No primeiro dia de trabalho, novo presidente da Argentina derrubou decreto que proibia nepotismo para poder incluir irmã no governo. Ministérios passaram de 18 para 9.A Argentina amanheceu nesta segunda-feira (11/12) na expectativa das primeiras medidas econômicas práticas do novo presidente, Javier Milei, que tomou posse no domingo.
O principal questionamento é se o populista de direita vai seguir com a retórica extremista, de uma mudança radical, ou se irá baixar o tom da campanha e fazer mais concessões. Duas de suas primeiras ações já causaram polêmica: a nomeação da irmã como secretária-geral da Presidência e a eliminação de metade dos ministérios.
Logo no primeiro dia de trabalho, Milei convocou seus novos ministros para uma reunião de gabinete na Casa Rosada. O novo chefe de Estado cumpriu a promessa eleitoral de reduzir os ministérios, em linha com a redução dos gastos públicos. E o corte foi pela metade: das 18 pastas do governo de Alberto Fernández para apenas nove.
Os ministros que compõem seu gabinete são: Luis Caputo (Economia), Guillermo Ferraro (Infraestrutura), Mariano Cúneo Libarona (Justiça), Sandra Pettovello (Capital Humano), Luis Petri (Defesa), Diana Mondino (Chancelaria), Gullermo Francos (Interior), Mario Russo (Saúde), além de Patricia Bullrich (Segurança). Esta última havia ficado em terceiro lugar no primeiro turno das eleições argentinas e apoiou Milei no segundo turno - e apostava justamente na Segurança suas fichas durante a corrida eleitoral. Uma das peças de campanha de Bullrich prometia a construção de um novo superpresídio para corruptos no país que seria batizado como "Unidade penal Dr. Cristina Fernández de Kirchner".
Mas Bullrich é apenas um exemplo da tentativa de Milei de construir pontes com outras forças políticas para encontrar aliados para a sua coligação, que não tem maioria nem na Câmara, nem no Senado.
Por essa razão, tem lugar no novo gabinete uma variedade de figuras: libertários, peronistas, seguidores do ex-presidente Maurício Macri e da União Cívica Radical (UCR).
Outro ato de Milei que estampou as manchetes argentinas foi a revogação de um decreto emitido em 2018 por Macri, que proibia o nepotismo. Milei derrubou a regra para poder nomear a irmã, Karina Milei, como secretária-geral da Presidência.
Karina, principal conselheira do novo presidente e a quem ele chama de "O Chefe", também acumulará o cargo de primeira-dama da Argentina.
Todos os olhos na Economia
Polêmicas à parte, todos os olhos da Argentina se voltam à pasta da Economia e o que será feito para recuperar um país que chegará a 250% de inflação até o fim do ano e que conta com 40% da população vivendo na pobreza.
Já nesta terça-feira, segundo antecipou novo o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, o ministro da Economia, Luis Caputo, anunciará as primeiras medidas econômicas do governo Milei.
"Ele [Caputo] estará alinhado com um forte corte fiscal, alguma expansão dos gastos sociais e uma remoção de privilégios que o presidente Milei ordenou que fossem realizados com urgência", disse o porta-voz.
Adorni afirmou que a forte crise econômica na qual a Argentina está mergulhada tem um caráter "histórico e recorrente".
"De vez em quando, entramos em uma crise hiperinflacionária e em uma crise da dívida. Quando você gasta mais do que tem, isso leva a emissões [de moeda], que levam à inflação, e é isso que temos agora", disse.
Adorni também adiantou que o governo argentino revisará todas as contratações da administração pública e a situação dos trabalhadores do Estado.
"Vamos revisar todos e cada um dos contratos, em virtude de se encontrar admissões irregulares em cada um dos contratos em vigor nos ministérios e nas universidades", disse em sua segunda reunião do dia com a imprensa.
Logo depois, porém, ele tentou acalmar os temores dos funcionários públicos sobre possíveis demissões em massa.
"O funcionário público deve ser valorizado. A maioria das pessoas que trabalham no Estado é válida e necessária. O que nós vamos combater é o emprego militante. O emprego que existe por razões políticas e que não contribui em nada", disse.
O setor público na Argentina é responsável por mais de 18% do total de empregos, uma das porcentagens mais altas da América Latina, com cerca de 3,4 milhões de pessoas trabalhando no serviço público.
"Gastar mais do que temos acabou, 'não há dinheiro' não é uma frase de efeito, o equilíbrio fiscal será estritamente respeitado", declarou Adorni.
Ajuste fiscal
Ao discursar no domingo durante a cerimônia de posse, Milei prometeu um ajuste fiscal da ordem de 5% do PIB, a ser custeado "quase inteiramente" pelo setor público, bem como o fim da emissão monetária. O "Estado presente" de que falam os políticos é, para o líder argentino, um pretexto "para justificar o aumento descomunal do gasto público que só os beneficia".
Segundo ele, o "plano de choque" deve impactar negativamente o nível de atividade econômica, o emprego, os salários reais e os índices de pobreza, mas é necessário diante da situação "crítica e de emergência" da Argentina.
"Infelizmente, tenho que repetir: não há dinheiro. A conclusão é que não há alternativa ao ajuste e não há alternativa ao choque."
Milei também destacou que a estagflação - condição que combina crescimento econômico estagnado e altas taxas de desemprego e inflação - "será o último golpe" antes da "reconstrução da Argentina".
le (AFP, EFE)