Galípolo, indicado por Lula, confunde funções de cargo que ocupará no BC

Em currículo enviado ao Senado, ele cita atribuições do diretor de política econômica, em vez das de diretor de política monetária

30 mai 2023 - 15h15
(atualizado às 16h18)
O secretário-executivo Gabriel Galípolo (esq.) e o ministro da Fazenda (dir.), Fernando Haddad
O secretário-executivo Gabriel Galípolo (esq.) e o ministro da Fazenda (dir.), Fernando Haddad
Foto: Poder360

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, nome escolhido pelo presidente Lula (PT) para ocupar a diretoria de política monetária do BC (Banco Central), confundiu as atribuições do cargo que ocupará no banco. Na mensagem que o governo enviou ao Senado no dia 16 de maio, Galípolo apresentou seu currículo e suas credenciais para se mostrar apto à função, no entanto reproduziu as atribuições que o diretor de política econômica tem, em vez das atribuições do diretor de política monetária.

O documento de 16 páginas começa com a mensagem do ministro da Casa Civil, Rui Costa, oficializando o rito de indicação. São apresentados o currículo de Galípolo, destacando atuação no setor público e privado, sua formação acadêmica, graduação em economia e mestrado em economia política, ambas pela PUC-SP, e comprovantes de que não há pendências judiciais.

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Trecho do currículo de Galípolo
Foto: Reprodução

O texto apresentado por Galípolo é uma reprodução do que consta entre as atribuições do diretor de política econômica do Regimento Interno do Banco Central. Ele defendeu sua indicação dizendo que entende-se preparado para a função de diretor, para o fim de atender às atribuições de:

  • coordenar e apresentar a situação macroeconômica do País, cenários e projeções, com vistas à apresentação de recomendações sobre as diretrizes de política monetária proposta e definição da meta para a Taxa Selic;
  • coordenar a elaboração do Relatório de Inflação, das Notas do Conselho de Política Monetária - Copom e dos Comunicados das decisões do Copom;
  • coordenar os estudos e o desenvolvimento dos modelos necessários ao regime de metas para a inflação;
  • avaliar a situação econômica geral do País e propor à Diretoria Colegiada diretrizes de política econômica com vistas à deliberação e ao estabelecimento de normas sobre a matéria.

À exceção de alguns ajustes na frase do primeiro item, o conteúdo é praticamente idêntico ao que consta na página 26 do regimento do BC.

Trecho do regimento do Banco Central
Foto: Reprodução

Segundo este documento, as atribuições do diretor de política monetária, cargo ao qual Galípolo foi indicado, são outras. Por exemplo:

  • acompanhar a evolução dos agregados monetários do País e atuar no sentido do ajustamento da liquidez monetária e financeira aos objetivos dapolítica econômica e a obtenção da estabilidade de preços;
  • administrar a aplicação dos instrumentos de política monetária e de outros mecanismos colocados sob a sua supervisão;
  • apresentar, nas reuniões do Copom, sugestões sobre as diretrizes de política monetária e proposta para a definição da meta para a Taxa Selic, bem como divulgar as decisões tomadas pelo Comitê.

O nome de Galípolo é bem avaliado pelos senadores e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Para ser conduzido à diretoria, ele precisará ser aprovado na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, onde a questão será relatada por Otto Alencar (PSD-BA) e também no plenário da Casa.

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O comando do BC é feito pela diretoria colegiada, composta pelo presidente, Campos Neto, e mais oito diretores e os comitês (Copom, Comef e GRC). A liderança no Banco Central do Brasil é exercida pela Diretoria Colegiada (formada pelo presidente e mais oito diretores) e por seus comitês (Copom, Comef e GRC).

A coluna pediu manifestações a Galípolo e ao Ministério da Fazenda na manhã desta terça-feira, 30. A Fazenda se posicionou durante a tarde, após a publicação desta reportagem e informou que ''retificação do trecho citado pela reportagem foi assinada e remetida ao Senado". No entanto, não disponibilizou cópia da retífica à coluna e não deu explicações sobre o motivo do erro no documento de Galípolo.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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