O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou nesta quinta-feira a indicação do PT para ser pré-candidato à Presidência da República pelo partido e, um dia após ter confirmada uma condenação em segunda instância, acusou os desembargadores da 8a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região de formarem um "cartel".
Em discurso durante reunião aberta da Executiva Nacional do partido na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, Lula disse que não quer ser candidato apenas para disputar ou para se proteger judicialmente, mas para vencer as eleições e governar o Brasil.
"Eu aceito a indicação de pré-candidato pelo Partido dos Trabalhadores", disse Lula durante o encontro, provocando gritos de "ole ole ole ole olá, Lula Lula" da plateia presente na sede nacional da CUT.
"Dom Pedro criou o Dia do Fico. Eu estou criando o Dia do Aceito", acrescentou o petista.
Assim como na véspera, Lula atacou a decisão que manteve sua condenação por corrupção e lavagem de dinheiro e acusou os desembargadores da 8a Turma de formarem um "cartel" por terem votado de forma unânime para manter a decisão da primeira instância. A falta de divergência reduz as opções da defesa do ex-presidente, que não poderá lançar mão de recursos chamados de embargos infringentes.
Os embargos infringentes são cabíveis quando não há decisão unânime e podem alterar o resultado de mérito do julgamento. Além disso, eles demoram mais tempo para serem analisados do que os embargos de declaração, único recurso que restou à defesa de Lula dentro do TRF-4.
"Eu não tenho nenhuma razão para respeitar a decisão (da 8a Turma do TRF-4) de ontem", disse Lula.
"Nós vamos recorrer daquilo que for possível recorrer. Vamos batalhar até o final", prometeu Lula, ao alertar os petistas que sua candidatura não pode depender apenas dele, e que tem de ser abraçada pela militância da legenda mesmo que aconteça "algo indesejável".
A declaração foi uma referência velada à possibilidade de Lula ser preso após a conclusão da análise dos recursos no TRF-4.
Antes do discurso de Lula, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman (PR), anunciou que o partido o lançaria mais uma vez ao Planalto e foi ovacionada quando colocou a indicação em votação entre os presentes.
"Lula é o nosso candidato. Eleição sem Lula não existe", disse Gleisi, que afirmou ainda, mais de uma vez, que não existe Plano B dentro do PT caso Lula se torne inelegível por conta da condenação na véspera no TRF-4.
Pela Lei da Ficha Limpa, condenados em segunda instância tornam-se inelegíveis, embora Lula e sua defesa tenham recursos à disposição para buscar a candidatura.
"Não vão enxertar a discussão de Plano B no nosso partido", disse Gleisi, que acusou a imprensa de levantar a tese de Plano B para enfraquecer Lula e o PT.
"Primeiro, nós não temos Plano B. Segundo, Lula é o nosso candidato à Presidência em 2018", garantiu.
Rebelião cidadã
A reunião da Executiva petista foi cercada de críticas à decisão do TRF-4 e lideranças do partido defenderam a mobilização por meio de manifestações de rua para assegurar a candidatura de Lula.
Líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que a candidatura do petista não será conquistada com liminares, embora tenha defendido que os advogados "façam seu trabalho", mas sim com "rebelião cidadã".
"Em um momento desse, para enfrentar o golpe, tem que ter enfrentamento social, tem que ter rebelião cidadã", disse Lindbergh. "Pra prender o Lula, vocês vão ter que prender milhões de brasileiros", acrescentou.
Também presentes no encontro, integrantes de movimentos sociais subiram o tom ao defenderam manifestações de rua em defesa de Lula.
Líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, João Pedro Stédile mandou um recado: integrantes do MST lutarão para impedir uma eventual prisão de Lula.
"Aqui vai um recado ao seu Poder Judiciário e à dona Polícia Federal: nós dos movimentos sociais não vamos aceitar e vamos impedir de toda a forma a prisão de Lula", disse Stédile.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, também aproveitou para mandar um recado aos empresários que ele acusou de terem "financiado o golpe".
"Nós vamos fazer greve nos bancos de vocês. Nós vamos fazer greve nas fábricas de vocês. Vamos fazer greves no agronegócio", disse, prometendo ainda a "maior greve geral da nossa história" se a Câmara dos Deputados "ousar" colocar em votação a reforma da Previdência no dia 19 de fevereiro.
Figuras proeminentes do PT, como o líder da minoria no Senado, Humberto Costa (PT-PE), e o governador do Acre, Tião Viana, defenderam ainda uma "desobediência civil" para garantir a candidatura de Lula e uma intensa mobilização de apoiadores do ex-presidente nas ruas.
Também houve discursos mais moderados, como o do governador da Bahia, Rui Costa, que defendeu que os petistas não aceitem o ódio e apontou a necessidade de unificar o país, apontando Lula como único capaz de cumprir esta tarefa.