Cobrado por participação de mulheres, Lula leva ministras para almoço; veja como foi

Ruas ao redor do restaurante Tia Zélia, em Brasília, foram isoladas e segurança reforçada para celebrar Dia Internacional das Mulheres

8 mar 2024 - 15h02
(atualizado em 13/3/2024 às 17h09)
Em almoço com ministras, Lula diz que mulheres não devem se 'contentar com o que já conquistaram'
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O presidente Lula (PT) levou ministras e servidoras do Palácio do Planalto para um almoço em um tradicional restaurante de Brasília, o Tia Zélia, para celebrar o Dia Internacional das Mulheres. Segundo a primeira-dama, Janja da Silva, a ideia de ir a um de seus restaurantes prediletos, foi do presidente. 

A agenda de Lula em ambiente descontraído e ao ar livre com ministros é incomum. O almoço consta na agenda e foi anunciado previamente pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência a jornalistas. O evento aconteceu na semana em que duas pesquisas de opinião indicaram uma piora na avaliação do presidente e do governo.

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No local, que fica em um bairro de classe média, a Vila Planalto, a poucos quilômetros do Planalto, havia um cordão de isolamento com gradis e barreiras de acesso. Da entrada do bairro até o estacionamento para jornalistas foi necessário passar por 3 barreiras. Um grupo com cerca de 30 apoiadores acompanhou próximo ao gradil, do lado de fora, a cerca de 50 metros da mesa do presidente. (leia mais sobre o restaurante abaixo).

Lula e ministras em almoço alusivo ao Dia Internacional das Mulheres
Lula e ministras em almoço alusivo ao Dia Internacional das Mulheres
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Nesta semana, as pesquisas mostraram uma avaliação negativa para o governo Lula. Ainda que tenha avanços na economia e a retomada do emprego, o desempenho do presidente está aquém do que gostariam ministros. A Qaest mostrou que 51% dos brasileiros aprovam o trabalho do presidente Lula, enquanto 46% desaprovam. Já o levantamento Atlas Intel, indica que a maioria dos brasileiros não aprova Lula pela 1ª vez desde o começo do mandato.

O gesto de Lula com as mulheres é também uma tentativa do petista amenizar críticas que recebe de aliados na esquerda e da primeira-dama, para maior participação de mulheres em sua gestão. Em 2023, Lula demitiu duas ministras Ana Moser (Esportes) e Daniela Carneiro (Turismo) para alocar ministros indicados pelo centrão: Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA). Além das ministras, Rita Serrano foi demitida da Caixa para uma acomodação de indicados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Lula e ministras no restaurante Tia Zélia, segurança foi reforçada
Foto: Guilherme Mazieiro/Terra

Nesta quinta, 7, durante evento para anunciar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra da Cultura, Margareth Menezes, cobrou o presidente publicamente para ter mais participação feminina em cargos de poder. 

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“O dia da mulher é o ano inteiro, mas a gente tem que aproveitar o mês de março e fazer nossos apelos e dizer que chegar à representação feminina, presidente, que o senhor está nos dando a oportunidade, em cargos de poder ainda não é o adequado, o que a gente quer é a paridade. Mas são grandes oportunidades para nós, para contribuir com um Brasil melhor”, disse.

O governo conta com 9 ministras entre os 38 cargos que há na Esplanada dos Ministérios.

Durante o evento, Lula relembrou que o primeiro voto feminino, em 1934, aconteceu apenas por uma decisão judicial e destacou a luta das mulheres por direitos. O presidente ainda relembrou os ataques de 8/1.

Tia Zélia, cozinheira e dona do restaurante, e Lula
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O restaurante Tia Zélia

O restaurante fica a cerca de 3 quilômetros do Palácio do Planalto e é ponto de encontro tradicional da esquerda em Brasília. A cozinheira e dona, Tia Zélia - cujo nome de batismo é Maria de Jesus Oliveira da Costa -, é amiga de Lula desde 2008. No restaurante há uma espécie de santuário de Lula, com dezenas de fotos do petista, registros de jornal e alusões ao PT.

O local é simples e aconchegante. O almoço foi servido numa área externa, sob uma tenda montada no gramado. No cardápio havia feijoada, costela bovina e pernil. O valor da refeição para comer os três pratos a vontade é R$ 55 mais 10% do atendimento. Na sua fala inicial, Lula disse que cada dos convidados pagaria pela sua refeição, inclusive os jornalistas. Os convidados riram da fala. Havia um grupo tocando samba durante o evento, a ministra Margareth Menezes assumiu o microfone para cantar algumas canções.

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A cozinheira Tia Zélia disse que Lula não precisaria pagar. O prato dele, foi rabada com ovo de gema mole, seu predileto no restaurante. No evento, Janja destacou a importância da luta das mulheres e Tia Zélia contou sua história de vida.

Muito semelhante à de Lula e de tantos nordestinos, ela deixou a região em busca de uma vida melhor, com 18 anos, em 1976. 

Almoço servido no restaurante Tia Zélia, em Brasília
Foto: Guilherme Mazieiro/Terra

“Vim de pau de arara. Trouxe dois meninos, foram 30 dias de caminhão. Eu trazia um embornal com rapadura e farinha seca”, contou. 

Chegou a Brasília, trabalhou como ajudante na cozinha, passadeira, em casas de família até abrir seu restaurante. Em 2008 conheceu o presidente enquanto cozinhava em um evento em que ele participava. E desde então mantêm a amizade. Ela contou dos desafios para botar o restaurante de pé e que hoje emprega 25 funcionários.

Lulista de carteirinha, evita falar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem disse que “não gosta nem de falar o nome”.

O restaurante ganhou fama em Brasília e no país justamente por ser um dos prediletos de Lula. Tia Zélia já cozinhou para o presidente em diferentes ocasiões, no Palácio da Alvorada (residência oficial da Presidência) ao acampamento em frente à Polícia Federal em Curitiba, onde Lula ficou preso. 

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A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, também falou na abertura do evento, destacando que o dia é de comemoração e luta. “Esse almoço homologa, na verdade, o compromisso desse governo Lula com as mulheres”, disse.

Das ministras, apenas Simone Tebet (Orçamento e Planejamento) não participou, por estar em agenda internacional. Estiveram presentes as ministras: 

Saúde - Nísia Trindade

Gestão e Inovação em Serviços Públicos - Esther Dweck

Ciência e Tecnologia - Luciana Santos

Mulheres - Cida Gonçalves

Meio Ambiente e Mudança do Clima - Marina Silva

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Povos Indigenas - Sonia Guajajara

Igualdade Racial - Anielle Franco

Cultura - Margareth Menezes

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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