O jornalista Glenn Greenwald classificou, nesta terça-feira, 25, em audiência na Câmara dos Deputados, como conluio a suposta troca de mensagens entre o ex-juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça, e o procurador Deltan Dallagnol em processos da Operação Lava Jato, revelados pelo site The Intercept Brasil.
A presença do jornalista no Congresso transformou-se em palco para a oposição atacar Moro e pedir a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parlamentares da base do governo insinuaram que Glenn deveria ser preso por "colaborar" com o suposto hacker.
"Quem deveria ser julgado e sair daqui preso pelo crime teria que ser o jornalista que cometeu um crime com o hacker", afirmou a deputada federal Katia Sastre (PL-SP).
"Se eu tivesse o mínimo envolvimento nesse crime, eu poderia pegar o voo e ir embora e continuar reportando lá fora. Não faço porque sei que vossa excelência está acusando sem nenhuma prova e que neste País há liberdade de imprensa garantida pela Constituição", afirmou o jornalista.
A base do governo chegou a tentar esvaziar a audiência, mas mudou de estratégia após o jornalista, durante a sua fala inicial, provocar os governistas afirmando que estava "decepcionado" por não ter "nenhum deputado do partido do presidente" presente para debater.
A audiência ocorre após o site divulgar supostas conversas mantidas em aplicativos de mensagens pelo ex-juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, com procuradores da Lava Jato entre 2015 e 2018. Em entrevista ao Estado, na semana passada, o ministro disse não reconhecer a autenticidade das mensagens.
Glenn Greenwald defendeu o sigilo da fonte como um fator inalienável e criticou o comportamento do ministro quando era o juiz dos casos relativos à Lava Jato em Curitiba. O jornalista disse que "é impossível o combate à corrupção com comportamento corrupto" e que, em outros países, o ministro iria sofrer sanções.
"Nos Estados Unidos, é impensável um juiz fazer o que foi feito. Se um juiz fizer uma vez o que Sérgio Moro fez durante cinco anos, vai sofrer muita punição", afirmou o fundador do The Intercept. O jornalista se queixou ainda no início da sessão da tentativa dos adversários de desqualificar o trabalho dele chamando-o, de forma pejorativa, de estrangeiro.