O ex-ministro da Casa Civil e um dos principais nomes do PT, Zé Dirceu voltou a discursar no Congresso 19 anos após ser cassado e preso pelo escândalo do Mensalão. Ele esteve numa sessão em memória dos 60 anos do golpe militar (1964-1985) e falou na tribuna. Figura controversa que era considerado o "homem forte" do primeiro governo Lula (PT), Dirceu acumulou prisões em diferentes períodos da história política do país, como ditadura militar, o Mensalão e Lava Jato.
Nos últimos meses, Dirceu voltou a circular pelos bastidores da política em Brasília e aliados apostam, a depender de aval judicial, na sua volta como candidato a deputado federal em 2026. No seu aniversário de 78 anos, em março, mostrou o prestígio que detém entre os pares da política nacional. A festa aconteceu em uma casa no Lago Sul de Brasília, região nobre da cidade, com presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre outras dezenas de deputados e senadores. Lula não participou.
O convite foi feito pelo líder do governo no Congresso e propositor da sessão, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP). Ao contrário do governo Lula, que proibiu manifestações sobre os 60 anos do início dos anos de chumbo, Câmara e Senado organizaram atos para lembrar a data.
"Com enorme honra eu destaco e agradeço a presença, nesta mesa, deste companheiro, que agradeço a Deus a possibilidade de, na minha formação política, ter sido um dos formadores dos melhores momentos do Partido dos Trabalhadores", disse Randolfe, na abertura da sessão.
"Meu querido José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-deputado federal, militante político da resistência à ditadura entre os anos de 1960 e 1970. Zé, é uma honra, para nós, ter você conosco aqui nesta mesa", concluiu o senador.
Zé Dirceu disse que estava ali para prestar a homenagem a João Goulart, e em sua fala, disse que a ditadura "acabou com as eleições, os partidos, impôs a censura e a repressão".
"Quando recebi o convite do senador Randolfe, quase não aceitei, porque desde o dia da madrugada de 1º de dezembro [de 2005], quando a Câmara dos Deputados cassou meu mandato, que o povo de São Paulo tinha me dado pela terceira vez, eu nunca mais voltei ao Congresso Nacional. Mas acredito que João Goulart merecia e merece a minha presença hoje aqui", disse Zé Dirceu.
O ex-ministro da Casa Civil discursou por 16 minutos sobre movimentos contrários à ditadura, como estudantil e luta armada, dos quais participou, e o cenário político e econômico do Brasil e de potências mundiais. Ao final, foi aplaudido.
Após as falas de Dirceu, Randolfe agradeceu a participação e "às luzes" que o ex-ministro levou à sessão.
O petista participou de grupos de resistência ao regime e foi preso em 1968 durante congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP). Dirceu caiu do governo Lula durante o escândalo do Mensalão, em 2005, e foi preso em 2013. O petista também tinha sido preso durante a Operação Lava Jato, em 2016.