Herói da guerra do Vietnã e ex-candidato à presidência, senador americano foi um dos congressistas mais respeitados da recente história americana. Seu espírito de liberdade o levou a votar até contra o próprio partido.O senador americano, herói da guerra do Vietnã e ex-candidato à presidência pelo Partido Republicano, John McCain, morreu neste sábado (25/08) após perder sua batalha contra o câncer, anunciou seu gabinete em comunicado.
Em 25 de julho de 2017, uma semana depois de seu diagnóstico de câncer ser divulgado, McCain retornou ao plenário do Senado americano, onde trabalhou durante 30 anos. Na ocasião, ele proferiu um discurso notável, em que resumia o que acreditava e defendia ao longo de sua carreira militar e política única.
"Que causa maior podemos servir além de ajudar a manter o forte e inspirador papel dos Estados Unidos como polo de liberdade e defensor da dignidade de todos os seres humanos e de seu direito ao livre-arbítrio e à justiça igualitária?", indagou McCain em seu elogiado discurso.
O papel único dos Estados Unidos no mundo foi o mantra de McCain, disse James Jeffrey, representante especial dos EUA na Síria, que serviu anteriormente aos presidentes George W. Bush e Barack Obama como vice-assessor de Segurança Nacional e embaixador na Turquia e no Iraque. Ele se encontrou pela primeira vez com McCain em 1990, na atual Conferência de Segurança de Munique, onde McCain liderava a delegação dos EUA.
"Ali, ficou claro, para mim, que ele tinha uma visão do papel dos EUA no mundo e da forma como o mundo funcionava que era diferente de qualquer outra autoridade americana - incluindo os dois presidentes para quem eu trabalhei diretamente", disse Jeffrey, que chamou McCain de "o maior herói americano dos últimos 50 anos".
Serviço militar e prisão no Vietnã
O que tornou a experiência de McCain tão singular foi, acima de tudo, o tempo antes de sua carreira política. O pai e o avô foram almirantes quatro estrelas, e John Sidney McCain seguiu a tradição da família, frequentando a prestigiosa Academia Naval da Marinha dos EUA e tornando-se piloto naval.
Quando os EUA fortaleceram seus esforços militares no Vietnã, ele se ofereceu para a luta. Seu avião foi abatido em 1967 sobre o Vietnã e, seriamente ferido, McCain foi para o cativeiro no então Vietnã do Norte. Por cinco anos e meio, ele permaneceu prisioneiro de guerra, tendo sido torturado repetidamente durante esse período.
Um falcão à procura de paz
Os ferimentos de guerra ajudaram McCain a abandonar sua carreira militar e a se tornar político. Em 1983, ele foi eleito pelo Partido Republicano para a Câmara dos Representantes; em 1987, McCain mudou-se para o Senado, onde representou o Arizona, seu estado adotivo.
Durante seu longo período no Congresso americano, McCain tornou-se a figura principal de sua geração em questões de política externa e de defesa.
"John McCain foi um dos membros mais talentosos do Congresso nos séculos 20 e 21", disse Mara Karlin, especialista em segurança da Universidade Johns Hopkins, que assessorou um total de cinco secretários de Defesa. "Sua liderança foi fundamental em muitas questões, quando se tratava de manter os EUA no caminho certo após a Guerra Fria e depois do 11 de setembro", apontou Karlin.
McCain sempre foi um forte defensor da OTAN e em questões de política externa era considerado um falcão, muitas vezes buscando a solução em intervenções militares - como o ressurgimento militar da Rússia sob o presidente Vladimir Putin ou a anexação russa da Crimeia.
Mas ele também estava disposto a defender a paz, diz Mara Karlin: "Ele desempenhou um papel crucial ao permitir que o governo dos EUA deixasse para trás a memória traumática da guerra do Vietnã e iniciasse um novo relacionamento com o país asiático. Essa talvez tenha sido a sua maior conquista."
Especialmente na área de política externa, McCain nunca se esquivou de fazer perguntas difíceis e de expressar abertamente a sua opinião. Isso não foi sentido apenas pelos democratas, mas também por seu próprio partido. Por exemplo, McCain foi basicamente a favor da invasão do Iraque liderada pelos EUA sob o presidente George W. Bush, mas depois criticou a guerra como uma série de erros.
Um dos pontos altos da carreira política de John McCain foi conseguir a indicação republicana para disputar a eleição presidencial de 2008, em que ele foi claramente derrotado pelo democrata Barack Obama.
Contra a linha partidária
Curiosamente, talvez a decisão mais importante de McCain como senador não tenha nada a ver com política externa ou de segurança.
Em meados de 2017, meio ano após o início da tumultuada presidência de Donald Trump, e logo após um tumor no cérebro ter sido diagnosticado em McCain, ele entregou o voto decisivo contra a abolição do programa de saúde "Obamacare", numa sessão noturna do Congresso americano. A decisão de McCain foi um duro golpe para a liderança do Partido Republicano e para Donald Trump.
Em comunicado após sua votação no Congresso, McCain repreendeu seu próprio partido por estar interessado apenas na abolição do "Obamacare" sem poder oferecer nada melhor como alternativa. E então veio outra frase que resumia o temperamento de McCain: "Devemos fazer o trabalho duro que nossos cidadãos esperam e merecem".
Nos últimos meses, McCain não havia estado mais no Senado, tendo permanecido em sua casa no estado do Arizona para a terapia de câncer. Apenas na última sexta-feira, sua família informou que o senador gravemente doente havia interrompido seu tratamento.
"O progresso da doença e a implacabilidade do envelhecimento proferiram o seu veredicto", disseram os familiares. "Com a sua força de vontade habitual", ele decidiu abandonar a quimioterapia. Um dia depois, John McCain morreu aos 81 anos ao lado de sua família.
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