Após a primeira grande derrota na Câmara, a avaliação da articulação do governo é de que a votação desta quarta-feira, 3, que derrubou parte dos decretos de Lula que alteram as regras de saneamento, foi um "recado de Lira". Por 295 votos a 136, os deputados derrubaram trechos da medida editada por Lula em abril. O texto vai para análise do Senado.
Desde o final de semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) critica publicamente a articulação política do governo Lula, cuja função está a cargo, principalmente, dos ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Casa Civil, Rui Costa.
Segundo o relato de uma fonte do governo responsável pelas articulações à coluna, apesar da derrota, avaliam que o revés não tem “nenhuma importância estratégica”. Ainda que esta fonte tente minimizar o impacto da votação, o líder do governo na Câmara, José Guimarães, deixou claro o descontentamento com o resultado.
"Acho que isso fica como lição para todos aqui dentro. É um recado? Evidente que é. Por várias razões. Eu sei o que está por trás disso. Essa decisão, que as maiorias dos líderes que participam do governo estão encaminhando contra o governo, fica registrado aqui", cobrou Guimarães.
Na terça-feira, 2, após críticas de Lira, Lula convidou o presidente da Câmara para uma reunião no Palácio da Alvorada onde discutiram a articulação.
Ainda assim, em entrevista à GloboNews, Lira seguiu dizendo que a articulação “é o maior problema do governo. Ele reúne, reúne, reúne e não decide”.
Lira chegou a pautar na semana passada o requerimento para conferir urgência ao PDL - instrumento pelo qual o Congresso derruba decretos editados pelo Executivo. Uma tentativa de negociação com o Planalto, contudo, deu alguns dias extras para o governo Lula tentar convencer a Câmara a manter os textos.
O prazo de uma semana dado para uma tentativa de acordo se esgotou. A derrota do governo na área de saneamento acontece num contexto ainda maior de preocupação para Lula.
Reformas econômicas
A principal pauta do governo Lula no Congresso é a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária. Os dois textos são considerados fundamentais para a melhora da economia. Apesar das críticas de Lira, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse em entrevista à coluna que o “fato de não ter maioria neste momento não atrapalha a pauta econômica”.