Manifestantes convocados em diversas capitais marcaram presença nesta quinta-feira em atos contra o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e para defender o sistema eleitoral brasileiro diante dos constantes ataques feitos pelo chefe do Executivo, unindo forças a ato realizado mais cedo por entidades, juristas, empresários e sindicatos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Parte de uma estratégia de retomada da mobilização popular, e inseridos na campanha "Fora Bolsonaro", os atos ao longo do dia foram convocados na intenção de promover um "esquenta" para manifestações maiores previstas para 10 de setembro, após o feriado do Dia da Independência, data em que Bolsonaro pretende levar seus apoiadores às ruas.
"A gente está aqui contra o Bolsonaro, contra as ameaças de golpe que ele vem dando e por conta dos cortes na educação que ele está fazendo de forma constante", disse à Reuters o estudante Vinícius Sotero durante manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo.
Ainda que em clima de preparação para setembro, os atos desta quinta organizados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Central de Movimentos Populares (CMP), além de universidades, movimentos sociais e estudantis, dão uma amostra e podem servir de impulso à mobilização pela candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto contra Bolsonaro, mas tem visto sua confortável vantagem se reduzir nos levantamentos mais recentes.
Sob o mote defesa da democracia e por eleições livres, as manifestações incluíram também pautas como a situação social do país, o desemprego, a inflação e o aumento da fome, além da falta de investimentos na educação.
Em São Paulo, milhares de manifestantes reuniram-se na Avenida Paulista com bandeiras de entidades estudantis, partidos políticos e faixas. Imagens da Reuters TV mostram estudantes gritando em coro: "Tira a tesoura da mão e investe na educação".
Mais cedo, no Rio de Janeiro, manifestantes portando faixas onde se lia "Fora Bolsonaro" gritavam palavras de ordem como "Não vai ter golpe, vai ter Lula" e "Ditadura nunca mais".
"Hoje a gente está presente na Candelária para defender a nossa democracia. A nossa democracia, que tem sido ameaçada por esse fascista repugnante que está no poder no Brasil. A gente está aqui para pedir eleições livres, para pedir educação, para pedir melhoria para no nosso povo que o nosso povo não pode morrer de fome e tem que ter o direito de votar", disse Pedro Lucas Fernandes, da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro.
Em Brasília, organizações sindicais e estudantis mobilizaram algumas centenas de pessoas, que marcharam pela Esplanada dos Ministérios, segundo reportagens locais.
O engajamento das entidades estudantis aproveitou não apenas os manifestos lidos na Faculdade de Direito em São Paulo mais cedo, mas também aproveitaram o fato de se comemorar o dia do estudante em 11 de agosto.
Na manhã desta quinta, diante da escalada retórica de Bolsonaro contra a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro, entidades, juristas, artistas e até mesmo banqueiros e empresários decidiram se posicionar. Foram lidas duas cartas em defesa da democracia, das eleições e do sistema eleitoral.
A primeira delas, endossada por mais de cem entidades, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) -- ainda que apoiada apenas por 18 de seus mais de 100 filiados -- a Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, e a Anistia Internacional, entre outros; e uma segunda, a "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito", endossado por juristas, artistas, banqueiros, empresários e alguns candidatos à Presidência da República.
Bolsonaro, que não assinou o documento, que chama de "cartinha", evitou mencionar o movimento, mas publicou post irônico ao escrever que "hoje aconteceu um ato muito importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro", para em seguida afirmar que se tratava da redução do preço do diesel pela Petrobras.