Enquanto o presidente Lula (PT) cumpre agenda em Bruxelas, na Bélgica, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tenta organizar o tabuleiro político para ampliar a base no Congresso e acomodar no governo o PP e o Republicanos, partidos que estavam na coligação com o PL de Jair Bolsonaro e disputaram a Presidência contra o PT, em 2022.
Padilha se reuniu na tarde desta terça-feira, 18, com os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA). Na segunda, 17, o encontro foi com o líder do Republicanos, deputado Hugo Motta (PB). As conversas sobre a minirreforma devem avançar a partir de quinta, 20, com Lula de volta ao Brasil.
Segundo relatos feitos à coluna sob condição de anonimato, nas reuniões individuais com os cotados para o posto de ministro, Padilha reforçou que há disposição do governo em trazer os partidos para base, mas que ainda é necessário encontrar uma maneira de encaixá-los nos ministérios sem desagradar aliados. A conversa com os deputados foi no sentido de tranquilizá-los sobre o momento da mudança, que o próprio presidente já disse que as trocas devem acontecer em agosto, mas é preciso esperar seu retorno ao Brasil.
As bancadas de PP e Republicanos especulam que, em troca do apoio, conseguirão o comando dos ministério dos Esportes e do Desenvolvimento, Comércio e Indústria. Lula que já disse publicamente que é preciso conversar com quem "não gosta", porque "sem maioria, você se mata", ainda não bateu o martelo sobre os cargos que cederá.
A dificuldade de alocar os novos aliados se dá porque os ministérios já estão ocupados, e o que se ouve no Planalto é que os cortes podem acontecer onde há comando do PT e de partidos aliados como o PSB, do vice-presidente, Geraldo Alckmin. A dança das cadeiras que pode resultar na perda de espaço para quem esteve com o governo desde a eleição gera descontentamentos.
Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, fez uma fala dura sobre o contexto da minirreforma. "Se o presidente [Lula] desejar dispensar uma delas [pessoas do PSB] para ceder espaço para aqueles que apoiaram Bolsonaro no primeiro e segundo turnos, quem perderá será o nosso país. Isso é decisão do presidente Lula e não quero crer que ele deseja piorar a política brasileira", declarou Siqueira.
Os escolhidos
Os nomes de Costa Filho e Fufuca estão praticamente certos dentros de seus partidos como os indicados aos ministérios. Apesar da sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ter disputado a vice-Presidência com o general Braga Netto, e o Republicanos ter integrado a coligação, há o entendimento de que esses partidos têm poder para melhorar a governabilidade, se forem aliados, ou dificultarem a vida política do governo.
Dentro deste contexto que foram sacados os nomes de Costa Filho e Fufuca. Discretos, ambos têm boa relação com interlocutores do governo e não fizeram campanha radical pró-Bolsonaro. Fufuca é aliado do ministro da Justiça, Flávio Dino, e inclusive posaram juntos durante a campanha que reelegeu o deputado e lançou o ex-governador do Maranhão ao Senado. E é também aliado do senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro e um dos nomes forte da gestão passada. Fufuca assumiu a presidência do PP quando Nogueira foi alçado a ministro.
Já o pernambucano Silvio Costa Filho é uma das principais vozes na interlocução entre o governo Lula e o Republicanos, partido abriga diferentes lideranças da Igreja Universal e tem grande representatividade entre os evangélicos, segmento arredio à gestão petista. Seu pai, Silvio Costa, é ex-deputado e foi um dos ferrenhos defensores da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no seu processo de impeachment. Ele usou a tribuna da Câmara para chamar de "cachorro" o então presidente da Casa e algoz petista, Eduardo Cunha.
Conta pela governabilidade
Com a entrada dos partidos na base, o governo espera ter um ambiente mais tranquilo na Câmara. Isso porque para além dos cerca de 120 votos que já tem na esquerda, poderia contar com quase todos os 49 deputados do PP e 41 do Republicanos. No Senado, o ambiente já é mais controlado pelo governo e dificilmente conseguiria reverter menos votos de senadores. O PP tem seis cadeiras e Republicanos, quatro. Mas figuram entre seus quadros nomes muito ligados ao bolsonarismo como o ex-vice-presidente general Hamilton Mourão (Republicanos-RS), a ex-ministra da Família e Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos-DF), e o senador Luis Carlos Heinz (PP-SC).
Na semana passada, após quase um mês de negociação, o governo trocou a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, por outro indicado pelo União Brasil, Celso Sabino (PA). A troca, projetam os articuladores do governo, deve melhorar as votações da bancada que tem 59 deputados e oito senadores.