Opinião: Apesar da vantagem de Nunes, eleição terá emoção até o final

É na reta final que muito eleitor repensa, ou de fato pensa no seu voto e, principalmente, se irá votar.

25 out 2024 - 13h11
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), candidatos à Prefeitura de São Paulo, no primeiro debate do segundo turno da eleição municipal 2024 promovido pela TV Band na última segunda-feira, 14.
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), candidatos à Prefeitura de São Paulo, no primeiro debate do segundo turno da eleição municipal 2024 promovido pela TV Band na última segunda-feira, 14.
Foto: Taba Benedicto/Estadão / Estadão

Desde a passagem ao segundo turno, Ricardo Nunes (MDB) lidera com folga as pesquisas de intenção de votos. O atual prefeito joga parado, evitando exposições desnecessárias, como um time que ganha por 3x0 aos 30 minutos do segundo tempo. Isso permitiu que ele se desse ao luxo de evitar debates e confrontos diretos e administrasse as críticas e o tom da campanha sem sobressaltos.

O adversário Guilherme Boulos (Psol) mostrou sinais de reação e sua campanha acredita que essa pequena variação pode ganhar corpo e se transformar numa onda que vire o jogo até domingo. É um cenário extremamente difícil e um tanto improvável, mas não impossível.

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A caravana de Boulos, que nesta semana passou por diversas regiões da capital, mostrou o candidato em uma espécie de BBB da eleição: dormindo na casa de pessoas comuns, andando por feiras, mercados, barbearias e também em palanques com figurões da política. Tudo ao vivo, nas redes sociais, buscando engajamento. A ralação trouxe algum ânimo para a campanha. Nesta quinta, 24, conversei com o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) sobre a percepção dessa reta final.

“Boulos tem duas provas de fogo, a sabatina com Marçal e o debate da Globo. Marçal fez o desafio esperando que ninguém aceitasse, Boulos surpreendeu e dependendo do desempenho, a repercussão pode ser gigante”, analisou o ministro.

Escrevo essa newsletter pela manhã, antes do encontro de Boulos e Marçal, marcado para às 12h. E como nos debates, mais importante do que a conversa em si, será a repercussão que a sabatina terá nas redes sociais até o domingo.

Teixeira, que esteve na coordenação da campanha de Lula (PT) em 2022 e participa da Boulos como apoiador, vê que Nunes oscilou por três motivos: o apagão que atingiu a capital, o mau desempenho em debates e aparições ao lado de Jair Bolsonaro (PL). 

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O ex-presidente esteve ausente, ou como disse Silas Malafaia, foi "covarde" e “omisso”, no primeiro turno e agora apareceu. A campanha de Nunes nem fazia tanta questão de sua participação com receio de colher alguma rejeição do eleitor de centro e por saberem que o grosso dos votos bolsonaristas, naturalmente estaria com o emedebista.

Nesse cenário, Nunes clama para que seu eleitor vá votar. O prefeito sabe que o importante não é a intenção de voto, é apertar o “15 e confirma” na urna. Principalmente para uma candidatura que não desperta grandes emoções como a dele.

No primeiro turno, as ruas de São Paulo estavam mais tranquilas do que de costume para um domingo de Sol e tempo bom. Essa percepção de cidade mais esvaziada pôde ser confirmada horas mais tarde, quando se descobriu a abstenção, 27,3%. O índice só ficou atrás da taxa registrada em 2020, em meio à pandemia (29,3%), ou seja, quando havia condições totalmente excepcionais.

No segundo turno, o que costuma acontecer é um leve aumento na abstenção. A ver.

O Datafolha desta quinta, 24, mostrou que entre os eleitores de Nunes, 30% dizem que votam por ele ser o candidato ideal. Já 69% dizem que é por não ter opção melhor. É provável que nesta fatia maior estejam os eleitores de Pablo Marçal (PRTB). Esses, assim como quem prefere Boulos, são os mais dispostos a irem votar faça Sol ou chuva. E eles que vão ser o fiel da balança. Não só pela opção de voto que fizeram, mas como pela opção de votar ou não.

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Sobre Boulos 54% de seus apoiadores o considera o ideal e 46% vão com ele por não ter candidato melhor. Sem uma grande novidade que altera o cenário, o psolista conta voto a voto: os que pode conquistar do eleitor de Marçal, os que tirou de Nunes, aqueles cerca de 50 mil que votaram “13” em vez de “50” - e anularam seu voto - e por aí vai.

No primeiro turno a emoção se deu para saber quem avançaria. No fim das contas, a disputa ficou apertada entre 4 possibilidades:

Nunes - 29,48%

Boulos - 29,07%

Marçal - 28,14%

Abstenção - 27,3%

Até a manhã desta sexta, o cenário era de grande favoritismo a Nunes e não mostra cartas embaralhadas ou possibilidades de reviravoltas. Ainda assim, é na reta final que muito eleitor repensa, ou de fato pensa no seu voto e, principalmente, se irá votar.

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Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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