Um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), o deputado estadual Artur do Val (Patriota), mais conhecido como Mamãe Falei, afirma que dois colegas da Assembleia Legislativa usaram a estrutura da Casa para produzir e disseminar fake news contra ele. Segundo o parlamentar, Gil Diniz (PSL) e Douglas Garcia (PSL), ambos bolsonaristas, dispõem de assessores para operar, em horário de expediente, uma engrenagem de difamação nas redes sociais.
Do Val disse nesta quarta, 10, que a estratégia consiste em protocolar uma denúncia anônima no Ministério Público Estadual contra um inimigo político e depois espalhar a "notícia" em blogs de aliados do presidente Jair Bolsonaro. "Recebemos na semana passada uma notícia crime do MP dizendo que fizemos rachadinha. Qualquer pessoa pode fazer uma notícia crime sobre qualquer assunto. Pouco tempo depois, um site bolsonarista chamado Estudos Nacionais estampou isso. Fomos ver os metadados e a pessoa não tinha tirado o nome do arquivo: Bruno André Ferreira Costa de Jesus, que é assessor do Gil Diniz", afirmou o deputado ligado ao MBL.
A partir do link gerado na plataforma bolsonarista, outros blogs de seguidores do presidente compartilharam o notícia. Artur do Val diz que vai denunciar o colega por denúncia caluniosa e fake news eleitoral, mas ainda não decidiu se acionará também o Conselho de Ética da Assembleia.
O embate entre bolsonaristas e representantes do MBL chegou ao Palácio da Alvorada na manhã desta quarta, quando uma integrante do grupo questionou publicamente o presidente Jair Bolsonaro sobre sua postura diante das mais de 38 mil mortes provocadas pela covid-19 no País. Irritado, o presidente expulsou a militante e disse que ela deveria fazer o mesmo questionamento ao governador de seu Estado. Cristiane Bernart é paulista e trabalha como assessora de outro político do MBL, o vereador por São Paulo Fernando Holiday (Patriota).
'Gabinete do ódio'
No último dia 2, o Ministério Público de São Paulo instaurou inquérito civil contra o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) para investigar suposto gabinete do ódio na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Garcia teria permitido que seu chefe de gabinete, Edson Pires Salomão, utilizasse equipamento público da Alesp para atacar ministros do Supremo Tribunal Federal e adversário políticos, como a deputada Joice Hasselmann.
O inquérito que investiga suposta prática de atos de improbidade administrativa se deu após representação encaminhada pelo deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP). Segundo o inquérito, consta na representação que Salomão gravou vídeos e realizou diversas postagens no interior do gabinete do deputado com recursos públicos e durante o horário de expediente.
Ainda de acordo com o documento, "tais agentes públicos, supostamente líderes de 'milícia digital', teriam agido em prol de associação civil, como dirigentes do Movimento Conservador, adotando a estratégia de mobilização de ataques cibernéticos belicosos que violam a ordem democrática".
Salomão está entre os alvos de busca e apreensão da Polícia Federal, realizada após ordens judiciais expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news comandado pelo STF. Já Garcia está na lista dos deputados que o ministro do Supremo pretende ouvir. Ele é ligado ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. O MP-SP afirma que abriu inquérito diante da necessidade de melhor apuração do fatos.
Procurados, Garcia e Diniz não se manifestaram nesta quarta, 10. Na semana passada, Garcia afirmou ao Estadão que Salomão sempre trabalhou de forma regular enquanto chefe de gabinete, exercendo o direito de manifestação nas publicações em suas próprias redes sociais. "Nenhum computador da Assembleia Legislativa foi usado para atacar quem quer que seja, muito menos existe um robô operando no meu gabinete parlamentar ou então empresas contratadas por mim ou pelo meu mandato para atuar nesse sentido, isso é mentira", disse o parlamentar. Segundo ele, a denúncia trata-se de uma perseguição política daqueles que antes apoiavam o presidente Jair Bolsonaro.