tecnologia para a Rússia através de países terceiros.
Reino Unido proíbe diamantes
Enquanto o G7 analisa como sufocar coletivamente o comércio anual de diamantes da Rússia - inclusive por meio de métodos de rastreamento de alta tecnologia -, o Reino Unido anunciou suas próprias sanções mais cedo nesta sexta-feira, que incluem a proibição de importação de diamantes, cobre, alumínio e níquel, numa tentativa de reduzir a capacidade de Moscou de financiar a guerra.
Estima-se que o comércio de diamantes da Rússia renda entre 4 e 5 bilhões de dólares por ano, gerando receitas fiscais muito necessárias para o Kremlin.
Londres anunciou também sanções contra mais entidades envolvidas no "complexo industrial militar" de Moscou. Ao todo, foram congelados os bens de outras 86 pessoas e organizações. Isso inclui "empresas ligadas ao roubo de grãos ucranianos e aquelas envolvidas no transporte de energia russa", disse o Ministério do Exterior britânico.
Em entrevista à emissora Sky News nesta sexta, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, afirmou que sua mensagem direta para Putin é: "Não vamos embora."
"Um dos tópicos de conversa que terei e tenho tido com meus colegas líderes é sobre os acordos de segurança de longo prazo para a Ucrânia impedir futuras agressões russas", disse o premiê.
Ainda nesta sexta, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que o bloco também terá como alvo o lucrativo comércio de diamantes russos, que, segundo ele, "não é para sempre".
A Bélgica, membro da União Europeia, está entre os maiores compradores atacadistas de diamantes russos, juntamente com a Índia e os Emirados Árabes Unidos. Já os Estados Unidos são um importante mercado final para o produto acabado.
Cerimônia em Hiroshima
A cúpula de três dias começou nesta sexta-feira com uma cerimônia em memória dos mortos pela bomba atômica lançada sobre Hiroshima pelos Estados Unidos em 6 de agosto de 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial.
Os chefes de Estado e de governo presentes visitaram o memorial às vítimas, depositando coroas de flores entregues a eles por crianças japonesas em um cenotáfio no Parque Memorial da Paz da cidade japonesa.
O ataque americano devastou Hiroshima, matando cerca de 70 mil pessoas imediatamente e outras 70 mil a 80 mil nos meses seguintes.
Uma segunda bomba foi lançada sobre Nagasaki três dias depois. Os bombardeios marcaram o primeiro e único uso de armas nucleares no mundo.
ek/bl (AFP, Reuters, AP, DPA)