Cinco anos e meio depois de tiros de metralhadora assassinarem a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e seu motorista Anderson Gomes, a investigação do caso atingiu um novo patamar. Com base na delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz e novas provas colhidas, a Polícia Federal reorganizou o rumo do caso, foi à casa do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, para prendê-lo. Os policiais seguem com aparente convicção na busca dos mandantes e as motivações do crime.
Confrontado por provas e sem receber os pagamentos dos comparsas que ajudavam nas despesas e advogado, o réu confesso Queiroz abriu o bico para dar detalhes do que aconteceu antes, durante e depois do assassinato. Dedurou Ronnie Lessa, acusado de ter puxado o gatilho contra as vítimas, e o ex-bombeiro Suel, suspeito de participar do planejamento do crime.
Sob comando dos órgãos de segurança do Rio de Janeiro foram presos Lessa, Queiroz e até Suel, que até então cumpria prisão domiciliar. Os órgãos de segurança do Rio também foram responsáveis por chegar a dar a sensação de que as investigações patinavam (propositalmente ou não) até a entrada da PF. E a entrada da PF se deu por uma decisão política.
Para ser bem claro: uma decisão política do governo Lula (PT) e do ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que o caso entrasse no topo das prioridades da PF. Isso é uma coisa. Outra coisa é o trabalho feito pela PF a partir dessa orientação: um trabalho policial e técnico. É disso que se trata.
Dizer que a operação é política é cinismo e desonestidade com nosso raciocínio. E isso foi feito pelos nomes da Lava Jato, Sergio Moro e Deltan Dallagnol, e bolsonaristas que tentavam comparar o caso à morte do ex-prefeito Celso Daniel, e à investigação da facada de Bolsonaro. Jair Bolsonaro, aliás, não fez qualquer menção à operação da última segunda.
A família Bolsonaro, que homenageava com medalhas milicianos na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e empregava familiares desses criminosos em seus gabinetes, sempre minimizou a atuação dessas organizações criminosas.
Na (limitada) visão de mundo dos Bolsonaro, milícia não é um problema grave. Quero destacar que até onde se sabe, não há nada que indique qualquer participação da família Bolsonaro no assassinato de Marielle e Anderson.
Nas primeiras semanas de janeiro, poucos dias após os ataques do dia 8, uma fonte do alto escalão do Ministério da Justiça me garantia: "o caso Marielle é prioridade da gestão e será solucionado". Naqueles dias, toda energia da pasta estava sendo utilizada para estancar os danos causados pela trupe verde-amarelo-golpista. Com a crise estancada, as ações no caso Marielle andaram.
A investigação do caso corre sob sigilo, assim como parte da delação de Queiroz, os materiais colhidos com Suel e outras provas levantadas ao longo dos últimos meses. O que sabemos é que novas operações virão, segundo disse Dino após a operação.
Sem dar muitas pistas sobre onde pode chegar a investigação, não é possível estimar o impacto que trará para a segurança pública do Rio. O fato é que os fios que estão sendo puxados pelos investigadores saem de novelos que embaralham grupos de matadores de aluguel, jogo do bicho, milícias e, claro, políticos. O que há de diferente em relação ao governo Bolsonaro, é que agora há uma motivação política para as investigações avançarem. Vamos ver até que ponto.
Bom fim de semana!
Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.