Em menos de 24 horas a terraplana do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua trupe capotou. E foi um capote daqueles, que deixou toda turma zonza, sem saber se o motorista que atingiu a caravana golpista estava na direção ou agarrado ao para-choque do caminhão de denúncias.
Às seis horas da manhã de quinta-feira, 17, o dia já esquentava. A Polícia Federal (PF) prendeu influenciadores, cantora gospel e demais suspeitos por financiar os ataques golpistas. Poucas horas depois, o hacker da “Vaza Jato”, Walter Delgatti, abriu um arsenal com tiro, porrada e bomba que deixaria com inveja Roberto Jefferson (aquele que atirou granadas e disparou com fuzil contra policiais federais).
À noite, mais duas notícias que por si só seriam assunto em qualquer botequim vieram às manchetes. A primeira: a defesa do ex-ajudante de ordens e tenente-coronel Mauro Cid disse que o militar vai confessar que cometeu crimes a mando de Bolsonaro; e a segunda: o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a quebra de sigilo fiscal e bancário de Bolsonaro e da ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro.
Dez meses após perderem as eleições, a casa caiu para o pelotão bolso-militar. Os fardados serviram como o braço forte e mão amiga para governar e se lançar sobre operações criminosas com vacinas, joias e golpe de estado, segundo apontam as investigações.
Delgatti disse, que a mando de Bolsonaro, ajudou os milicos a bolarem um relatório sobre fraude nas urnas. A fala é uma prova testemunhal das reuniões no Ministério da Defesa, que de fato aconteceram.
"A ideia do ministro [general do Exército Paulo Sérgio Nogueira] era que eu mostrasse que não é segura, que é vulnerável a urna. O relatório foi feito nesse sentido, de não comprovar a lisura", disse o hacker à CPMI. O general, até aqui, não havia se manifestado sobre as declarações.
Na realidade, não há o mínimo indício de qualquer trapaça nas urnas. O que a PF investiga são tentativas reiteradas da turma de Bolsonaro de fraudar a eleição.
A cada dia fica mais nítido que retrato das Forças Armadas brasileiras se mistura com o do ex-presidente. Quando se fala em crime e política, os jornais estampam fotos de Bolsonaro e militares de diversas patentes.
Todas as Forças têm em algum caso criminoso vinculado à Presidência na conta: tráfico de cocaína no avião da FAB, joias não declaradas com um almirante da Marinha, e Rolex do Estado na mão de general do Exército.
Nessas tramas todas há “um quê” de “tabajarismo” tosco, feito de modo trambiqueiro ao estilo baixo clero de sempre. Quem comia farofa porcamente e pão com leite condensado para parecer “um homem do povo”, na realidade, nos diz a PF, estava metido num esquema de desvio de joias do acervo presidencial e arquitetando crimes gravíssimos como tentativa de golpe de Estado.
É difícil saber o que a trupe imaginava que poderia lhes inocentar. Talvez acreditassem que venceriam a eleição, ou dariam um golpe. Cid diz que vai dedar os comparsas. Bolsonaro e os demais envolvidos seguem negando quaisquer irregularidades.
Os próximos capítulos devem mostrar um jogo de empurra. General jogando pra coronel, que vai rebater para capitão, que devolverá para comandante. Pelo que ouvi na Polícia Federal não há receio algum de se prender militar criminoso. Seja o que pinta calçada, seja o que vende Rolex.
E pensar que hoje a PF avança a passos largos na investigação sobre as joias muito por conta dos dados obtidos no celular de Mauro Cid. O aparelho foi apreendido, vejam só, durante investigação sobre fraude no cartão de vacina. Nunca é tarde para se vacinar, mas agora é hora de assumirem a responsabilidade dos crimes e trapalhadas fardadas. Vacine-se!
Bom fim de semana!
Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.