A agressão física de Datena (PSDB) às provocações de Pablo Marçal (PRTB) foi o pior momento - até aqui - da campanha deste ano à prefeitura de São Paulo. O ex-coach é provocador e propaga um discurso violento desde o início da corrida, seja quando tenta culpar Tabata Amaral (PSB) pelo suicídio do pai, que era dependente químico, seja ao sugerir que Guilherme Boulos (Psol) é usuário de cocaína - uma fala sem fundamento.
O primeiro debate, em agosto, já mostrava o nível baixo das discussões entre os atuais postulantes à comandar a maior cidade do país. A qualidade piorou, e muito. Neste domingo, 15, presenciamos o ápice dessa escalada violenta.
A violência e a política se cruzam há milênios em guerras, golpes, assassinatos. Todo mundo já ouviu a fala “até tu, Brutus?”, que teria sido dita pelo imperador romano Júlio César quando era assassinado por um grupo de senadores.
O Brasil é um país historicamente violento, principalmente com negros, indígenas, mulheres e pobres. E há pelo menos 10 anos, pulsa no país uma veia que normaliza a violência e o ódio como ferramentas políticas na política institucional: no Congresso, nas Câmaras de vereadores, etc. Ataques a adversários, jornalistas, países vizinhos ou parceiros comerciais se tornaram algo rotineiro.
O discurso de ódio dos últimos anos é uma tônica da extrema direita. Jair Bolsonaro (PL) e o gabinete do ódio amplificaram essa prática nos quatro anos de gestão que tiveram. Isso quem diz é a Polícia Federal, que investiga indícios de que o antigo governo tinha uma estrutura montada para atacar "inimigos" políticos nas redes sociais (destaquei em aspas para mostrar que, na lógica deles, quem diverge não é adversário e sim algo a ser combatido). Bolsonaro e os demais investigados negam o gabinete do ódio.
Mas o ódio e a violência extrapolam esse espectro político. O próprio Bolsonaro foi alvo de um atentado a facada que quase lhe tirou a vida, quando era candidato em 2018.
Assim é o caso de Datena. Ele se coloca como um nome de centro e, a princípio, avesso às práticas de ódio na política. Ele já tinha ameaçado agredir Marçal em outro encontro mas recuou. Hoje, provou que a violência está à flor da pele.
O caso deste domingo aconteceu justamente no debate mais rígido que tivemos. Foram estipuladas diversas regras para tentar minimizar as agressões e trocas de acusações e as lacrações em redes sociais. Como se viu, não funcionou. O programa até começou morno, mas saiu de controle.
O ex-apresentador de TV reagiu às provocações e ataques verbais de Marçal partindo para agressão física. Nada disso deixa o ato animalesco de Datena menos grave e condenável.
O condutor do debate, Leão Serva, interrompeu o programa e chamou os comerciais. No segundo seguinte, o assunto já tomava as redes sociais.
O debate voltou na TV. E seguiu com o tom agressivo de Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB) trocando acusações e xingamentos. Tabata e Marina Helena (Novo), ao contrário, mantiveram a decência e o respeito.
Esse fato político novo na eleição - uma agressão física entre candidatos - vai ser explorado pelos postulantes, mesmo que seja em tom de condenação do ato. Ou seja, eleitor, a violência continuará rendendo engajamento político e likes em rede social.