Bolsonaro diz que Witzel propôs resolver caso da rachadinha em troca de vaga no STF

Gravação da reunião acontecida em 2020 foi tornada pública por decisão do STF nesta segunda, 15.

15 jul 2024 - 18h19
(atualizado em 17/7/2024 às 22h49)
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Foto: CartaCapital

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse em reunião com advogadas do senador FLávio Bolsonaro (PL-RJ) e o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que em 2019, o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PMB), propôs “resolver” o caso das investigações de rachadinha do filho em troca de uma vaga ao Supremo Tribunal Federal (STF). O áudio foi tornado público nesta segunda, 15, por decisão do ministro do caso, Alexandre Moraes.

“O ano passado [2019], no meio do ano, encontrei com o [Wilson] Witzel, não tive notícia [inaudível] bem pequenininho o problema. Ele falou, resolve o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo”, o trecho está na decupagem da Polícia Federal sobre uma reunião que definia estratégias de defesa para o filho do ex-presidente.

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O caso citado por Bolsonaro era o das rachadinhas - prática em que funcionários nomeados no gabinete devolvem parte dos salários ao parlamentar. Essa investigação contra Flávio era o tema da reunião com as advogadas do senador, Juliana Bierrenbach e Luciana Pires, o então chefe da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.

Após a fala de Bolsonaro, a advogada Bierrenbach questiona: "quem falou isso?" e Bolsonaro reafirma: "O Witzel, né". A outra advogada, Luciana Pires, disse que "ele tem a Polícia Civil na mão". Em seguida, Heleno e Bolsonaro dizem: "sede de poder".

O áudio, segundo a PF, foi gravado por Alexandre Ramagem, atualmente deputado federal e pré-candidato à prefeitura do Rio. A reunião aconteceu no dia 25 de agosto de 2020. A agenda oficial de Bolsonaro não registrou essa reunião. Os investigadores indicam que o áudio é uma prova da participação de Bolsonaro no esquema criminoso e a intenção de usar a estrutura para blindar o filho de investigações criminais.

A gravação da reunião foi encontrada durante investigações do caso conhecido como "Abin Paralela". Segundo a PF, foi montada uma estrutura no governo Bolsonaro para investigar ilegalmente adversários políticos. Bolsonaro e Ramagem negam irregularidades e o cometimento de crimes. 

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A Polícia Federal prendeu quatro pessoas na semana passada, durante desdobramentos da investigação sobre o uso irregular da Abin.

A coluna tenta contato com os citados, o espaço está aberto à manifestação.

Rachadinha

Em novembro de 2021, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou provas do caso sobre enriquecimento ilícito de Flávio. A investigação aponta que os crimes de desvio de dinheiro teriam acontecido quando ele era deputado estadual. O senador nega irregularidades e crimes.

Outro Lado

O ex-governador informou em posicionamento na rede X, que "jamais" ofereceu qualquer tipo de auxílio durante seu governo e que  no seu governo a Polícia Civil e militar sempre "tiveram total independência e os poderes foram respeitados".

Ramagem postou um vídeo na rede X para dizer que "o presidente Bolsonaro sempre se manifestou na reunião por não querer favorecimentos ou jeitinhos". Segundo ele, a gravação foi autorizada por Bolsonaro porque ele teria informação de que alguma pessoa iria à reunião, que tinha contato com Witzel e faria uma "proposta nada republicana". E por isso queriam registrar um crime contra Bolsonaro. Ramagem disse que o suposto crime não aconteceu.

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O senador Flávio Bolsonaro, disse em nota que "o áudio mostra apenas minhas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal e com objetivo de prejudicar a mim e a minha família"

A nota segue dizendo que "a partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis. O próprio presidente Bolsonaro fala na gravação que não 'tem jeitinho' e diz que tudo deve ser apurado dentro da lei.  E assim foi feito. É importante destacar que até hoje não obtive resposta da justiça quanto ao grupo que acessou meus dados sigilosos ilegalmente", informou a nota.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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