Cerimônia militar em Caracas é interrompida após explosão. Governo classifica incidente como uma tentativa de assassinar o presidente, mas há perguntas em aberto.Uma explosão interrompeu neste sábado (05/08) uma cerimônia militar comandada por Nicolás Maduro em Caracas, no que o governo classificou como uma tentativa de atentado usando drones contra o presidente venezuelano.
As imagens da TV pública, que transmitia ao vivo o evento, mostram o momento em que a primeira-dama, ao lado de Maduro num palanque, se assusta com um barulho e olha para o alto. O presidente e os militares ao seu lado repetem o gesto, e a imagem é cortada.
Segundos depois, imagens abertas mostram uma avenida com militares e apoiadores de Maduro em posição. Ouve-se som de tiros, e a multidão dispara em correria. Em nenhum momento é possível ver os drones nesta sequência. Fotos mostram guarda-costas correndo para proteger Maduro.
O Ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, disse que foram usados "vários artefatos voadores", detonados perto do palanque onde falava Maduro. O drone não o atingiu, mas não está claro ainda se ele foi derrubado ou detonado prematuramente.
"Uma investigação claramente revelou que as explosões saíram de um artefato tipo drone que carregava explosivos", disse o ministro.
Um grupo autointitulado "soldados de flanela" reivindicou a autoria do que chamou de "Operação Fênix", nome com o qual identificaram o ataque contra Maduro.
"A operação era sobrevoar com dois drones carregados com C4, e o alvo era o palco presidencial. Francoatiradores da guarda de honra derrubaram os drones", diz no Twitter o grupo, cujos membros se identificam como "militares e civis patriotas leais ao povo venezuelano".
A Frente Ampla Venezuela Livre, uma aliança opositora, questionou o "confuso evento" em Caracas e pôs em dúvida se o ocorrido realmente foi um atentado. Os opositores dizem temer que um episódio mal explicado possa ser usado como desculpa para que o governo acentue a repressão. Bombeiros citados pela agência de notícia AP disseram que o barulho foi gerado, na verdade, por uma explosão de gás nos arredores.
O governo venezuelano com frequência acusa a oposição e ativistas antichavismo - a quem se refere com palavras como terroristas e extrema direita - de conspirar para derrubá-lo e arquitetar atentados contra o presidente, que é impopular, mas foi reeleito numa eleição rejeitada por grande parte da comunidade internacional.
A Venezuela passa há meses por uma profunda crise, que levou centenas de milhares de pessoas a deixar o país. Analistas afirmam que a crise está associada à queda dos preços internacionais do petróleo, mas também a uma política econômica desastrada dos governos chavistas.
A queda da produção interna, as restrições cambiais, a escassez de produtos alimentares básicos e de medicamentos, os rendimentos familiares insuficientes, bem como a hiperinflação - que, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional, será de 1 milhão por centro em 2018 - evidenciam a situação do país.
A escassez de produtos básicos gerou denúncias de crise humanitária, e muitos venezuelanos dependem de uma bolsa com alguns produtos básicos que o governo distribui periodicamente a preços subsidiados.
Maduro não nega que haja uma crise econômica, mas a atribui à queda do preço do petróleo, às sanções econômicas dos Estados Unidos, à falta de crédito no mercado internacional e ao "boicote" das "máfias de empresários" e governos vizinhos à sua administração.
Neste sábado, após o incidente, Maduro afirmou que o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, está por trás do atentado contra si e afirmou que já foram capturados alguns dos autores materiais.
"Esclarecemos a situação em tempo recorde, e se trata de um atentado para me matar, tentaram me assassinar e não tenho dúvida de que tudo aponta para a direita, a extrema direita venezuelana em aliança com a extrema direita colombiana e que o nome de Juan Manuel Santos está por trás deste atentado, não tenho dúvidas", bradou Maduro.
O governo em Bogotá rejeitou veementemente a acusação.
RPR/ap/efe/ots
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