Hamas e Israel dão início a trégua de quatro dias

24 nov 2023 - 05h16
(atualizado às 11h37)

Pausa nos combates prevê troca de três presos palestinos em Israel por cada refém mantido em Gaza. Veja o que se sabe sobre o acordo.Israel e o Hamas deram início nesta sexta-feira (24/11) a uma trégua de quatro dias no conflito iniciado em 7 de outubro. Caminhões levando ajuda humanitária já começaram a entrar na Faixa de Gaza, e a previsão é que o primeiro grupo de reféns israelenses seja libertado na tarde desta sexta-feira.

Comboio de ambulâncias e um caminhão da ONU entrando em Gaza após início da trégua
Comboio de ambulâncias e um caminhão da ONU entrando em Gaza após início da trégua
Foto: DW / Deutsche Welle

Os dois lados concordaram com a trégua, iniciada com um dia de atraso em relação ao originalmente anunciado, para que 50 reféns mulheres e menores de 19 anos em poder do Hamas sejam libertados em troca da soltura de 150 mulheres e adolescentes palestinos detidos em Israel.

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Os 50 reféns em poder do Hamas estão entre as cerca de 240 pessoas sequestradas durante o ataque terrorista de 7 de outubro contra Israel, e deverão ser libertados em grupos durante o cessar-fogo.

Um primeiro grupo de 39 crianças e mulheres palestinas de prisões israelenses será colocado em liberdade nesta sexta-feira, enquanto o Hamas libertará um grupo de 13 reféns, segundo informações da televisão estatal egípcia Al Qahera News.

A troca está em conformidade com a proporção acordada de três palestinos liberados para cada refém liberto pelo Hamas, o que foi confirmado na quinta-feira pelas Brigadas al-Qasam, o braço armado do Hamas.

As partes do acordo qualificaram a interrupção das hostilidades como "uma pausa humanitária". Israel afirmou que a trégua será prorrogada por um dia a cada lote adicional de 10 reféns libertados.

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O Hamas, que é considerado um grupo terrorista por União Europeia, Estados Unidos, Alemanha e outros países, disse que Israel concordou em interromper o tráfego aéreo no norte de Gaza, das 10h às 16h (horário local) em cada dia da trégua, e suspender todo o tráfego aéreo sobre o sul do enclave durante todo o período.

O grupo disse ainda que Israel concordou em não atacar ou prender qualquer pessoa em Gaza e que as pessoas poderão circular livremente ao longo da Salah al-Din, principal via usada pelos palestinos para fugirem do norte de Gaza, onde Israel lançou a sua invasão terrestre.

Horário de início

A trégua entre Israel e o Hamas teve início às 7h (2h no horário de Brasília) desta sexta-feira, com um primeiro grupo de reféns que deve ser libertado às 16h (11h de Brasília), de acordo com um porta-voz do Ministério do Exterior do Catar.

O governo do Catar informou que as listas de todos os civis que seriam libertados de Gaza tinham sido acordadas e que o país espera poder negociar um acordo subsequente para libertar reféns adicionais de Gaza até o quarto dia da trégua.

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Implementação do acordo

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha trabalhará em Gaza para facilitar a libertação dos reféns, informou o Catar.

Espera-se que os reféns sejam transportados através do Egito, o único país, além de Israel, a partilhar fronteira com Gaza.

Durante a trégua, caminhões carregados com ajuda e combustível atravessarão a fronteira para Gaza, onde 2,3 milhões de pessoas sofrem com escassez de comida e muitos hospitais fecharam parcialmente porque já não têm combustível para os seus geradores.

O Catar disse que o cessar-fogo permitiria que um "maior número de comboios humanitários e ajuda humanitária" entre em Gaza, incluindo combustível, mas não deu detalhes sobre as quantidades.

Israel cortou todas as importações de combustível para Gaza no início do conflito, causando um apagão em todo o território e deixando casas e hospitais dependentes de geradores.

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O braço armado do Hamas disse nesta quinta-feira que 200 caminhões de ajuda e quatro caminhões de combustível entrariam diariamente em Gaza durante a trégua.

Quem são os reféns a serem libertados?

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse em uma declaração na quinta-feira que Israel recebeu uma lista inicial de reféns a serem libertados de Gaza.

