A primeira pesquisa Datafolha no segundo turno de São Paulo indicou que Ricardo Nunes (MDB) tem 55% das intenções de votos contra 33% de Guilherme Boulos (Psol). O emedebista pode comemorar aliviado. O resultado mostra, não só a larga e confortável vantagem, mas principalmente que esse cenário se moldou sem que ele precisasse implorar pelo apoio de Jair Bolsonaro (PL) e muito menos botar Pablo Marçal (PRTB) em seu palanque.
No primeiro turno, a luta para conseguir acenos do ex-presidente, que só oficialmente apoiava sua chapa, se deu até o último dia de campanha. O pastor e referência no bolsonarismo, Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, atuou de forma militante e agressiva contra o radical Pablo Marçal. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) entrou de cabeça na campanha, assim como a coligação de 11 partidos do centrão paulista (PP / MDB / PL / PSD / Republicanos / Solidariedade / Pode / Avante / PRD / Mobiliza / União).
Isso tudo e a máquina na mão não impediram que a chegada ao segundo turno fosse com emoção. Nunes ficou em primeiro com cerca de 25 mil a mais que Boulos. Marçal terminou em terceiro, faltando 60 mil votos para seguir na disputa.
Se considerarmos que quase 50 mil pessoas anularam o voto por digitarem 13 na urna, podemos considerar que o psolista [cujo número é 50] poderia ter chegado em primeiro. É difícil cravar que todos esses votos foram por engano, de certo há votos de protesto nesse meio. Mas essa não é a questão aqui. O importante é entender como tudo o que foi feito pelos três candidatos no primeiro turno não foi suficiente para dar segurança a ninguém.
No bolsonarismo houve um estremecimento pela grande votação de Marçal. Malafaia disparou contra o ex-presidente chamando-o de “covarde” e “omisso” em entrevista à Folha de S. Paulo.
Bolsonaro sinaliza, agora, que pode entrar na campanha de Nunes, como já era esperado no primeiro turno. É importante saber como ele atuará, se poderá implicar em aumento de rejeição, já que os votos de sua base já foram, ao que indica o Datafolha, para Nunes.
Mesmo com as tensões e trincas na direita e extrema-direita, Nunes já abocanha a maior parte desses eleitores. Mas como Nunes conseguiu, então, essa convergência logo de cara? Não foi por habilidade política, já que pouco abraçou Bolsonaro e rejeitou o apoio de Marçal.
Há vários fatores que nos ajudam a entender. A briga de Nunes, no primeiro turno, foi no próprio ninho, na direita e extrema-direita. Agora é a clássica direita x esquerda, ou algo próximo a isso, e todo esse espectro vê ele como a única alternativa disponível. Como sugeriu Bolsonaro em live a dois dias da eleição: “quem tiver dificuldade, faz assim [fez gesto de tapar os olhos] e vota 15 [número de Nunes]”.
Além disso, Nunes tem boa avaliação da gestão, traz aquele tom morno de quem não provoca provoca emoções no eleitor e por isso passa batido, deixando a coisa como está, os cabos eleitorais, etc.
E um dos pontos mais importantes, a rejeição de Boulos está em 56% contra 37% do emedebista. Essa “variável”, digamos assim, está em disputa no segundo turno.
Ao olhar os dados disponíveis no G1, que contratou o levantamento junto com a Folha de S. Paulo, percebemos que Boulos lidera a rejeição em todos os estratos:
Sexo (masculino e feminino)
Idade (16 a 24 anos; 25 a 34 anos; 35 a 44 anos; 45 a 59 anos; 60 anos ou mais)
Cor (branca, parda, preta)
Renda domiciliar (até 2 SM, de 2 a 5 SM, mais de 5 SM)
Religião (católica e evangélica)
Escolaridade (fundamental, fundamental médio, superior)
O cenário se inverte completamente na intenção de voto estimulada - quando aparece o nome dos concorrentes. Aí, é Nunes quem lidera em todos os segmentos.
O segundo turno é outra eleição. Começa nesta sexta, 11, a campanha de rádio e TV, um elemento super importante para a disputa. Boulos e Nunes terão o mesmo tempo para se promover e desgastar o adversário. Podemos imaginar uma campanha agressiva, ainda que não seja tão bestial como nas últimas semanas.
Nesta quarta, 10, Boulos correu para Brasília, provocou uma pauta com Lula (PT) para discutir projeto de crédito para mulheres empreendedoras de pequenos negócios, e gravou peças para propaganda de rádio e TV. Sua campanha reforça cada vez mais a presença de Marta Suplicy (PT), a vice, acena a motoristas de corrida e entrega por aplicativo e mira na periferia que Lula venceu em 2022 e, que agora, preferiu Marçal.
Nunes fugiu do primeiro debate e deve jogar parte da partida parado, sem grande pirotecnia.
O desafio para Boulos é imenso. Ele precisará desidratar Nunes, aumentar a rejeição ao prefeito e diminuir a sua própria, e conquistar votos para se tornar competitivo. Tudo isso em 15 dias. Ainda que o cenário seja o mais confortável possível para Nunes, o jogo só termina quando fecharem a última urna, no dia 27 de outubro.
Bom fim de semana!
Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro.