Extrema direita faz 'resistência' no baixo clero frente a julgamento de Bolsonaro

Enquanto TSE julga inelegibilidade de Jair Bolsonaro, Eduardo e aliados fazem reunião pública na Câmara resgatando Olavo de Carvalho

29 jun 2023 - 13h16
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode se tornar inelegível pelos próximos 8 anos
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode se tornar inelegível pelos próximos 8 anos
Foto: REUTERS/Carla Carniel

Ainda que a distância física entre o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o auditório da Comissão de Segurança Pública da Câmara não chegue a 2 quilômetros, os dois ambientes comportam mundos totalmente distintos, em Brasília. Na manhã desta quinta-feira, 29, enquanto ministros eleitorais julgavam a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o filho 02, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), reunia a nata do bolsonarismo na Câmara para exaltar bandeiras históricas (e também paranoias) de seu pai.

A audiência convocada para tratar dos “impactos das políticas de segurança no narcotráfico internacional”,  serviu para “matar um pouquinho da saudade do professor Olavo de Carvalho”, como disse Eduardo em referência ao guru do bolsonarismo e autointitulado “filósofo”. Os deputados resgataram um vídeo do ícone da extrema direita, morto em janeiro de 2022, falando sobre o Foro de São Paulo.

Publicidade

Ainda que não tenha feito referência direta ao julgamento sobre o futuro político de seu pai, Eduardo disse que há um domínio na mídia, na igreja e no Judiciário contra os conservadores. E chama atenção dos pares: “nós temos que ser a resistência”.

“Se o pessoal da esquerda, que luta pelo poder consegue se reinventar a todo momento e persistir na batalha, porque que nós, que lutamos pela nossa liberdade, pelas nossas famílias e tudo mais que é sagrado… Como vamos sucumbir perante esse pessoal?”, disse Eduardo, que presidia a reunião.

Além do vídeo de Olavo de Carvalho falando sobre o Foro de São Paulo (organização internacional de partidos e grupos de esquerda), o encontro resgatou um arsenal de teorias bolsonaristas e desinformação. Há falas descontextualizadas sobre os empréstimos internacionais do BNDES durante os governos petistas, acusações de que existe uma perseguição do “sistema” contra os conservadores, associando partidos de esquerda a grupos criminosos e críticas à imprensa.

“Aconselho a muitos de nós, em que pese as aflições serem grandiosas, mas que a gente não caia na tentação de tentar ser imediatista para que a gente não coloque a carroça na frente dos cavalos”, analisou Eduardo.

Publicidade

O discurso radical, que havia sido abandonado durante a campanha de Bolsonaro por apelo do centrão, cada vez mais volta à boca da extrema-direita. Com a possibilidade de ser declarado inelegível já nesta quinta, orbitam no entorno de Bolsonaro apenas seus apoiadores mais fervorosos. No mundo da política de Brasília, não se vê mais o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ou do senador e ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI) na linha de frente da defesa do bolsonarismo. No máximo, o que se vê são falas do senador defendendo o capital político de Bolsonaro, sem abraçar teses bolsonaristas. Lira e outros líderes do centrão estão mais ocupados em barganhar cargos e acesso a verbas do governo Lula (PT), do que em defender o capitão que para quem fizeram campanha em 2022.

A audiência desta quinta foi solicitada na semana passada pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PP-MG) e Eduardo. O encontro teve presença de ex-membros do governo Bolsonaro, como o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello (PL-RJ), o ex-chefe da Abin, Delegado Ramagem (PL-RJ), e figurinhas carimbadas do grupo como Bia Kicis (PL-DF), Sargento Fahur (PSD-PR), Coronel Telhada (PP-SP). Do centrão, ninguém.

Já Bolsonaro, longe de Brasília, embarcou pela manhã para o Rio, de onde acompanhava o julgamento. O ministro presidente do TSE, Alexandre de Moraes, suspendeu a votação por volta das 13h, quando o placar estava em 3 x 1 pela inelegibilidade de Bolsonaro. Falta mais um voto para se ter maioria dos 7 ministros e tirar o direito do ex-presidente concorrer às eleições. O julgamento será retomado nesta sexta-feira, 30.

Foro de São Paulo x Foro do Brasil

Criticado pela base bolsonarista, o Foro de São Paulo se reúne nesta quinta, em Brasília. A abertura do evento anual será comandada pelo presidente Lula, um dos fundadores da entidade que além de ser atacada pela extrema direita sofre críticas de setores da esquerda por posicionamentos brandos contra regimes didatoriais.

Publicidade

Numa tentativa de fazer frente ao grupo de esquerda, a base bolsonarista deve lançar nesta quinta, em um auditório do Senado, o "Foro do Brasil". A entidade será liderada pelo Padre Kelmon, ex-candidato a presidência que viralizou nas redes sociais ao ser chamado de "padre de festa junina" pela adversária, Soraya Thronicke (Podemos-MS).

O grupo deve reunir entidades conservadoras evangélicas e católicas. De acordo com informações divulgadas pela assessoria de imprensa, o Foro do Brasil "representa os valores da cultura judaico-cristã, o estado mínimo, os direitos individuais, a livre expressão de propriedade, o direito ao porte de armas para defesa pessoal e da propriedade, o livre mercado e a economia liberal".

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se