Entre as 50 mulheres e menores de 19 anos a serem libertados pelo Hamas estão três cidadãos dos EUA, incluindo uma menina que completa 4 anos nesta sexta-feira, disse uma autoridade dos EUA.

Além de civis e soldados israelenses capturados em 7 de outubro, mais da metade dos cerca de 240 reféns são estrangeiros e têm dupla nacionalidade, com cidadanis de cerca de 40 países, incluindo Argentina, Reino Unido, Chile, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Tailândia e EUA, segundo o governo de Israel.

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O regresso dos reféns poderá levar trazer alívio a Israel, onde é grande a preocupação com o destino dos sequestrados. Famílias dos reféns vêm organizando manifestações em massa para pressionar o governo a trazê-los de volta para casa.

Quem são os palestinos a serem libertados?

Israel forneceu uma lista de cerca de 300 prisioneiros palestinos que poderiam ser libertados - o dobro do número de mulheres e menores que havia concordado inicialmente em libertar - e sugeriu que espera que mais de 50 reféns em Gaza sejam libertados sob o acordo.

A Sociedade de Prisioneiros Palestinos disse que na quarta-feira 7.200 prisioneiros estavam detidos por Israel, entre eles 88 mulheres e 250 adolescentes de até 17 anos.

A maioria das pessoas na lista divulgada por Israel são da Cisjordânia ocupada por Israel e de Jerusalém, e foram detidos por incidentes como tentativa de esfaqueamento, atirar pedras contra soldados israelenses, fazer explosivos, danificar propriedades e ter contato com organizações hostis. Nenhum é acusado de assassinato. Muitos foram mantidos sob detenção administrativa, o que significa que foram detidos sem julgamento.

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Os prisioneiros libertados poderiam primeiramente ser levados de ônibus para a sede presidencial da Autoridade Palestina, como ocorreu em libertações passadas, embora o presidente palestino, Mahmoud Abbas, não tenha tido qualquer papel nestas negociações de trégua, segundo a Autoridade Palestina, grupo palestino que é rival do Hamas.

Quem negociou o acordo?

O Catar desempenha um importante papel de mediação. O Hamas tem um escritório político em Doha, e o governo do Catar manteve canais de comunicação abertos com Israel, embora, ao contrário de alguns outros países árabes do Golfo, não tenha normalizado os laços com Tel Aviv.

Os EUA também têm um papel crucial, com o presidente americano, Joe Biden, tendo conversado com o emir do Catar, Hamad bin Khalifa al-Thani, e Netanyahu nas semanas que antecederam o acordo.

O Egito, o primeiro Estado árabe a assinar um acordo de paz com Israel e que há muito desempenha um papel de mediação ao longo das décadas de conflito entre Israel e palestinos, também esteve envolvido.

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Por que a negociação demorou tanto?

O acordo foi anunciado 46 dias após o início do conflito, um mais ferozes que eclodiram entre os dois lados.

Terroristas do Hamas mataram 1.200 pessoas quando lançaram seu ataque contra Israel, o maior número de vítimas num único dia em solo israelense desde a criação do país, em 1948. Segundo autoridades de saúde de Gaza ligadas ao Hamas, mais de 13 mil pessoas foram mortas em ataques retaliatórios israelenses e nas incursões terrestres em Gaza.

As negociações iniciais para um acordo entre Israel e o Hamas começou poucos dias depois do ataque terrorista de 7 de outubro, mas o progresso foi lento. Isso ocorreu em parte porque as comunicações entre as partes em conflito tinham de passar por Doha ou pelo Cairo e voltar, para que cada detalhe fosse acertado, como garantir um lista completa do Hamas com aqueles que serão libertados, segundo autoridades dos EUA.

Mesmo com um acordo em vigor, o cessar-fogo é temporário. O Hamas disse que durante toda a trégua "seus dedos permanecem no gatilho". Israel disse que o conflito continuará até que todos os reféns sejam libertados e o Hamas, eliminado.

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Em 2014, quando Israel lançou pela última vez uma grande invasão terrestre em Gaza, foram necessários 49 dias para ambos os lados chegarem a um acordo de cessar-fogo, mas isso pôs fim a grandes combates durante vários anos.

md/jps (Reuters, AP, EFE)

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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