As críticas de Lula (PT) ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, nesta terça, 18, inflamaram a base do governo às vésperas da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Parlamentares e o PT reforçaram ataques e cobranças sobre o presidente do banco, que nesta terça e quarta, 19, se reúne para definir a taxa básica de juros, Selic.
A expectativa de bancos, investidoras e corretoras é de que o BC manterá o patamar de 10,5% ao ano. Desde o início da gestão Lula 3, o presidente da República, ministros e auxiliares cobram a queda dos juros sob a justificativa de que a economia do país melhorou e a inflação está controlada.
Lula disse, em entrevista à CBN, que Campos Neto tem um comportamento desajustado.
“[Temos] um presidente do Banco Central que não demonstra qualquer capacidade de autonomia, que tem lado político e que na minha opinião trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, disse.
Lula criticava a ida de Campos Neto para receber uma honraria na Assembleia Legislativa de São Paulo e um jantar oferecido pelo governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, no jantar que reuniu empresários e banqueiros, Campos Neto teria aceitado um convite de Tarcísio, caso eleito presidente, para ser ministro da Fazenda. Campos Neto foi indicado ao cargo por Jair Bolsonaro (PL) na mesma época em que Tarcísio era ministro da Infraestrutura.
Após as falas de Lula, a base parlamentar passou a fazer falas no Congresso e as reproduzir em redes sociais. Trechos da entrevista do petista foram recortados e compartilhados por apoiadores em grupos e redes sociais. O perfil do PT no X, ex-Twitter, classificou Campos Neto como “sabotador da economia”. O mesmo termo foi utilizado pela presidente da sigla, Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Campos Neto, o sabotador da economia!
— PT Brasil (@ptbrasil) June 18, 2024
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que as declarações de Campos Neto interferem na autonomia da entidade e do câmbio.
“Não sei se a independência do Banco Central se compatibiliza com os posicionamentos do atual presidente do banco. Quando ele vai vestido de pijaminha votar no dia da eleição a indicar em que candidato ele estava votando. Quando ele vai participar de uma reunião no governo de São Paulo e se colocar como provável futuro ministro de um futuro candidato a presidente da República. Essas coisas precisam, verdadeiramente, ser discutidas”, disse Calheiros.
A referência de Calheiros era à camisa da Seleção Brasileira que Campos Neto vestiu quando foi votar, em outubro de 2022. À época, a vestimenta era usada por apoiadores de Bolsonaro.
A fala de Calheiros aconteceu durante sessão da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Na sequência, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) reforçou as declarações do colega dizendo que Lula tem responsabilidade fiscal.
Diversos deputados como o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), Orlando Silva (PCdoB-SP), Ivan Valente (Psol-SP) e Helder Salomão (PT-ES) corroboram as falas de Lula.
O presidente @LulaOficial estava afiado hoje e falou as verdades que precisam ser ditas. O Banco Central só é autônomo em relação aos interesses do país, mas é capturado pelo mercado financeiro. É uma herança maldita do bolsonarismo jogando contra o crescimento do Brasil. CHEGA! pic.twitter.com/fSVgCLZfzO
— Orlando Silva (@orlandosilva) June 18, 2024