Reunião ministerial: Lula explica fala de Israel, vê derrota nas redes e ministra chora

Presidente cobrou melhora na comunicação em todas as áreas, após pesquisas indicarem queda na popularidade

18 mar 2024 - 18h22
(atualizado às 18h39)
Lula em reunião ministerial nesta segunda, 18
Lula em reunião ministerial nesta segunda, 18
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

A reunião ministerial convocada por Lula (PT) nesta segunda, 18, teve cobrança, explicações do presidente sobre falas mal colocadas, reclamação e choro. Com a popularidade do governo em queda, o petista chamou os ministros para um encontro no Palácio do Planalto para tentar reverter a percepção da população sobre as ações de sua terceira gestão. Veja o relato que fontes fizeram à coluna sobre os principais pontos do encontro fechado que durou cerca de quatro horas.

Essa foi a primeira reunião com todos os ministros em 2024, a exceção foi Mauro Vieira (Relações Exteriores), que está em viagem. A fala de abertura de Lula e do ministro da Casa Civil Rui Costa foi transmitida pelos canais oficiais do governo. Neste momento Lula chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de “covardão” e que o governo precisa fazer “muito mais”. Ele e Costa elencaram avanços da gestão petista em 2023. Depois disso, o encontro continuou fechado.

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Ao contrário das reuniões ministeriais que ocorreram em 2023, quando cada integrante apresentou propostas, desta vez só Lula e sete ministros falaram. São eles: Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), Nísia Trindade (Saúde), Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Rui Costa (Casa Civil), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Cida Gonçalves (Mulheres) e Fernando Haddad (Fazenda).

Os ministros falaram de ações de suas pastas. Haddad, por exemplo, falou de propostas prioritárias como a Nova Lei de Falência, regulação bancária e normas para o sistema de seguros.

Cobranças e choro

A reunião teve cobrança sobre os ministros para que trabalhem para divulgar as ações que fizeram e do governo como um todo. Um dos pontos de incômodo citados por Lula foi sobre a questão da dengue. O país soma mais de 1,4 milhão de casos neste ano e 340 mortes pela doença. 

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O presidente usou o caso para ilustrar situações que chegam a seu conhecimento quando já estão em um ponto crítico. O presidente fez cobranças a Rui Costa e Nísia Trindade. Durante a conversa e as cobranças de Lula, a ministra se emocionou e chorou. Além da crise da dengue, Nísia é alvo de pressão por parlamentares do centrão e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No final de semana, ela se reuniu com Lula e Paulo Pimenta no Palácio da Alvorada. O tema do encontro não foi divulgado.

Comparação entre Holocausto e Israel 

Lula tocou em temas sensíveis para o governo. Ele citou um tema crítico para o eleitorado evangélico, a fala em que comparou as ações de Israel contra palestinos na Faixa de Gaza. Aos ministros, Lula disse que a comparação não era sobre o povo judeu ou às referências bíblicas sobre Israel, e sim especificamente sobre a gestão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. 

Ainda que diferentes lideranças mundiais e a Organização das Nações Unidas apontam excessos e façam críticas às ações de Israel contra civis em Gaza, nenhuma autoridade fez comparativos com o Holocausto - assassinato em massa de 6 milhões de judeus e grupos perseguidos pelo regime nazista na Segunda Guerra Mundial.

Lula foi criticado inclusive por aliados, como o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que é judeu. Segundo pesquisa Quaest, “a pior avaliação veio dos evangélicos, que respondem por 30% do eleitorado brasileiro, influenciado pelas declarações em que Lula comparou a guerra em Gaza com a ação de Hitler na Segunda Guerra Mundial".

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Apesar de dar explicação aos ministros, publicamente Lula não fez retificações sobre a fala. 

Derrotas para a extrema-direita nas redes

O presidente fez uma análise sobre a comunicação do governo como um todo e cobrou melhorias em nível regional. Ele entende que o governo retomou e ampliou programas sociais como Bolsa Família, Farmácia Popular, Minha Casa Minha Vida, melhorou os índices da economia como PIB e desemprego, mas não consegue fazer com que a população vincule esses avanços com o trabalho de sua gestão. 

O ministro Paulo Pimenta (Secom) anunciou que fará uma campanha digital sobre dois programas chave para o governo: o Bolsa Família e o Farmácia Popular. Além disso, foi cobrado que ministros ajudassem na divulgação de ações do governo como um todo, não apenas de suas pastas e viagem mais pelo país.

Igualdade salarial

Outro tema sensível para o governo é sobre a participação de mulheres. Lula demitiu duas ministras e uma presidente da Caixa para acomodar homens indicados pelo centrão. Além disso, nas duas vagas que teve para o Supremo Tribunal Federal, preferiu homens em vez de mulheres. 

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Durante o encontro desta segunda, Lula disse à ministra Cida Gonçalves que quer que a igualdade salarial seja uma marca de seu governo. A lei que garante salários iguais para homens e mulheres na mesma função foi sancionada ano passado.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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