Opinião: Por que a morte de Villavicencio é um problema nosso?

A violência política como arma, estratégia e tragédia

11 ago 2023 - 14h21
Candidato à Presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado a tiros na última quarta-feira, 9
Candidato à Presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado a tiros na última quarta-feira, 9
Foto: Reuters

Mais um episódio de violência manchou a política na América do Sul, nesta semana. A vítima foi o candidato à Presidência do Equador Fernando Villavicencio, assassinado a tiros na última quarta-feira, 9, quando saía de um comício em Quito. A suspeita das autoridades locais é de que criminosos de cartéis de drogas sejam os autores.

A história da humanidade é recheada de episódios violentos na política, alguns retratados em cenas clássicas como em “Júlio César”, tragédia de William Shakespeare, onde o ditador é assassinado por Brutus. Outros, nas páginas da política nacional, como os tiros disparados pela arma do senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente Fernando Collor de Mello, dentro do Senado, em 1963. Tomado por uma rixa pessoal, ele fez disparos contra o adversário Silvestre Péricles, mas as balas acertaram e mataram o senador José Kairala, que nada tinha a ver com a briga.

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Relatamos recentes episódios de violência na política nacional na coluna aqui no Terra. O presidente Lula (PT) foi ameaçado de morte durante agendas no Pará, na semana passada. E os senadores do Espírito, Santo Marcos do Val (Podemos) e Fabiano Contarato (PT) receberam e-mails com conteúdo racista e nazista os ameaçando de morte. Nas eleições de 2022, a conta é de que o país teve dois casos de violência eleitoral por dia.

Isso tudo mostra que há casos de violência na política motivados por diferentes razões como interesses pessoais, desavenças, preconceito e estratégia política. Na segunda metade dos anos 1900, América do Sul viveu intensamente e infelizmente um período de sombras onde militares tomaram o poder em seus países e fizeram da violência uma atividade política: torturar, matar e sumir com quem não se aliasse às ditaduras.

Lamentavelmente, esses regimes autoritários até hoje são relativizados e alimentam discursos e campanhas políticas. O ex-vice-presidente e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) de maneira errada chama o golpe militar de “revolução”. Bolsonaro, também militar como Mourão, vai além, saúda e celebra torturadores, o regime sanguinário do Brasil e de países vizinhos.

Independentemente das motivações de cada crime, institucionalmente é fundamental que os casos sejam investigados e punidos pela Justiça. Assim como o discurso de ódio na política. Se as instituições tivessem funcionando pra valer, teriam considerado um pedido do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 1995, ele pediu aos líderes do Congresso que levassem adiante a cassação do então deputado Jair Bolsonaro, por ter xingado o ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira. “Acho que o governo tem que reagir a esse tipo de ação”, relatou no dia 25 de março de 1995, como consta em seu livro de memórias.

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A cassação de Bolsonaro não foi adiante e ele se fez por 28 anos xingando e estimulando ódio no Parlamento. Fez também a carreira dos filhos na política, com o mesmo discurso violento. Se elegeu presidente e disseminou o ódio com a eleição de centenas de asseclas pelo país. Não podemos estabelecer relação direta de causa e efeito, mas o próprio Bolsonaro foi vítima de uma facada durante o pleito de 2018.

A violência que é cultivada na sociedade deságua na política, por isso deve ser combatida por nós cidadãos, pelos governantes, pelas entidades da sociedade civil e não aplaudida ou estimulada. Daí ser tão importante que as autoridades brasileiras respondam: quem mandou matar Marielle, por quê, e quem impediu as investigações de avançarem?

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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