Presidente decide suspender novos depoimentos e CPMI do 8/1 termina sem ouvir ex-comandantes

Maia cancelou último depoimento, marcado para amanhã, e colegiado não ouvirá comandantes das Três Forças nem ex-ministro general Braga Netto

4 out 2023 - 13h52
O presidente da CPMI do 8 de janeiro, Arthur Oliveira Maia (UNIÃO-BA) FOTO BRUNO SPADA AGENCIA CAMARA
O presidente da CPMI do 8 de janeiro, Arthur Oliveira Maia (UNIÃO-BA) FOTO BRUNO SPADA AGENCIA CAMARA
Foto: Bruno Spada/Agência Câmara / Estadão

Após quase quatro meses de funcionamento, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) que apura os ataques golpistas do dia 8 de janeiro, chegará ao fim sem ouvir os ex-comandantes das Forças Armadas e o ex-ministro e candidato a vice-presidente, general Braga Netto (PL). O presidente da CPMI, Arthur Maria (União Brasil-BA), decidiu nesta quarta-feira, 4, cancelar a última sessão para depoimentos, que estava agendada para quinta, 5.

Na prática, a investigação terminou. Não há vontade política da base nem da oposição em seguir com a apuração. Restam duas semanas para que seja lido e votado o relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), cuja previsão é para que aconteça nos dia 17 e 19, respectivamente.

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A blindagem aos comandantes e a Braga Netto e aos ex-comandantes já vinha sendo trabalhada pela oposição. Com a decisão de Maia, não haverá mais datas disponíveis para que a CPMI ouça depoimentos. O último nome previsto, que seria amanhã, era o do policial militar do Distrito Federal, Beroaldo José de Freitas Júnior.

“Boa tarde, por determinação do Presidente, diante da expectativa de baixo quórum para oitiva e do enfoque maior dos gabinetes na preparação do relatório final e de eventuais votos em separado, informamos que a reunião de amanhã [quinta-feira, 05] está cancelada”, comunicou a secretaria da CPMI aos congressistas membros e compartilhada por uma fonte com a coluna.

A base considerava importante ouvir os ex-comandantes pela politização que as Forças adotaram e a partir de notícias sobre a delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e tenente-coronel, Mauro Cid. Ele disse que o então presidente, já derrotado nas urnas, se reuniu com os ex-comandantes das Forças para discutir um golpe de Estado.

Na reunião da última terça, 3, um embate entre governistas e oposição para convocar Braga Netto, praticamente deu fim às chances de que os comandantes fossem ouvidos. Maia tentou construir uma saída, em gesto à oposição, para que em troca da ida de Braga Netto, fosse chamado algum representantes da Força Nacional de Segurança do governo federal, que atuou na contenção dos ataques do dia 8. A expectativa da oposição era que nomes da Força Nacional corroborassem a tese infundada de que o governo Lula (PT) foi conivente com os ataques contra o próprio governo.

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Maia colocou em votação um requerimento do ex-comandante do batalhão de pronto emprego da Força Nacional, Sandro Queiroz. A proposta foi rejeitada por 14 votos a 10. Com isso, Braga Netto não seria mais ouvido.

O general Braga Netto é um dos aliados mais próximos de Jair Bolsonaro (PL) e foi o responsável por fazer uma frase enigmática aos apoiadores de Bolsonaro que acampavam em frente aos quartéis.

“Não percam a fé, é só o que eu posso falar agora”, disse em novembro para manifestantes que estavam no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, onde Bolsonaro se recolheu após ser derrotado nas eleições.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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