Lula se reúne com Pacheco e lideranças; entenda insatisfações e riscos no Senado

Senadores cobram mais espaço em cargos chave do governo federal em estados e reclamam de tratamento 'privilegiado' a Arthur Lira (PP-AL)

5 mar 2024 - 05h00
Lula e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante sessão de abertura dos trabalhos no Congresso
Lula e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante sessão de abertura dos trabalhos no Congresso
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado / Estadão

O presidente Lula (PT) receberá nesta terça, 5, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), lideranças partidárias e articuladores do governo para tentar melhorar a relação política. A base do governo naquela Casa está insatisfeita com a falta de espaço em cargos chave do governo federal nos estados e na condução de pautas do Planalto. A reunião deve acontecer no início da noite, no Palácio da Alvorada - residência oficial da Presidência. No final de fevereiro, Lula havia feito encontro nos mesmos moldes com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e lideranças daquela Casa.

As queixas são refletidas em derrotas no plenário, como no caso das saidinhas de presos. Na proposta do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a base de Lula foi atropelada e acabou votando pela pauta para evitar uma derrota pública. Outra pauta que ameaça o governo é a proposta do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para dar autonomia financeira à entidade. A medida, na prática, dá total autonomia para o BC, restringindo ainda mais a atuação do governo sobre a política monetária.

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Há a percepção entre os senadores, que o Planalto privilegia pedidos do presidente da Câmara, como cargos para Caixa e execução de emendas, mesmo ele fazendo cobranças públicas ao governo. Aliados de Pacheco contaram sob reserva que o senador não se posiciona declaradamente na base, mas faz gestos constantes ao governo ajudando na articulação, sem ameaçar a pauta e segura a pressão de bolsonaristas sem levar projetos do grupo ao plenário, por isso cobra reconhecimento.

Pacheco entende que o Senado ajudou a trazer de volta a discussão sobre a reoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, quando a Câmara ameaçava não retomar o tema.

A reoneração é uma das principais pautas econômicas de Lula neste ano e já tinha sido derrubada pelo Congresso. O governo editou uma medida provisória no final do ano na contramão da decisão dos parlamentares. Diferentes bancadas de centro e da oposição cobraram que Pacheco que devolvesse a MP. O ato é incomum e teria potencial para abrir uma crise com o governo. O presidente do Senado segurou a pressão, contornou a situação internamente e ajudou na construção de uma saída para que o tema volte à discussão, mas de forma gradual, via projeto de lei e, se aprovado, sem efeitos imediatos.

Oposição cresce

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Ao longo do ano passado, pelos corredores do Senado, era comum ouvir reclamações de senadores da base, sem que implcassem em derrotas para o governo. Não só de nomes da esquerda, mas também daqueles que integram partidos de centro como MDB e PSD, onde há quadros cujo apoio e identificação com Lula vêm de antes da eleição.

Em meio à turbulenta relação com Lira, Lula entrou pontualmente na articulação e o Senado passou a ser visto como porto seguro para o governo. Mas há uma percepção de que o descontentamento aumentou. A oposição conta hoje com 35 votos dos 81 senadores. No começo de 2023, o número era menor, e variava entre 27 e 30 nas votações. O número atual é 10% maior do que a votação que o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), teve quando disputou a Presidência com Pacheco. Na ocasião, Marinho recebeu apoio de 32 colegas e Pacheco, 49, entre eles, governistas.

Outro fator que acendeu um alerta nos governistas foi o tratamento dado a Renan Calheiros (MDB-AL), aliado de primeira hora de Lula.

O senador alagoano foi tirado da CPI da Braskem, que ele próprio articulou a criação. O caso do afundamento de minas da Braskem em Maceió (AL) alimenta uma disputa regional em Brasília, entre Calheiros e Lira, este último, aliado do prefeito da capital, João Henrique Caldas (PL). Pelo Senado, atribuem a Lira a movimentação para tirar Calheiros da CPI.  O caminho do senador também foi dificultado por senadores da base, como Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar (PSD), ambos da Bahia, que temem desdobramento de ações sobre a Petrobras, acionista da empresa.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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