Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, disse em entrevista exclusiva ao Terra que o governo Lula não ter a maioria dos votos no Congresso não será um obstáculo para aprovação de propostas econômicas. Ainda que veja ambiente para aprovação do arcabouço fiscal e a reforma tributária, a ministra ponderou que o governo deve “pegar tração” com as primeira votações da pauta econômica.
“Temos que trabalhar com a realidade dos fatos. A realidade dos fatos é que nós não temos maioria no Congresso. Mas ao mesmo tempo, a maioria no Congresso é mais liberal na economia, mais reformista. Nesse aspecto, daquilo que estamos apresentando, seja do arcabouço, seja da reforma tributária, está blindada porque também, no fundo, é uma pauta do Congresso”, disse Tebet.
A ministra foi questionada sobre os riscos que a má articulação política pode trazer para aprovação de projetos além do arcabouço e da reforma tributária. Isso porque, em entrevista ao jornal O Globo, no último final de semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), criticou a articulação de Lula junto ao Congresso, comandada pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Após a reclamação de Lira, Lula convidou o presidente da Câmara para uma reunião nesta terça-feira, 2, no Palácio da Alvorada.
Para além das duas reformas, a equipe econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisará do apoio dos parlamentares para enfrentar lobbies que defendem renúncias fiscais que somam R$ 400 bilhões, e taxação de apostas online, por exemplo. Medidas que ajudarão na arrecadação do governo.
“Qual o benefício que a sociedade está tendo com aquela renúncia fiscal? Ao menos no Senado vejo constantemente parlamentares discutindo isso e querendo rever. A pauta está coincidindo. O fato de não ter maioria neste momento não atrapalha a pauta econômica”, afirmou.
“A pauta que incrementa receita sem aumentar imposto, que é o que a equipe econômica precisa, é uma pauta do Congresso Nacional, apesar dos lobbies. Eles são legítimos. A grande pergunta que tem que ser feita à luz do interesse público: Quanto estou deixando de arrecadar para não devolver para sociedade políticas sociais? Quantos empregos diretos e indiretos estão sendo gerados?”, questionou Tebet.
Na avaliação da ministra, “as coisas estão começando agora e acho que começa a pegar tração com a aprovação do arcabouço na Câmara. Vamos ter uma visão mais concreta do que passa e de que forma passa cada medida econômica do governo”, analisou.
Ela disse que nestes primeiros meses de gestão Lula, o governo teve “que olhar para o retrovisor no sentido de reconstruir políticas públicas que foram abandonadas ou que foram destruídas, deturpadas na área ambiental, armamentista, social, direitos humanos”.
“Foi um tempo de reconstrução esses primeiros 100, 120 dias. Agora é hora de olhar pelo para-brisa e avançar com os programas que foram compromissados pelo presidente Lula no período eleitoral”, concluiu.