Opinião: O que há de motivação política no caso Marielle e Anderson

Uma decisão política do governo Lula determinou que o caso ficasse no topo das prioridades da Polícia e fosse tratado de maneira técnica

28 jul 2023 - 12h18
Vereadora Marielle Franco foi assassinada no Rio de Janeiro em 2018
Vereadora Marielle Franco foi assassinada no Rio de Janeiro em 2018
Foto: Divulgação/CMRJ / Estadão

Cinco anos e meio depois de tiros de metralhadora assassinarem a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e seu motorista Anderson Gomes, a investigação do caso atingiu um novo patamar. Com base na delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz e novas provas colhidas, a Polícia Federal reorganizou o rumo do caso, foi à casa do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, para prendê-lo. Os policiais seguem com aparente convicção na busca dos mandantes e as motivações do crime.

Confrontado por provas e sem receber os pagamentos dos comparsas que ajudavam nas despesas e advogado, o réu confesso Queiroz abriu o bico para dar detalhes do que aconteceu antes, durante e depois do assassinato. Dedurou Ronnie Lessa, acusado de ter puxado o gatilho contra as vítimas, e o ex-bombeiro Suel, suspeito de participar do planejamento do crime.

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Sob comando dos órgãos de segurança do Rio de Janeiro foram presos Lessa, Queiroz e até Suel, que até então cumpria prisão domiciliar. Os órgãos de segurança do Rio também foram responsáveis por chegar a dar a sensação de que as investigações patinavam (propositalmente ou não) até a entrada da PF. E a entrada da PF se deu por uma decisão política.

Para ser bem claro: uma decisão política do governo Lula (PT) e do ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que o caso entrasse no topo das prioridades da PF. Isso é uma coisa. Outra coisa é o trabalho feito pela PF a partir dessa orientação: um trabalho policial e técnico. É disso que se trata.

Dizer que a operação é política é cinismo e desonestidade com nosso raciocínio. E isso foi feito pelos nomes da Lava Jato, Sergio Moro e Deltan Dallagnol, e bolsonaristas que tentavam comparar o caso à morte do ex-prefeito Celso Daniel, e à investigação da facada de Bolsonaro. Jair Bolsonaro, aliás, não fez qualquer menção à operação da última segunda.

A família Bolsonaro, que homenageava com medalhas milicianos na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e empregava familiares desses criminosos em seus gabinetes, sempre minimizou a atuação dessas organizações criminosas.

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Na (limitada) visão de mundo dos Bolsonaro, milícia não é um problema grave. Quero destacar que até onde se sabe, não há nada que indique qualquer participação da família Bolsonaro no assassinato de Marielle e Anderson.

Nas primeiras semanas de janeiro, poucos dias após os ataques do dia 8, uma fonte do alto escalão do Ministério da Justiça me garantia: "o caso Marielle é prioridade da gestão e será solucionado". Naqueles dias, toda energia da pasta estava sendo utilizada para estancar os danos causados pela trupe verde-amarelo-golpista. Com a crise estancada, as ações no caso Marielle andaram.

A investigação do caso corre sob sigilo, assim como parte da delação de Queiroz, os materiais colhidos com Suel e outras provas levantadas ao longo dos últimos meses. O que sabemos é que novas operações virão, segundo disse Dino após a operação.

Sem dar muitas pistas sobre onde pode chegar a investigação, não é possível estimar o impacto que trará para a segurança pública do Rio. O fato é que os fios que estão sendo puxados pelos investigadores saem de novelos que embaralham grupos de matadores de aluguel, jogo do bicho, milícias e, claro, políticos. O que há de diferente em relação ao governo Bolsonaro, é que agora há uma motivação política para as investigações avançarem. Vamos ver até que ponto.

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Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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