MDB e Rodrigo Maia ensaiam alianças para 2020

Movimento é articulado por Baleia Rossi, que assume comando do partido neste domingo

5 out 2019 - 05h11
(atualizado às 09h39)

BRASÍLIA - Após perder relevância nas eleições do ano passado, o MDB faz agora um movimento de bastidores para se reerguer, em dobradinha com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na tentativa de construir uma estratégia conjunta para as principais disputas municipais de 2020 e uma candidatura única à sucessão do presidente Jair Bolsonaro, em 2022. A articulação é conduzida pelo deputado Baleia Rossi (SP), que assumirá a presidência do MDB na convenção nacional do partido, a ser realizada amanhã, em Brasília.

Sob o slogan da "Renovação Democrática", o encontro foi planejado para mostrar unidade, apesar de divisões internas, e jogar luz sobre uma nova geração de herdeiros políticos, com a "aposentadoria" dos velhos caciques alvejados pela Lava Jato, como o ex-presidente Michel Temer e o ex-senador Romero Jucá (RR). Sem conseguir a reeleição, Jucá passará o comando do MDB para o líder do partido na Câmara e assumirá uma cadeira de "vogal" na Executiva. Na prática, a convenção representa o primeiro passo para o MDB costurar alianças eleitorais e adotar um discurso crítico em relação ao governo Bolsonaro, embora o ministro Osmar Terra (Cidadania) seja filiado à legenda.

Publicidade

Um grupo de centro-direita composto por PSDB, DEM, MDB e PSD já discute, por exemplo, a atuação de uma frente de partidos para isolar o PSL de Bolsonaro. O MDB deve apoiar a campanha à reeleição do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), no ano que vem. A discussão passa ainda, por um acordo com o governador João Doria (PSDB), que se prepara para concorrer ao Palácio do Planalto, em 2022, e pode ter Maia como vice da chapa.

Baleia e Maia jogam juntos na análise desse cenário, que também vai depender do "fator Luciano Huck". Embora ainda indeciso sobre a entrada na corrida presidencial, o apresentador de TV já assumiu papel de contraponto a Bolsonaro, mantém conversas com o Cidadania de Roberto Freire (ex-PPS) e com grupos de renovação política surgidos na esteira do impeachment de Dilma Rousseff (PT), e desperta a atenção de outros partidos de centro, como o próprio MDB.

Autor da proposta de reforma tributária - pauta que apresentou a pedido do presidente da Câmara -, Baleia vem ganhando protagonismo no Congresso. Aos 47 anos, ele será o mais jovem presidente do partido e promete comandá-lo sem adesismos automáticos aos governos de plantão.

"O MDB precisa se reinventar e se reconectar às suas bases. A nossa gestão não vai ser de caciques e as decisões não serão tomadas de cima para baixo", afirmou Baleia, que é filho de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura do governo Temer. "Nem o Michel conseguiu unificar o MDB como o Baleia conseguiu desta vez", disse Maia, que ontem ofereceu um jantar em sua casa para deputados e senadores do partido.

Publicidade

Fisiologismo

Criado como oposição à ditadura militar, o antigo PMDB acabou se transformando, ao longo dos anos, no parceiro fisiológico do poder - conhecido pelo apetite por cargos - até a derrocada nas urnas, no ano passado. Na gestão de Jucá, a sigla tirou o "P" do nome e voltou a se chamar MDB, em um movimento de volta às origens, mas não adiantou.

A bancada de deputados federais encolheu de 66 eleitos em 2014 para 34 em 2018, e o candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles, amargou o sétimo lugar na disputa, com 1,2% dos votos. Meirelles é hoje secretário da Fazenda do governo Doria. Na ocasião, o seu fraco desempenho foi atribuído à impopularidade de Temer, de quem ele foi ministro da Fazenda.

O discurso da renovação, no entanto, não vai impedir que Baleia faça uma deferência a Temer, que se licenciou da presidência do MDB em 2016 para assumir o Planalto, após o impeachment de Dilma. "A reforma trabalhista nasceu no governo dele", argumentou o deputado.

Temer e o ex-ministro Moreira Franco chegaram a ser presos, neste ano. "Toda vez que o limite da Constituição ou da lei é ultrapassado verifica-se o abuso de autoridade", disse o ex-presidente, que foi alvo de denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Publicidade

Nos últimos dias, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, que continua preso, e o ex-presidente da Assembleia Legislativa Jorge Picciani - hoje em prisão domiciliar - pediram desfiliação do MDB. A ala jovem quer a expulsão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso há três anos, mas Baleia diz que o partido "não é um tribunal".

Cinco perguntas para Baleia Rossi, líder do MDB na Câmara dos Deputados

1. O sr. terá dois anos de mandato à frente do MDB, que encolheu nas urnas. Qual é o principal desafio do partido?

É se reconectar com sua militância. Apesar de ter tido dificuldade na eleição do ano passado, como os outros, o MDB ainda é o maior partido do Brasil. Agora, precisamos redefinir nossas bandeiras, com um olhar voltado para as eleições de 2020. Vamos defender um programa voltado para a geração de empregos.

2. Por que o MDB não pune os filiados que se envolveram com corrupção?

O MDB não é um tribunal para julgar as pessoas.

3. É uma renovação sem caça às bruxas?

Estamos agora fazendo a valorização de quem tem voto. Vamos dar assento na Executiva Nacional aos nossos três governadores - Renan Filho (Alagoas), Hélder Barbalho (Pará) e Ibaneis Rocha (Distrito Federal) - e aos quatro prefeitos de capitais (Goiânia, Cuiabá, Natal e Boa Vista). É a votocracia.

Publicidade

4. O ex-governador do Rio Grande do Sul Pedro Simon disse que, se o MDB continuar como está, corre o risco de desaparecer. Como o sr. responde?

Respeito muito Pedro Simon, mas conseguimos unificar o partido. Tanto que o 1.º secretário da Executiva será o deputado estadual Gabriel Souza (RS). O MDB é um partido de centro e vamos reforçar isso.

5. O sr. está trabalhando para ser o sucessor de Rodrigo Maia na presidência da Câmara?

Nem pensar. Jesus amado...

Veja também

As crianças prostituídas em um dos maiores bordéis do mundo
Video Player
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações