Opinião: Eleição americana mostra a força do extremismo

Os Estados Unidos vivem do mesmo mal que atinge o Brasil, políticos extremistas com discursos raivosos e promessas de soluções simples.

1 nov 2024 - 13h01
(atualizado às 13h13)
O ex-presidente e candidato republicano, Donald Trump.
O ex-presidente e candidato republicano, Donald Trump.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Uma pesquisa do instituto Gallup, publicada em 9 de outubro, indica que, para os americanos, a economia é o principal assunto desta eleição entre 22 temas, e "pode ser um fator importante para 9 em cada 10 eleitores". Mas não é só o bolso que deveria pesar nesta disputa. Além da proposta econômica, o voto do cidadão americano, conscientemente ou não, vai determinar se o extremismo venceu.

Mas as coisas não andam tão mal por lá. A inflação que chegou ao maior índice em 40 anos, 9,1% em junho de 2022, no pós-pandemia, em setembro último foi de 2,4%. O desemprego está em 4,1%, o que já pode ser considerado uma situação de pleno emprego.

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Os ganhos salariais e gastos dos consumidores refletiram no PIB - soma de todos os bens e serviços produzidos. O indicador manteve um ritmo consistente de crescimento no terceiro trimestre, a uma taxa anualizada de 2,8%.

Ainda assim, há incômodo com os preços entre os americanos e isso, naturalmente, reflete mal na vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris. Tanto ela quanto Trump concentram esforços para conquistar o voto da classe trabalhadora dos EUA, que vem ficando cada vez mais conservadora, como apontava o destaque na página do The New York Times na manhã desta sexta, 1º de novembro.

O ex-presidente republicano Donald Trump agora é uma figura mais verdadeira e com menos amarras. O candidato que tenta voltar à Casa Branca, concorre sendo um condenado por fraude, defendendo ideias mais protecionistas e antiliberais, com mais ódio aos imigrantes e mais apego às fake news.

Na eleição deste ano, uma das mentiras que acompanham a disputa presidencial é a de que imigrantes comem seus animais de estimação na cidade de Springfield, no estado de Ohio. O caso ganhou repercussão mundial na boca de Trump e provocou um pandemônio na pequena cidade com pelo menos 30 registros de ameaça de bomba. 

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A situação foi tão catastrófica que o prefeito de Springfield, Rob Rue, do partido de Trump, reclamou dizendo que sua comunidade “precisa de ajuda, não de ódio daqueles que falam de nós a nível nacional”.

Nesta semana, o republicano fez um grande ato em Nova York, cidade onde construiu seu império e historicamente tem maioria democrata. Os relatos da imprensa dão conta de uma multidão hipnotizada com os discursos. Não seria diferente, já que ele é um líder populista com eleitorado fiel.

O evento foi um desfile de atrocidades racistas, preconceituosas e obscenas. O comediante e apoiador do republicano, Tony Hinchcliffe, comparou Porto Rico - sob domínio americano - a uma "ilha de lixo". Pegou tão mal que a assessora de Trump Danielle Alvarez soltou um comunicado dizendo que a "piada de Hinchcliffe não reflete a opinião do Presidente Trump ou da campanha". E o próprio Trump se defendeu dizendo que não conhecia o comediante.

Trump, tentou roubar as eleições em 2021. Naquele ano, ele fez uma ligação para a maior autoridade eleitoral do estado da Geórgia pedindo que ele “encontrasse” 11.780 votos em seu favor, o que lhe permitiria a reeleição. 

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Além disso, o comitê que investigou o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 2021 informou que o ex-presidente Donald Trump estava por trás de uma "tentativa de golpe" para se manter no poder no país, logo após perder as eleições para Joe Biden.

O ex-presidente passou a chamar a vice-presidente de “comunista”. É mais um delírio da extrema direita que cria um inimigo para sustentar o discurso de ódio. É uma afirmação ridícula, mas é ainda mais ridículo saber que há quem acredite nisso.

Aliás, para a revista britânica The Economist, o risco ao capitalismo de hoje é justamente Trump. A publicação fundada em 1843 e desde sempre na defesa de ideias liberais clássicas publicou um editorial - a opinião do veículo - nesta semana, apoiando Kamala.

“Às vezes parece que Trump quer voltar ao século 19, usando tarifas e isenções fiscais para recompensar seus amigos e punir seus inimigos, bem como para financiar o Estado e minimizar os déficits comerciais. A política ainda pode destruir as fundações da prosperidade dos Estados Unidos”, escreveu a The Economist.

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O que mais impressiona é que o histórico de crimes e fraudes do ex-presidente não foram um obstáculo para essa campanha. Os Estados Unidos vivem do mesmo mal que atinge o Brasil, políticos extremistas com discursos raivosos e promessas de soluções simples (e falsas) para problemas complexos, como a economia.

Trump, até aqui, se mostrou competitivo e em condições de voltar à Casa Branca. As pesquisas de intenção de voto indicam que os dois candidatos estão empatados. A eleição na terça, 5, é uma oportunidade para sabermos se, de fato, o extremismo venceu.

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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