Governo diminui ritmo de liberação de verbas a Estados

Transferências somam R$ 3,7 bi até maio, menor do que em outros períodos de crise econômica; municípios reclamam de cancelamentos

30 jun 2019 - 05h20
(atualizado às 10h40)

Apesar do discurso descentralizador sintetizado no slogan "Mais Brasil e menos Brasília", o governo Jair Bolsonaro assinou neste início de mandato um volume de convênios com Estados, municípios e entidades menor do que os seus antecessores. Segundos dados do Portal da Transparência, foram R$ 3,7 bilhões em contratos publicados entre janeiro e maio deste ano, ante R$ 5,8 bilhões em igual período no ano de 2017 e R$ 4,8 bilhões em 2016 e 2015, anos já marcados pela crise econômica no País.

Presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro
Foto: Adriano Machado / Reuters

O levantamento inclui tanto as transferências voluntárias envolvendo projetos elaborados por prefeitos e governadores, quanto os convênios vinculados a programas federais, como o Minha Casa, Minha Vida. Em 2018, foram R$ 14,1 bilhões em acordos assinados pelo ex-presidente Michel Temer nos cinco primeiros meses do ano, mas a concentração do recurso é reflexo da restrição imposta pela lei eleitoral, que proíbe a assinatura de convênios durante a campanha.

Publicidade

Prefeitos ouvidos pelo Estado relataram que o ritmo de execução dos convênios federais neste ano ainda é lento, mas esperam que o quadro melhore após a aprovação da reforma da Previdência, prevista para ocorrer em julho na Câmara dos Deputados. "Assinar novos convênios está bem difícil. A prioridade tem sido executar os que estão em andamento. No início do ano o governo chegou a atrasar pagamentos de algumas medições de obras, mas estou otimista de que as coisas vão melhorar", disse o prefeito Orlando Morando (PSDB), de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

"Estamos com o menor nível de despesas discricionárias (não obrigatórias) da década. As despesas obrigatórias aumentaram muito nos últimos anos, com custeio de pessoas e previdência, e o governo foi forçado a reduzir despesas discricionárias. Os convênios se encaixam dentro delas", afirmou o economista e secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco.

Anulados. Se o atraso nos pagamentos compromete o cronograma das obras, pior é quando um projeto que já havia sido aprovado anteriormente pelo governo é anulado. Só nos cinco primeiros meses do ano, o governo Bolsonaro anulou 227 convênios assinados em gestões anteriores. Os contratos repassariam R$ 149,5 milhões para obras e programas em Estados e municípios.

Foi o que ocorreu no início deste mês com o convênio assinado em 2016 pelo Estado do Mato Grosso com o Ministério de Desenvolvimento Regional para construir uma ponte de concreto sobre o Rio Ariranha, no Alto Araguaia, a 418 km de Cuiabá. Orçada em R$ 1,7 milhão, a obra substituiria a atual ponte de madeira, que está em condições precárias, e melhoraria o escoamento da produção agrícola e pecuária da região.

O cancelamento pegou de surpresa moradores dos distritos que seriam beneficiados com o projeto. O secretário de Agricultura e Pecuária do município, João Dias de Freitas, disse que entende a crise pela qual o País passa, mas que não tem como não lamentar a decisão do governo por se tratar de uma reivindicação antiga. "Agora é esperar a boa vontade do governo." O Estado do Mato Grosso já encaminhou um pedido de "reconsideração" do cancelamento ao governo federal alegando já ter condições de atender às contrapartidas previstas no convênio.

Publicidade

Já no Distrito Federal, o cancelamento de um convênio de R$ 3,2 milhões para a reforma do pronto-socorro do Hospital Regional de Ceilândia afetou os pacientes que frequentam a unidade e se queixam da estrutura, como corredores estreitos e estragos em paredes e no teto. "Há lugares com mofo e buraco. O lugar é muito pequeno para atender todo mundo que vêm de outras regiões, como Águas Lindas e Sol Nascente", relatou a professora Nubia Bontempo Martinele, de 39 anos.

Veja também:

Intraday: Redes sociais repercutem detenção de militar da FAB que transportava 39 gk de cocaína
Video Player
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se