O presidente Lula (PT) receberá nesta terça, 5, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), lideranças partidárias e articuladores do governo para tentar melhorar a relação política. A base do governo naquela Casa está insatisfeita com a falta de espaço em cargos chave do governo federal nos estados e na condução de pautas do Planalto. A reunião deve acontecer no início da noite, no Palácio da Alvorada - residência oficial da Presidência. No final de fevereiro, Lula havia feito encontro nos mesmos moldes com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e lideranças daquela Casa.
As queixas são refletidas em derrotas no plenário, como no caso das saidinhas de presos. Na proposta do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a base de Lula foi atropelada e acabou votando pela pauta para evitar uma derrota pública. Outra pauta que ameaça o governo é a proposta do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para dar autonomia financeira à entidade. A medida, na prática, dá total autonomia para o BC, restringindo ainda mais a atuação do governo sobre a política monetária.
Há a percepção entre os senadores, que o Planalto privilegia pedidos do presidente da Câmara, como cargos para Caixa e execução de emendas, mesmo ele fazendo cobranças públicas ao governo. Aliados de Pacheco contaram sob reserva que o senador não se posiciona declaradamente na base, mas faz gestos constantes ao governo ajudando na articulação, sem ameaçar a pauta e segura a pressão de bolsonaristas sem levar projetos do grupo ao plenário, por isso cobra reconhecimento.
Pacheco entende que o Senado ajudou a trazer de volta a discussão sobre a reoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, quando a Câmara ameaçava não retomar o tema.
A reoneração é uma das principais pautas econômicas de Lula neste ano e já tinha sido derrubada pelo Congresso. O governo editou uma medida provisória no final do ano na contramão da decisão dos parlamentares. Diferentes bancadas de centro e da oposição cobraram que Pacheco que devolvesse a MP. O ato é incomum e teria potencial para abrir uma crise com o governo. O presidente do Senado segurou a pressão, contornou a situação internamente e ajudou na construção de uma saída para que o tema volte à discussão, mas de forma gradual, via projeto de lei e, se aprovado, sem efeitos imediatos.
Oposição cresce
Ao longo do ano passado, pelos corredores do Senado, era comum ouvir reclamações de senadores da base, sem que implcassem em derrotas para o governo. Não só de nomes da esquerda, mas também daqueles que integram partidos de centro como MDB e PSD, onde há quadros cujo apoio e identificação com Lula vêm de antes da eleição.
Em meio à turbulenta relação com Lira, Lula entrou pontualmente na articulação e o Senado passou a ser visto como porto seguro para o governo. Mas há uma percepção de que o descontentamento aumentou. A oposição conta hoje com 35 votos dos 81 senadores. No começo de 2023, o número era menor, e variava entre 27 e 30 nas votações. O número atual é 10% maior do que a votação que o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), teve quando disputou a Presidência com Pacheco. Na ocasião, Marinho recebeu apoio de 32 colegas e Pacheco, 49, entre eles, governistas.
Outro fator que acendeu um alerta nos governistas foi o tratamento dado a Renan Calheiros (MDB-AL), aliado de primeira hora de Lula.
Diante de manobras na tentativa de domesticar a CPI, decidi não participar da Comissão. Expliquei as razões em um pronunciamento na própria reunião. pic.twitter.com/9wTUxlEIaB
— Renan Calheiros (@renancalheiros) February 21, 2024
O senador alagoano foi tirado da CPI da Braskem, que ele próprio articulou a criação. O caso do afundamento de minas da Braskem em Maceió (AL) alimenta uma disputa regional em Brasília, entre Calheiros e Lira, este último, aliado do prefeito da capital, João Henrique Caldas (PL). Pelo Senado, atribuem a Lira a movimentação para tirar Calheiros da CPI. O caminho do senador também foi dificultado por senadores da base, como Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar (PSD), ambos da Bahia, que temem desdobramento de ações sobre a Petrobras, acionista da empresa.