O presidente Lula (PT) levou ministras e servidoras do Palácio do Planalto para um almoço em um tradicional restaurante de Brasília, o Tia Zélia, para celebrar o Dia Internacional das Mulheres. Segundo a primeira-dama, Janja da Silva, a ideia de ir a um de seus restaurantes prediletos, foi do presidente.
A agenda de Lula em ambiente descontraído e ao ar livre com ministros é incomum. O almoço consta na agenda e foi anunciado previamente pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência a jornalistas. O evento aconteceu na semana em que duas pesquisas de opinião indicaram uma piora na avaliação do presidente e do governo.
No local, que fica em um bairro de classe média, a Vila Planalto, a poucos quilômetros do Planalto, havia um cordão de isolamento com gradis e barreiras de acesso. Da entrada do bairro até o estacionamento para jornalistas foi necessário passar por 3 barreiras. Um grupo com cerca de 30 apoiadores acompanhou próximo ao gradil, do lado de fora, a cerca de 50 metros da mesa do presidente. (leia mais sobre o restaurante abaixo).
Nesta semana, as pesquisas mostraram uma avaliação negativa para o governo Lula. Ainda que tenha avanços na economia e a retomada do emprego, o desempenho do presidente está aquém do que gostariam ministros. A Qaest mostrou que 51% dos brasileiros aprovam o trabalho do presidente Lula, enquanto 46% desaprovam. Já o levantamento Atlas Intel, indica que a maioria dos brasileiros não aprova Lula pela 1ª vez desde o começo do mandato.
O gesto de Lula com as mulheres é também uma tentativa do petista amenizar críticas que recebe de aliados na esquerda e da primeira-dama, para maior participação de mulheres em sua gestão. Em 2023, Lula demitiu duas ministras Ana Moser (Esportes) e Daniela Carneiro (Turismo) para alocar ministros indicados pelo centrão: Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA). Além das ministras, Rita Serrano foi demitida da Caixa para uma acomodação de indicados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Nesta quinta, 7, durante evento para anunciar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra da Cultura, Margareth Menezes, cobrou o presidente publicamente para ter mais participação feminina em cargos de poder.
“O dia da mulher é o ano inteiro, mas a gente tem que aproveitar o mês de março e fazer nossos apelos e dizer que chegar à representação feminina, presidente, que o senhor está nos dando a oportunidade, em cargos de poder ainda não é o adequado, o que a gente quer é a paridade. Mas são grandes oportunidades para nós, para contribuir com um Brasil melhor”, disse.
O governo conta com 9 ministras entre os 38 cargos que há na Esplanada dos Ministérios.
Durante o evento, Lula relembrou que o primeiro voto feminino, em 1934, aconteceu apenas por uma decisão judicial e destacou a luta das mulheres por direitos. O presidente ainda relembrou os ataques de 8/1.
O restaurante Tia Zélia
O restaurante fica a cerca de 3 quilômetros do Palácio do Planalto e é ponto de encontro tradicional da esquerda em Brasília. A cozinheira e dona, Tia Zélia - cujo nome de batismo é Maria de Jesus Oliveira da Costa -, é amiga de Lula desde 2008. No restaurante há uma espécie de santuário de Lula, com dezenas de fotos do petista, registros de jornal e alusões ao PT.
O local é simples e aconchegante. O almoço foi servido numa área externa, sob uma tenda montada no gramado. No cardápio havia feijoada, costela bovina e pernil. O valor da refeição para comer os três pratos a vontade é R$ 55 mais 10% do atendimento. Na sua fala inicial, Lula disse que cada dos convidados pagaria pela sua refeição, inclusive os jornalistas. Os convidados riram da fala. Havia um grupo tocando samba durante o evento, a ministra Margareth Menezes assumiu o microfone para cantar algumas canções.
A cozinheira Tia Zélia disse que Lula não precisaria pagar. O prato dele, foi rabada com ovo de gema mole, seu predileto no restaurante. No evento, Janja destacou a importância da luta das mulheres e Tia Zélia contou sua história de vida.
Muito semelhante à de Lula e de tantos nordestinos, ela deixou a região em busca de uma vida melhor, com 18 anos, em 1976.
“Vim de pau de arara. Trouxe dois meninos, foram 30 dias de caminhão. Eu trazia um embornal com rapadura e farinha seca”, contou.
Chegou a Brasília, trabalhou como ajudante na cozinha, passadeira, em casas de família até abrir seu restaurante. Em 2008 conheceu o presidente enquanto cozinhava em um evento em que ele participava. E desde então mantêm a amizade. Ela contou dos desafios para botar o restaurante de pé e que hoje emprega 25 funcionários.
Lulista de carteirinha, evita falar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem disse que “não gosta nem de falar o nome”.
O restaurante ganhou fama em Brasília e no país justamente por ser um dos prediletos de Lula. Tia Zélia já cozinhou para o presidente em diferentes ocasiões, no Palácio da Alvorada (residência oficial da Presidência) ao acampamento em frente à Polícia Federal em Curitiba, onde Lula ficou preso.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, também falou na abertura do evento, destacando que o dia é de comemoração e luta. “Esse almoço homologa, na verdade, o compromisso desse governo Lula com as mulheres”, disse.
Das ministras, apenas Simone Tebet (Orçamento e Planejamento) não participou, por estar em agenda internacional. Estiveram presentes as ministras:
Saúde - Nísia Trindade
Gestão e Inovação em Serviços Públicos - Esther Dweck
Ciência e Tecnologia - Luciana Santos
Mulheres - Cida Gonçalves
Meio Ambiente e Mudança do Clima - Marina Silva
Povos Indigenas - Sonia Guajajara
Igualdade Racial - Anielle Franco
Cultura - Margareth Menezes