Opinião: Tarcísio se consagra vencedor jogando baixo

Governador de São Paulo mostrou que fantasia de "moderado" não lhe cabe.

27 out 2024 - 21h28
(atualizado às 21h36)
Tarcísio participou intensamente da campanha de Ricardo Nunes
Tarcísio participou intensamente da campanha de Ricardo Nunes
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

Tarcísio de Freitas (Republicanos) é um “líder maior”, segundo avaliou o prefeito eleito Ricardo Nunes (MDB) na noite deste domingo, 27. Nesse discurso da vitória do emedebista, Jair Bolsonaro (PL) foi ignorado. O peso político de Tarcísio foi provado com esta eleição, e seu bolsonarismo também.

Enquanto os eleitores votavam, no início da tarde de domingo, o governador, de maneira leviana, deu detalhes de uma informação sigilosa da inteligência da polícia. Disse que, de dentro dos presídios, o PCC - maior organização criminosa do país - tinha dado “salves”, ou seja, orientações para votação em Guilherme Boulos (Psol). A fala, da qual depois disse se arrepender, tem jeito de crime por abuso de poder político.

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As mensagens interceptadas são de setembro, um mês atrás. Mas o governador as trouxe a público durante a votação. Em nota divulgada depois da fala, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirmou a interceptação e informou que apura a “origem das mensagens”.

Se os “salves” foram pegos pela polícia antes de chegarem aos destinatários, o que influenciou mais os votos: a mensagem apanhada no meio do caminho, ou a fala de Tarcísio? O assunto é sério (a orientação de voto por uma facção criminosa) e merece uma investigação profunda, sem falas soltas e desconexas em meio à votação.

O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo não tinha recebido nenhuma informação sobre o tema. Tampouco o Ministério da Justiça ou a Polícia Federal. Só Tarcísio sabia e falou sobre isso.

Nesse contexto, Tarcísio apenas jogou essa informação no ar. O governador não contou, por exemplo, que há investigações sobre a atuação do PCC dentro da prefeitura de Nunes. Aliás, ao que parece, a inteligência não viu que neste final de semana uma torcida organizada do Palmeiras armou uma emboscada para rivais cruzeirenses em Mairiporã, na região metropolitana de São Paulo.

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Depois, o governador justificou, segundo relatos do OGlobo e da GloboNews, que só respondia a jornalistas sobre o tema e que faltou-lhe “prudência” ao comentar uma reportagem do Metrópoles que tratava do tema. É difícil de acreditar nessa versão. Falar que foi pego de surpresa não cola. 

Os políticos, como o governador, têm uma estrutura de comunicação profissional que monitora diariamente notícias, redes sociais, assuntos e uma gama de informações. Esse material é oraganizado todos os dias para que as autoridades consigam fazer análises, reuniões e se prepararem para, caso perguntados por jornalistas, terem uma resposta na ponta da língua.

Ainda que não soubesse do assunto, o ocupante do cargo mais relevante do estado de São Paulo deveria saber que vincular um adversário ao PCC de maneira vaga, em uma palavra, durante a votação como fez, é um erro.

Tarcísio, desde que surgiu como político, lançado por Bolsonaro, se fantasia de moderado. Ele tenta usar uma roupa que não lhe cabe. Não tem como ser moderado e subir em um trio elétrico que pede anistia a golpistas do 8/1, impeachment e prisão de ministro do Supremo Tribunal Federal.

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Os institutos de pesquisas indicavam neste final de semana que a vitória de Nunes estava muito encaminhada. Dificilmente Boulos viraria. Por isso Nunes, no discurso da vitória, exaltou o padrinho - que de fato arregaçou as mangas e trabalhou por esse êxito. Mas mesmo assim, Tarcísio optou por se mostrar nu e radical, comemorando o resultado das urnas sujo de lama.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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