Governo reconhece falhas no pacote de gastos e defende ajustes estratégicos

23 dez 2024 - 09h37

Após quase um mês do anúncio do pacote de controle de gastos e da proposta de mudanças no Imposto de Renda (IR), integrantes do governo avaliam que houve erros na comunicação das medidas. A percepção no Palácio do Planalto e na equipe econômica é de que ajustes são necessários para contornar os impactos negativos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil / Perfil Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu na sexta-feira (20) que a apresentação inadequada contribuiu para a alta do dólar e a reação desfavorável do mercado. As declarações ocorreram durante um café com jornalistas, em que Haddad também destacou a necessidade de repensar a abordagem em anúncios futuros.

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Anunciado no dia 27 de novembro, o pacote incluía cortes de gastos e a proposta de isentar do IR quem ganha até R$ 5 mil mensais a partir de 2026. O Congresso aprovou as medidas fiscais, mas o projeto sobre a reforma do IR ainda não foi enviado.

O pacote de gastos pode reverter a crise com o mercado?

Para tentar reduzir tensões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou o tom sobre o Banco Central (BC). A decisão faz parte de um esforço para evitar embates com o mercado e reforçar a estabilidade fiscal.

Nos próximos anos, o BC será comandado por Gabriel Galípolo, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e figura de confiança tanto de Lula quanto de Haddad. Na sexta-feira, Lula divulgou um vídeo acompanhado por Galípolo, Haddad e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, em que reforçou o compromisso com a autonomia do BC e com o controle das contas públicas.

O vídeo foi produzido pelo publicitário Sidônio Palmeira, cotado para assumir a Secretaria de Comunicação Social (Secom). A ideia de gravar a mensagem partiu do presidente, mas Galípolo o convenceu da importância de enviar um sinal conciliador ao mercado.

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Divisões internas e tropeços na comunicação

Nos bastidores, divergências marcaram a discussão do pacote. Enquanto a equipe econômica, liderada por Haddad e Tebet, preferia focar exclusivamente nas medidas de contenção de gastos, setores do Planalto e ministros da área social insistiram em um anúncio conjunto com a reforma do IR, temendo críticas às medidas de austeridade.

Sidônio teve papel central na decisão final e participou diretamente do pronunciamento de Haddad. Apesar disso, a estratégia gerou resultados contraditórios: enquanto militantes petistas comemoraram nas redes sociais, a reação do mercado foi dura, com a cotação do dólar subindo para R$ 6,30 após o anúncio.

As redes sociais inicialmente registraram apoio às medidas, mas a alta do dólar e as críticas gerais reverteram o sentimento positivo em pouco tempo. Campanhas planejadas pela Secom para divulgar os benefícios da isenção do IR foram barradas pela Fazenda, que avaliou que a divulgação poderia agravar o cenário.

Além disso, uma campanha publicitária para reforçar a importância das medidas foi engavetada após alertas de órgãos de controle, que consideraram incoerente usar verba pública para promover um pacote de contenção de despesas.

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Dentro do governo, auxiliares avaliam que a gestão da comunicação resultou em uma derrota dupla: a perda de apoio do mercado e a dificuldade de colher ganhos políticos com a proposta de isenção do IR.

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