Zé Dirceu volta e discursa no Congresso 19 anos após ser cassado no Mensalão

Petista participou de ato para lembrar os 60 anos do golpe militar no Brasil e disse que "quase não aceitou o convite" para participar

2 abr 2024 - 14h34
(atualizado às 14h51)
Zé Dirceu discursa no plenário do Senado 19 anos após ser cassado pelo Mensalão
Zé Dirceu discursa no plenário do Senado 19 anos após ser cassado pelo Mensalão
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O ex-ministro da Casa Civil e um dos principais nomes do PT, Zé Dirceu voltou a discursar no Congresso 19 anos após ser cassado e preso pelo escândalo do Mensalão. Ele esteve numa sessão em memória dos 60 anos do golpe militar (1964-1985) e falou na tribuna. Figura controversa que era considerado o "homem forte" do primeiro governo Lula (PT), Dirceu acumulou prisões em diferentes períodos da história política do país, como ditadura militar, o Mensalão e Lava Jato. 

Nos últimos meses, Dirceu voltou a circular pelos bastidores da política em Brasília e aliados apostam, a depender de aval judicial, na sua volta como candidato a deputado federal em 2026. No seu aniversário de 78 anos, em março, mostrou o prestígio que detém entre os pares da política nacional. A festa aconteceu em uma casa no Lago Sul de Brasília, região nobre da cidade, com presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre outras dezenas de deputados e senadores. Lula não participou.

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O convite foi feito pelo líder do governo no Congresso e propositor da sessão, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP). Ao contrário do governo Lula, que proibiu manifestações sobre os 60 anos do início dos anos de chumbo, Câmara e Senado organizaram atos para lembrar a data.

"Com enorme honra eu destaco e agradeço a presença, nesta mesa, deste companheiro, que agradeço a Deus a possibilidade de, na minha formação política, ter sido um dos formadores dos melhores momentos do Partido dos Trabalhadores", disse Randolfe, na abertura da sessão.

"Meu querido José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-deputado federal, militante político da resistência à ditadura entre os anos de 1960 e 1970. Zé, é uma honra, para nós, ter você conosco aqui nesta mesa", concluiu o senador.

Zé Dirceu disse que estava ali para prestar a homenagem a João Goulart, e em sua fala, disse que a ditadura "acabou com as eleições, os partidos, impôs a censura e a repressão".

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"Quando recebi o convite do senador Randolfe, quase não aceitei, porque desde o dia da madrugada de 1º de dezembro [de 2005], quando a Câmara dos Deputados cassou meu mandato, que o povo de São Paulo tinha me dado pela terceira vez, eu nunca mais voltei ao Congresso Nacional. Mas acredito que João Goulart merecia e merece a minha presença hoje aqui", disse Zé Dirceu.

Zé Dirceu e Randolfe Rodrigues durante inauguração da Exposição de fotos de Orlando Brito, na Galeria do Senado.
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O ex-ministro da Casa Civil discursou por 16 minutos sobre movimentos contrários à ditadura, como estudantil e luta armada, dos quais participou, e o cenário político e econômico do Brasil e de potências mundiais. Ao final, foi aplaudido.

Após as falas de Dirceu, Randolfe agradeceu a participação e "às luzes" que o ex-ministro levou à sessão.

O petista participou de grupos de resistência ao regime e foi preso em 1968 durante congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP). Dirceu caiu do governo Lula durante o escândalo do Mensalão, em 2005, e foi preso em 2013. O petista também tinha sido preso durante a Operação Lava Jato, em 2016. 

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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