O resultado do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desta sexta, 30, ao que parece, não matará o bolsonarismo. Como o capitão disse à Folha, nesta semana: “o que nós plantamos ao longo de quatro anos não foi blábláblá. Eu fui para o meio da massa, bafo na cara, arriscando levar um tiro, uma facada”.
A sociedade está dividida, Lula (PT) venceu com 50,9% dos votos, contra 49,1% de Bolsonaro. Acontece, que no mundo dos gabinetes de Brasília, onde a política institucional se dá, mesmo tendo mais votos do que nunca, o bolsonarismo voltou à sua origem, o baixo clero. Explico:
Para se ter poder no Congresso, só o voto do eleitor não basta. É necessário a confiança entre seus pares para fazer a roda girar. Os puxadores do voto bolsonarista, sejam os filhos, passando por Nikolas Ferreira (PL-MG), Filipe Barros (PL-PR), Carol de Toni (PL-SC) e Carla Zambelli (PL-SP), não têm uma atuação consistente no Parlamento. Exemplos não faltam.
Nesta quinta, 29, enquanto o TSE seguia o julgamento, o filho 02, Eduardo, comandava uma reunião vazia com outros asseclas para dizer que são a “resistência” ao sistema que oprime os conservadores. Há um mês, Deltan Dallagnol (Podemos-PR), mais votado no Paraná, se apinhou com cerca de 40 parlamentares para falar contra a decisão do TSE que cassou seu mandato. Ali, não havia ninguém com musculatura para sequer convencer o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a recebê-lo para conversar sobre a decisão.
No começo do ano, sem qualquer habilidade política, os bolsonaristas que pediram investigação do 8 de janeiro, tomaram uma rasteira da bagunçada base de Lula, que comanda a CPMI.
Em 2022, pela primeira vez desde a redemocratização, o centrão teve um candidato a presidente com chances de vencer. O capitão saíra de vez do baixo clero, estava na nata do Congresso. Mas, como já disse Ricardo Salles (PL-SP), “o centrão ganhou”. A coligação formada por PP, PL e Republicanos encheu suas fileiras com mais de 100 deputados, muitos que, aliás, barganham espaço no governo petista.
Quem faz política circula pelo plenário e pela Mesa Diretora. Os bolsonaristas se acomodam nas últimas cadeiras do plenário, à sombra, à margem, onde habita o baixo clero. Assentos nos quais o deputado Jair Bolsonaro passou boa parte dos seus 28 anos de Parlamento. Ali, não é raro encontrar figuras com votos de sobra e atuação insignificante, como o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (PL-RJ), segundo mais votado no Rio.
Não foi à toa que Bolsonaro foi pro meio da massa tomar bafo na cara. O bolsonarismo sem articulação em Brasília tem o voto daquele seu tio tosco do churrasco, dos conservadores e antipetistas. Com a decisão do TSE, o candidato deixará a competição aqui, mas o campeonato está longe de terminar.
Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.