Vitória expressiva no arcabouço não significa que Lula já tenha base

Apesar de ter 372 votos no principal projeto do governo, Congresso deve impor novas derrotas nas medidas provisórias

24 mai 2023 - 11h07
(atualizado às 19h47)
A Câmara dos Deputados aprovou na noite de terça-feira, 23, com ampla folga, o texto-base do arcabouço fiscal, nova regra para controlar as contas públicas do governo.
A Câmara dos Deputados aprovou na noite de terça-feira, 23, com ampla folga, o texto-base do arcabouço fiscal, nova regra para controlar as contas públicas do governo.
Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara / Estadão

A vitória expressiva que o governo Lula (PT) teve na Câmara com a aprovação do arcabouço fiscal nesta terça-feira, 23, com 372 votos favoráveis e 108 contrários não reflete o tamanho da base no Congresso. Interlocutores do presidente avaliam que a pauta fiscal está blindada e não é parâmetro para medir a força política da gestão Lula 3 junto aos congressistas.

Após o resultado da votação, uma fonte do alto escalão da equipe econômica do governo disse à coluna que a vitória desta terça, 23, “não serve de base" para medir o apoio de Lula no Congresso. “Todos [os grupos políticos] entendem a necessidade e concordaram com regras gerais”, disse, pedindo que seu nome fosse preservado.

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Como a coluna revelou nesta segunda-feira, 22, um dos motivos que faz a montagem de base patinar é a estratégia do governo que privilegia o repasse de verbas do SUS a parlamentares novatos, que recebem até o dobro de recursos do que os reeleitos. 

Independentemente da votação desta terça, a análise de membros da SRI (secretaria de Relações Institucionais), responsável pela articulação, é de que o governo possui garantidos cerca de 140 votos na base e algo em torno de 110 na oposição, os demais 300 parlamentares serão disputados a cada pauta.

O resultado da votação desta quarta corrobora as análises ouvidas pela coluna. O PL, por exemplo, partido de Jair Bolsonaro, deu 30 votos favoráveis ao projeto. Já o PSOL e a REDE, que têm ministérios no governo, votaram contra.

Para viabilizar a governabilidade, o governo conta com os partidos que compõem os ministérios e cobra apoio em troca. Nas últimas semanas, o ministro da SRI, Alexandre Padilha, se reuniu com presidentes e ministros dessas siglas (MDB, União Brasil, PSB e PSD) e cobrou que os titulares das pastas se empenhem na articulação e aprovação de projetos estruturantes de suas competências.

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“O Lira tem seu poder e suas prerrogativas de presidente da Câmara, mas esses partidos não podem ser mais fiéis a ele do que aos projetos do governo”, contou uma fonte que acompanha as negociações políticas.

Derrota nas MPs

O governo celebra a vitória desta quarta,24, mas deve enfrentar derrotas já nos próximos dias com a votação das medidas provisórias que tramitam no Congresso. Oito delas precisam ser aprovadas até dia 1º de junho para não perderem o efeito.

Uma das principais, a que reorganiza os ministérios da Esplanada, indicou um revés para Lula. Nesta terça, antes da votação do arcabouço, o deputado e relator Isnaldo Bulhões (MDB-AL), da base do governo, apresentou o texto que alterou a MP, esvaziando atribuições dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas.

Outra medida provisória que é dada como derrota certa é a do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Na manhã desta quarta-feira, 24, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu a jornalistas que a matéria deve caducar sem ser votada e avalia que isso é “ruim”. Mas que mantém diálogo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tentar avançar com um projeto sobre o tema.

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Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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