O governo Lula (PT) e o responsável pela Fazenda, ministro Fernando Haddad, projetam um crescimento de pelo menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, acima do que estima o Banco Central, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), ambos em 1,7%. Ainda que oficialmente o BC trabalhe com este dado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta, 7, que o país pode crescer acima de 2% dependendo do controle das contas públicas e do cenário externo.
As análises de mercado, em geral, consideram que o impulso de demanda e investimento não será suficiente para trazer o PIB a 2%.
Parte do que sustenta a projeção do governo é a ideia de que o que foi plantado em 2023 vai ser colhido neste ano. Ou seja, os investimentos e gastos feitos no ano passado vão ajudar no estímulo da demanda em diferentes setores e fazer com que o dinheiro circule mais, girando a economia em 2024. Isso alinhado com uma expectativa de que o dólar vá se manter estável, próximo dos R$ 5, e a inflação dentro da meta de 3% com queda de juros promovida pelo BC.
Esta análise que é feita no Palácio do Planalto, está na Mensagem Presidencial, enviada nesta semana ao Congresso. A leitura sobre o panorama macroeconômico da gestão da Fazenda, indica que o avanço da economia vai se dar a partir de medidas impulsionadas pelo governo:
- aumento do salário mínimo acima da inflação, "garantindo aumentos reais" aos trabalhadores e aposentados;
- ampliação a faixa de isenção do imposto de renda para dois salários mínimos (R$ 2.824);
- retomada os programas Minha Casa Minha, Vida e Bolsa Família;
- renegociação de dívidas do programa Desenrola;
- obras do Programa de Aceleração do Crescimento (cerca de R$ 54 bilhões) e estimativa de 4 milhões de empregos.
Na visão do governo, o consumo das famílias desacelerou menos por conta desses programas, ajudando na melhoria da renda real e do emprego em 2023, de modo que terá reflexo em 2024. O diagnóstico considera, por exemplo, que a construção civil, com a retomada de obras do Minha Casa Minha Vida, vai contribuir para o “maior dinamismo industrial”.
“O crescimento em 2024 deverá ter maior contribuição da demanda doméstica, puxada por fatores como crescimento real do salário mínimo; políticas sociais de transferência de renda; Plano de Transformação Ecológica; investimentos do Novo PAC; continuidade da retomada dos financiamentos dos bancos públicos; dinamismo do mercado de trabalho; melhoria da renda real; novos cortes na taxa Selic”, destaca a Mensagem Presidencial.
O crescimento de 2023, que ainda não foi divulgado, deve ficar em torno de 3%. O PIB teve bom desempenho no primeiro semestre e desaceleração no segundo, mas contou com uma safra recorde do setor agro. O presidente Lula diz que, a exemplo de 2023, quando as projeções eram de crescimento de menos de 1%, 2024 surpreenderá. Para isso, será necessário vencer, entre outros desafios, os da política.
Desafios e atritos na política
Para além dessas condições externas pontuadas na análise enviada ao Congresso, o governo Lula precisará enfrentar questões internas como a articulação política do governo. Isso impacta no que pontuou Campos Neto, o controle das contas públicas.
O governo tem prioridade em ajustar temas fiscais e projetos no Congresso e para isso precisará da ajuda do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O ambiente atual traz desfaios, já que o mandatário da Câmara não mantém mais contato direto com o responsável pela articulação política de Lula, Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) e deu recados ao Planalto nesta semana.
Os recados de Lira começaram a trazer efeitos já no dia seguinte. Nesta terça, 6, estava prevista uma reunião de Haddad com líderes da Câmara. O encontro entrou na agenda de Haddad e foi cancelado durante o dia. Nos bastidores a informação é de que houve um "adiamento" para depois do Carnaval, o que é também uma tentativa de esfriar os ânimos na relação de Lira com o Planalto.
Nesta sexta, 9, Lula e Lira se encontraram em uma reunião no Palácio da Alvorada, em Brasília. O compromissão não constava na agenda de nenhum dos dois.
Os temas que alimentam essa discussão política são o Perse, programa de ajuda emergencial ao setor de serviços, que o governo quer acabar gradualmente, a reoneração da folha salarial e os vetos de R$ 5,6 bilhões em emendas. Todos esses temas que o governo trabalha contra foram aprovados pelo Congresso.
"Vamos aprovar sempre o que for importante para o Brasil e para os brasileiros, mas não permitimos revisar matérias chanceladas por este Congresso Nacional", disse Lira em seu discurso.