O ambiente político mudou radicalmente e oscilou entre o clima de inovação e de incerteza quando a jornalista da Folha de S. Paulo Mônica Bergamo revelou que Lula (PT) e o histórico adversário Geraldo Alckmin, então no PSDB, negociavam uma chapa juntos para derrotar a extrema direita de Jair Bolsonaro (PL). Estávamos no final de 2021. Dali, evoluíram as conversas para que o tucano voasse para o ninho do PSB e firmasse o acordo com os petistas no que foram os primeiros movimentos da frente ampla em 2022.
Com o desenrolar da campanha e a disputa no segundo turno acirrada, outros aliados importantes (MDB e PDT) se juntaram no front contra a chapa Bolsonaro, PP e Republicanos.
O simbolismo da frente ampla teve seu ápice na posse, em janeiro de 2023. Quando o PT retomou o controle da Presidência. Naquele 1º de janeiro, Bolsonaro tinha sumido para os Estados Unidos, e representantes do povo entregaram a faixa ao petista: uma mulher negra, uma pessoa com deficiência, um indígena, uma criança negra e um operário.
Seis meses após Lula subir a rampa do Planalto, a frente ampla está sendo esgarçada sob a justificativa da governabilidade. Os partidos que turbinaram a campanha de Bolsonaro em nome da reeleição negociam abertamente cargos com o governo em troca de apoio. E o governo negocia abertamente com esses partidos.
Nós, jornalistas que cobrimos essas movimentações, tentamos entender o quebra-cabeças que está sendo montado, quem vai para que lado, quando e por quê? As fontes que acompanham as negociações relatam que PP e Republicanos já têm nomes prontos para assumirem os ministérios, seja lá o ministério que for. A conversa se dá pensando em votos na Câmara. Não há diálogo em torno de projetos ou programas.
Lula diz que tratará com transparência as negociações, mas até aqui é só confusão. Há mais de um mês é pela imprensa que as especulações e os recados são dados. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse à Folha que o apoio de PP e Republicanos faz parte de “um novo ciclo e construção da frente ampla”.
Mas quem começou a construir o que viria a se tornar a “frente ampla” sabe tanto das atuais articulações quanto você, que lê essa newsletter. À margem das negociações, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, me disse em entrevista exclusiva que oficialmente não sabe de troca de ministro nenhum. Seu partido tem três ministérios com Flávio Dino (Justiça), Alckmin (Indústria e Comércio) e Márcio França (Portos e Aeroportos), os últimos dois são especulados pelo Centrão. Mas Siqueira sabe disso porque escrevemos na imprensa, ninguém do governo o procurou para tratar das mudanças.
“Estou achando que se aprofunda a anomalia de um sistema político um pouco carcomido que precisa se aperfeiçoar. Mas se querem colaborar para que isso continue, que façam. A responsabilidade é de quem faz”, disse Siqueira sobre a entrada do Centrão, pontuando uma visão totalmente oposta à de José Guimarães.
Aproveito para te convidar para ler esta entrevista e entender melhor os rumos (ou descaminhos) que pode tomar o governo Lula.
Bom fim de semana!
Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.