BRASÍLIA - Com a imagem do Brasil desgastada no exterior pela política ambiental e por passos em falso no enfrentamento à pandemia do coronavírus, o governo Jair Bolsonaro planeja recriar a TV Brasil Internacional. A programação do canal será voltada ao público estrangeiro no momento em que o País enfrenta uma crise de credibilidade que ultrapassa a fronteira doméstica.
Uma das ideias do ministro das Comunicações, Fábio Faria, é tornar disponível o conteúdo da TV Brasil Internacional pelo serviço de streaming, para ser acessado por smartphones, tablets e televisões ligados à internet, além de usar programas já realizados pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
As críticas da imprensa e organismos estrangeiros incomodam o governo, para quem as notícias não correspondem à realidade. No encontro da Cúpula do Mercosul, realizado na quinta-feira, 2, por videoconferência, Bolsonaro afirmou que buscará um esforço para "desfazer opiniões distorcidas" sobre a política ambiental do Brasil no exterior.
A proposta de usar o streaming é uma das alternativas para executar o projeto sem aumentar os custos para a emissora pública. Fábio Faria se comprometeu com o presidente Bolsonaro - que diversas vezes já defendeu a privatização da EBC - a tornar o conglomerado de emissoras de TV, rádio e agência de notícias mais eficiente. Embora a EBC esteja na lista das empresas que devem ser privatizadas, a venda não ocorrerá agora porque, antes, será necessário "enxugar" a companhia.
A preocupação do Palácio do Planalto com o impacto das turbulências no exterior tem aumentado por motivos bem pragmáticos. Recentemente, por exemplo, um grupo de 29 instituições financeiras internacionais fez um alerta ao governo brasileiro sobre os riscos de saída dos investimentos do País, após a constatação de falhas no combate ao desmatamento. Com fundos de aproximadamente US$ 3,7 trilhões, o grupo exigiu que o Brasil barrasse o desmatamento, que assume proporções cada vez maiores.
Resposta
O governo prepara agora uma resposta direta aos bancos, como mostrou o Estadão, detalhando dados das áreas do Meio Ambiente, Agricultura, Defesa, Justiça e Itamaraty. Sob pressão, o Palácio do Planalto também pediu ao chanceler Ernesto Araújo uma prestação de contas da política externa brasileira, com relatório de gestão de todas as representações diplomáticas.
Araújo e o titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estão no centro de um tiroteio que envolve a imagem do Brasil no exterior. Os dois ministros são considerados problemáticos por integrantes do próprio governo e Bolsonaro tem sido aconselhado a substituí-los, como revelou o Estadão.
Na outra ponta, o enfrentamento da pandemia do coronavírus também pôs o Brasil no rumo das críticas estrangeiras. Com mais de 61 mil mortes e quase 1,5 milhão de casos confirmados, o País teve dois titulares da Saúde demitidos durante a crise e a pasta continua sob comando de um ministro interino, o general Eduardo Pazuello.
A alta comissária das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, criticou o Brasil e outros países que negam o contágio viral, na última terça-feira, sob o argumento de que isso pode ampliar a crise sanitária.
O jornal americano The New York Times, por sua vez, dedicou o seu podcast de quinta à discussão sobre o que deu errado na condução da pandemia no Brasil, o segundo país em número de mortes e casos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. / COLABOROU JULIA LINDNER