A Polícia Civil de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, concluiu, na noite de quarta-feira, 12, que Alexandra Dougokenski foi quem matou José Dougokenski, seu primeiro marido. Na época do crime, em 2007, o caso foi tratado como suicídio.
Alexandra já foi condenada em janeiro, a mais de 30 anos de prisão, pela morte do próprio filho, Rafael Winques, de 11 anos. As autoridades encontraram similaridades entres os crimes, como o mesmo nó que estava na corda, os horários e a mesma suspeita.
Na época do primeiro crime, a Polícia concluiu que o homem havia se matado e arquivou o caso. Em entrevista ao Terra, o delegado Ederson Bilhan afirmou que a reabertura do caso foi pedida pela família de José, e em janeiro deste ano chegou à delegacia para uma nova investigação.
A suspeita surgiu a partir dos desdobramentos da morte do filho da condenada. Conforme explicou, a polícia traçou as seguintes evidências para poder concluir o caso:
• Indícios periciais;
• Indícios testemunhais;
• Similaridade entre as duas mortes;
• Inconsistência do depoimento de Alexandra.
"A gente ouviu três testemunhas e todas elas indicam que ela estava fria durante o velório [do primeiro marido], um certo descaso. Depois, as perícias que a gente fez este ano apontam que o local onde o corpo foi localizado é incompatível com o local onde ele se enforcou. Outra incompatibilidade técnica é que a marca da corda do pescoço estava incompatível com o suicídio na forma como a suspeita relatou", informou Bilhan.
Além disso, segundo o delegado, a corda de nylon usada no crime que vitimou o filho é similar àquela encontrada no caso de José. "Isso associado também ao mesmo nó [das cordas], o mesmo horário [de ambos os crimes], e mesma pessoa", reforçou.
Uma vez que o homicídio foi solucionado apenas 17 anos depois, Alexandra não poderá responder por ele, pois já prescreveu. A autoridade policial esclarece que, de acordo com o código penal, a prescrição do crime de homicídio é de 20 anos, para autores com idade a partir de 21 anos. Como ela tinha 19 anos na época dos fatos, a prescrição cai à metade, isto é, dez anos.
"Está prescrito desde 2017, logo, ela não vai ser punida por isso. [...] A nossa ideia foi de tentar esclarecer o fato. Importante realçar que ninguém teve culpa por essa demora, porque na época não se tinha as informações que nós temos agora", concluiu Bilhan.
O advogado de Alexandra, Jean Severo, afirmou que sua cliente nega "completamente" o crime.
"Ela nega completamente essa acusação. O crime está prescrito, mas, de qualquer sorte, ela nega que tenha qualquer envolvimento com a morte dele", declarou.
Relembre o caso Rafael
De acordo com a denúncia, Rafael foi morto entre a noite de 14 de maio de 2020 e a madrugada do dia 15 daquele ano. A mãe estaria inconformada com o fato de o menino estar desobedecendo às suas ordens e brincando no celular até tarde.
Alexandra, então, deu para a criança duas doses de Diazepam e, com o menino ainda desacordado, o estrangulou com uma corda de varal. Em seguida, ela transportou o corpo até o terreno vizinho, depositando-o dentro de uma caixa.
O desaparecimento de Rafael comoveu a comunidade, que auxiliou nas buscas. Nesse período, alguns suspeitos, como o próprio pai do menino e o namorado, dela foram investigados.
Dez dias depois, Alexandra apontou aos policiais o local onde estaria o corpo. Inicialmente, ela disse que matou o menino sem querer. Depois, em novo interrogatório, assumiu o dolo.
Já a defesa dela sustentou que Rodrigo Winques, pai de Rafael, era o autor do crime. No interrogatório, ela disse que o ex-companheiro e um comparsa foram até a casa dela, naquela madrugada, com o objetivo de levar o menino embora.
Diante disso, Rafael teria se debatido e Rodrigo o segurou e amarrou com uma corda, asfixiando a criança. A mãe teria sido obrigada a acompanhar a dupla até o terreno ao lado da casa dela, onde o corpo foi colocado. Alexandra também acusou o pai de Rafael de cometer violência doméstica e sexual contra ela, enquanto viviam juntos, e de ser um pai ausente.
Em janeiro deste ano, ela foi condenada a 30 anos e 2 meses de reclusão e 6 meses de detenção pela morte do filho. Segundo informado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, após três dias de trabalhos, o Conselho de Sentença acolheu a tese da acusação, considerando a ré culpada pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.