Mandetta se reúne com DEM após 'flerte' da sigla a Bolsonaro

Ex-ministro da Saúde deixou governo após atritos com o presidente na condução da pandemia de covid-19

12 fev 2021 - 17h11
(atualizado às 17h23)

BRASÍLIA — O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta se reunirá nos próximos dias com o presidente do DEM, ACM Neto, para decidir se continua ou não na sigla. O encontro está marcado para a última semana de fevereiro.

O médico sul-mato-grossense se irritou com ACM Neto depois que o ex-prefeito de Salvador incluiu o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, entre as opções do partido para 2022.

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Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde demitido durante a pandemia
15/04/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde demitido durante a pandemia 15/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

"A base do partido virou uma geleia. 'Posso estar com Doria, Bolsonaro, Mandetta, Huck ou Ciro'. Daqui a pouco até Lula vai aparecer como cotado para receber o apoio", disse Mandetta no começo da semana.

Primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro, Mandetta deixou o governo em abril de 2020 depois de um mês de atritos com o presidente da República sobre como enfrentar a pandemia da covid-19.

Meses depois de deixar o ministério, o médico disse que o comportamento de Bolsonaro durante a pandemia contribuiu para elevar o número de mortes no país. Até agora, mais de 230 mil brasileiros foram vitimados pela doença, segundo dados oficiais.

"Nós ainda não confirmamos quando vai acontecer, mas já sinalizamos uma conversa. Sem ser essa semana, a partir da outra. Ainda sem local ou data, mas ainda este mês, para tratar sobre o presente e o futuro", disse ACM Neto ao Estadão.

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"É natural que aconteça esse papo aí nos próximos dias, ainda este mês. Mas não é uma reunião formal do partido. É um bate-papo dele comigo e algumas pessoas (do DEM)", afirmou o ex-prefeito de Salvador.

A reportagem apurou que devem estar presentes o ex-governador do Rio Grande do Norte José Agripino Maia e o ex-ministro da Educação Mendonça Filho, entre outros.

O Estadão questionou ACM Neto e Mendonça Filho sobre qual caminho deverá ser seguido por Mandetta, mas ambos evitaram comentar. A possibilidade de o ex-ministro deixar o DEM, acompanhando a provável saída do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), é debatida nos bastidores. No caminho inverso, uma outra hipótese em discussão é a da sigla lançar Mandetta como pré-candidato à presidência da República.

Maia e Mandetta reclamaram publicamente da aproximação do DEM com o governo Bolsonaro durante a eleição para a presidência da Câmara, quando o partido abandonou a aliança de Baleia Rossi (MDB-SP), favorecendo o candidato do Palácio do Planalto, Arthur Lira (Progressistas-AL).

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Depois de deixar o cargo de ministro, Mandetta passou a ver seu nome incluído em pesquisas de intenção de voto para 2022. No fim de janeiro, pesquisa Atlas mostrou o médico com 3,4% das intenções de voto, porcentual próximo daquele obtido pelo governador tucano de São Paulo, João Doria (3,6%), e maior que o apresentador Luciano Huck (1,9%).

Bancada do DEM não tem disposição de seguir Maia, diz ACM Neto

O ex-prefeito de Salvador também comentou o levantamento do Estadão com a bancada do DEM na Câmara. A reportagem mostrou que dos 22 deputados que responderam às perguntas, só dois - Alexandre Leite (SP) e Kim Kataguiri (SP) - descartaram apoiar Bolsonaro em 2022. Um discurso que contraria o que Neto teria dito a Doria nesta semana, quando garantiu ao tucano que o DEM não estará com o atual ocupante do Planalto na próxima disputa presidencial.

"Nós não abrimos a discussão de 2022 ainda, portanto, não é possível fazer especulação", disse Neto. "Por outro lado, a enquete também reforça que (...) a bancada não tem disposição de seguir Rodrigo Maia, e isso foi claro na enquete. Que não há processo de debandada do partido", acrescentou.

O movimento do DEM a favor de Lira ocorreu após o governo distribuir recursos e cargos para que deputados apoiassem seus candidatos ao comando do Congresso. O Estadão revelou que apenas do Ministério do Desenvolvimento Social foram repassados R$ 3 bilhões e que a maioria dos deputados do partido abandonou Maia e passou a apoiar o candidato de Bolsonaro e líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), depois disso.

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