A presença do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, nesta quarta-feira, 18, será um prato cheio para a oposição. O ministro de Lula (PT) que está à frente dos trabalhos de repatriação de brasileiros em Israel e na Faixa de Gaza e das negociações diplomáticas do conflito já foi avisado de que enfrentará um debate “quente” com os deputados.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), queria que Vieira fosse convocado, situação em que o ministro fica obrigado a comparecer. No entanto, o presidente da comissão, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), optou por um convite. A reunião está marcada para começar ao meio-dia, antes do ministro embarcar para reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, que atualmente é presidido pelo Brasil.
Ainda que elogie os trabalhos de repatriação do governo e articulação diplomática, o presidente da comissão pretende cobrar de Vieira uma posição mais firme para condenar o Hamas. Ele deve pedir explicações sobre o plano de repatriação e das negociações com o Egito para retirada dos 30 brasileiros que estão na fronteira de Gaza.
Ao contrário do governo que tenta negociar com grandes potencias um acordo para diminuir as tensões entre Hamas e Israel, os deputados identificados com o ex-presidente Bolsonaro rejeitam qualquer negociação com o grupo islâmico que controla Gaza. O presidente Lula, logo após a ação do Hamas contra israelenses, considerou os ataques como "terroristas" e tem insistido na abertura de um corredor humanitário e interlocução com diversos países para resolução do conflito. O Itamaraty não considera o Hamas um grupo terrorista, isso porque segue a classificação oficial da ONU.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já presidiu a comissão no ano passado, defende que “eliminar o Hamas não é um ato de ódio, é um ato de sanidade e que abrirá caminho para a paz”. Entre os membros da oposição na comissão estão também deputados que costumam fazer o enfrentamento político mais duro como Carla Zambelli (PL-SP), Marco Feliciano (PL-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS). Nesta segunda-feira, 16, o PT divulgou uma resolução em que equipara os ataques do Hamas à reação de Israel.
O ataque do Hamas, no dia 7 de outubro, deixou mais de 1 mil mortos, entre os quais crianças e mulheres. A contra-ofensiva de Israel, com intensos bombardeios e bloqueio de alimentos, água e energia à região, resultou também em mortes de civis palestinos.
Após os ataques do Hamas, o presidente da comissão publicou uma nota no site da Câmara repudiando a ação do grupo, que classificou como "terrorista". O deputado Paulo Alexandre Barbosa pediu que a comunidade internacional se unisse em torno dos Acordos de paz de Oslo e às Resoluções da ONU, "que estabelecem uma solução de dois estados, com base nas fronteiras de 1967, com a coexistência pacífica como condição fundamental para a estabilidade da região, como historicamente defende o Brasil”.
Fronteira fechada
Desde o início do conflito, o governo repatriou 916 pessoas em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). Um grupo de cerca de 30 pessoas está na Faixa de Gaza, na divisa com o Egito, e aguarda as negociações diplomáticas para que seja liberada a passagem. O plano de retirada do governo, para quando a fronteira for aberta, conta com transporte terrestre para tirar os brasileiros de Gaza e uma aeronave da Presidência, que aguarda o avanço das negociações em Roma, para repatriar essas pessoas.
Enquanto a fronteira segue fechada, nem civis deixam Gaza e tampouco chega ajuda humanitária para os palestinos. A ONU criticou o cerco feito por Israel.