Ao final da primeira metade do governo Lula (PT), a avaliação da cúpula da Câmara é de que o arranjo político que acomodou partidos na Esplanada em 2022 já não se sustenta mais. A coluna apurou que a percepção de líderes partidários e do presidente Arthur Lira (PP-AL) é de que uma reforma ministerial junto com a diminuição de fogo amigo entre ministros poderia melhorar o ambiente para tramitação de propostas e fortalecer a base, dando mais tranquilidade para a reta final do mandato.
O entendimento é de que há muito esforço de partidos do centrão - como por exemplo PP e PSD - que votam e ajudam na aprovação de temas prioritários do governo, sem que participem mais intensamente da gestão. Ainda que existam cobranças por ajustes dentro e fora do governo, o assunto não foi tratado diretamente por Lula junto aos parlamentares e não houve sinalizações efetivas de que as trocas vão acontecer.
A avaliação vem na esteira da aprovação à jato do pacote fiscal dividido em dois projetos de lei e uma proposta de emenda à Constituição (PEC), anunciadas pelo governo no dia 29 de novembro e votada nesta semana.
"O governo precisa rearrumar. Acho que está claro até na cabeça deles. Como Lula vai arrumar essa decisão é uma questão dele, ele que sabe como que vai tocar", considerou uma liderança pedindo que seu nome não fosse divulgado.
Antes de tomar posse, Lula pactuou com partidos do Congresso a participação em alguns ministérios durante a tramitação da PEC da Transição, que ajustou o Orçamento de 2023. Os cargos chave no Planalto ficaram com o PT e pastas importantes como Saúde e Educação (as que têm os maiores orçamentos e capilaridade no país) também. O arranjo que acomodou indicações do União Brasil, MDB e PSD foi refeito já durante a gestão com a entrada de nomes ligados ao PP e Republicanos nos ministérios do Esporte, André Fufuca, e Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e quadros nas diretorias da Caixa.
O presidente da Câmara costuma avaliar em reuniões reservadas que o PT tem cerca de 13% de representação entre os deputados (68 cadeiras das 513) e comanda em torno de 80% dos 39 ministérios e seus recursos orçamentários.
Nessas conversas, o PSD é lembrado como uma bancada que merecia mais destaque. O partido de Gilberto Kassab está representado por Carlos Fávaro no Ministério da Agricultura, André de Paula no da Pesca e Alexandre Silveira com o Ministério de Minas e Energia. No entanto, Silveira é visto como alguém que não está alinhado ao Congresso, e o ministério da Pesca é de menor expressão.
O partido discutiu a possibilidade de não apoiar as reformas de ajuste fiscal do governo, mas o líder Antonio Brito (PSD-BA), disse em plenário que a bancada daria "um voto de confiança" para o Planalto.
Churrasquinho
Há insatisfações também sobre a participação de Lula diretamente na articulação. Nesse caso são citados, por exemplos, os churrascos que o petista fazia na Granja do Torto (casa de veraneio da Presidência) para receber aliados nas duas primeiras gestões, e que, agora, não acontecem mais. "O pragmatismo é bom, mas o carinho e a atenção ajudam muito”, avalia um integrante da cúpula da Casa.
Há uma avaliação entre lideranças na Câmara de que Lula se reuniu menos com parlamentares do que Dilma Roussef (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) e incômodo por esse distanciamento entre Planalto e congressistas.