Há pouco mais de uma semana, uma imagem correu o mundo: a agressão física do candidato Datena (PSDB) a Pablo Marçal (PRTB). O ato brutal levou a campanha de São Paulo a um ponto inaceitável e não visto até então. Nesta segunda, 23, a situação piorou. A imagem que - pode ter certeza - vai tomar os jornais mundo afora é de um assessor de Marçal socando o marqueteiro da campanha adversária. E na sequência, a correria, a confusão e as cenas do rosto ensanguentado. E o eleitor ganha o que com isso? Nada.
Você já deve ter visto a cena, mas vou registrar rapidamente. A confusão aconteceu após Marçal ser expulso do debate por descumprir as regras, já ao final. O cinegrafista da campanha dele, Nahuel Medina, deu um soco em Duda Lima, marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB). Segundo o ex-coach, seu funcionário agiu em “legítima defesa” após ter sido agredido inicialmente por Duda.
As imagens disponíveis até o início da madrugada desta terça, 24, mostram Duda rindo para câmera do assessor com um tom de deboche e tentando pegar o celular que o filmava de perto. É difícil convencer alguém que um soco na cara é uma resposta a altura. Pergunto ao eleitor: é justificável se fazer política deste modo? No soco, na briga de rua, com sangue? Não é. E isso não pode ser normalizado, assim como também deve ser repelido da política o discurso de ódio e ideias e frases de inspirações fascistas.
Falei do ato animalesco e inaceitável da agressão. Agora, vamos falar da questão política e das precepções envolvidas nisso.
No condenável episódio da cadeirada, a campanha do ex-coach deu ares de vítima a Marçal deitado na ambulância. Pegou mal, e o próprio candidato, agora, diz que achou “patético ter filmado e mostrado [a cena], fora da ambulância e tudo. Reprovei [o ato] e quase desliguei a pessoa que fez isso”.
Até o início desta madrugada do dia 24, as informações da Globo News davam conta de que ambos registrariam boletim de ocorrência por agressão. Os dois se dizem vítima. Mas só um sangrou e isso tem um peso enorme, o impacto visual é imediato. Marçal, que é especialista em linguagem digital, imagino que saiba o peso negativo que uma imagem de um adversário ensanguentado tem.
Para seu eleitorado, Marçal vinha dizendo que seu concorrente principal é Guilherme Boulos (Psol), a luta contra o comunismo, etc. As pesquisas indicam que o concorrente de Marçal, na realidade, é outro, Ricardo Nunes. É com Nunes que estão alguns pupilos da extrema direita e alguns esquecidos da direita. Ali trabalham o governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o centrão paulista, e Jair Bolsonaro (PL).
O ex-presidente, ausente até este final de semanada campanha do emedebista, gravou um vídeo criticando o ex-coach. A manifestação aconteceu no faro das pesquisas eleitorais que mostraram Nunes se fortalecendo junto aos evangélicos, retomando parte dos votos bolsonarista; e Marçal aumentando cada vez mais sua rejeição. Os dados são do Datafolha da semana passada.
E vejam só, a confusão de hoje foi justamente entre Marçal e Nunes. Ambos haviam se estranhado e trocado ofensas e xingamentos na chegada ao programa, mas mantiveram alguma postura durante o debate. A violência política é um método?
Marçal, que é hábil em criar narrativas e recortes nas redes, tem o enorme desafio de minimizar o peso de um rosto adversário sangrando em menos de duas semanas. Essa narrativa é difícil de contornar. Dificilmente alguém vai olhar para a cena e o rosto ensanguentado de Duda e considerar que foi “merecido”. Ainda que eu não duvide que algumas pessoas pensem assim, de modo animalesco e brutal, a maioria não se interessa pela selvageria, como mostrou a rejeição no Datafolha.
Vale ficar de olho nos indicadores de rejeição das próximas pesquisas. Essa semana teremos, entre outras, Quaest e Datafolha. A cadeirada de Datena pouco mudou o cenário de intenção de votos, mas elevou a curva de rejeição de quatro candidatos: Datena, Nunes, Marçal e Boulos. E a imagem de um homem sangrando? Marçal compara a cadeirada de Datena a uma atitude animalesca, diz que parecia um “orangotango”. E seu funcionário, parecia o quê?